O luto é uma estrada. Seu trajeto começa no dia em que perdemos alguém importante em nossas vidas. Não há uma medida de tempo exata para percorrer esse caminho vez que ele é um processo pessoal, interno e existencial. Normalmente ele é repleto de simbolismos e PRECISA ser vivido rumo à uma reconstrução, e talvez, a uma redenção. A sublimação do luto a fim de se evitar suas consequências emocionais é sempre trágica, pois em algum momento pular tal etapa gerará um enorme problema existencial. É como a fatura do cartão que certamente chegará um dia.
Há uma morte para haver um renascimento sem alguém. Sem uma mãe. Sem um pai. Sem um filho. Sem um amor. Sem uma alma. Há, a partir do início da estrada, um novo caminho que jamais será vivido com aquela pessoa que morreu. A conscientização dessa perda e dessa nova realidade é permeada pela dor e, sobretudo, pelo silêncio. Você não ouvirá mais a voz de quem amava, não será mais ouvido por quem você amava e não será mais visto por quem você amava. E esse é o processo. Esse é o trajeto a ser percorrido.
Quando amamos alguém, seu olhar e cuidado conosco afirma nosso valor e produz a sensação de que somos relevantes, nos fazendo nos sentir atraentes, nos condicionando a preservar um vínculo de carinho. Tal observação e efeito do afeto que nos é atribuído por quem amamos, cria um laço muito duro de ser rompido quando o outro se vai, quando morre, literalmente ou simbolicamente. E isso ocorre porque ao longo do tempo também somos definidos por tal convivência e amor. Por isso a perda desse referencial causa tanto sofrimento.
A história toda parece triste e interminável, porém após o luto há inevitavelmente a renovação e você acaba por se tornar alguém diferente em sua forma reconstruída. A ausência sentida então é transformada em um sentimento novo, de uma outra potência que irá produzir e acumular jovens memórias e construir outros laços.
Aquele sofrimento então se transformará em outra coisa totalmente distinta vez que não será a soma de duas visões (a sua e a do outro), mas apenas uma muito mais completa. A própria visão de si mesmo. E novos olhares serão lançados e novos valores atribuídos, mas jamais por quem morreu. Aquelas memórias não se apagarão, mas você mudará a relevância que tais percepções tinham sobre você.
E então, quando você menos esperar, o processo se encerra ou se torna absolutamente suportável. Não há prazo para isso acontecer. Não há certezas. Há apenas o trajeto. E depois há apenas renovação. Há poesia nisso tudo. E há sobretudo, o condão da humanidade nos ensinando que na vida tudo é transitório e finito.
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