Não sei se ainda há alguém que dispute o fato de que Hollywood vive uma verdadeira decadência em suas produções, uma verdadeira miséria intelectual, criativa e cinematográfica, onde nem mais o apelo a batidos e repetitivos filmes de super-heróis consegue sustentar seu antigo glamour e atratividade.
A politização e o desvio do real intento dos filmes, no sentido de se produzirem boas e relevantes películas, em que pese o evidente fito de lucro, acabou por derrubar a qualidade e interesse pelas produções hollywwodianas. Boa parte das pessoas parece que cansou dos recados politicamente corretos, da pagação de pedágio, da sinalização de virtude, dos escândalos sexuais, da hipocrisia de atores e atrizes em suas bolhas narcisísticas e alienadas da realidade cotidiana.
A internet tem trazido bem mais acesso ao mundo não tão bonito por trás das câmeras e mesmo o Oscar, antigo representante de toda aquela opulência e riqueza, caiu vertinosamente em audiência e valor. Boa parte das pessoas não se interessa mais, e muitos sequer sabem quando ocorrerá. Praticamente ninguém mais aguarda a cerimônia com ansiedade e prazer como ocorria antigamente.
Concomitante a isso temos o fenômeno do streaming com seus estúdios e produções próprias, séries e mini-séries com enorme apelo atualmente. Com exceção de grandes lançamentos e produções muito esperadas, o pessoal tem mudado o hábito e optado por esperar “passar no streaming”. Claro, existe ainda o público fiel, resistente, e que quer bancar a ida ao cinema em um shopping próximo. Mas a possibilidade de se apertar um botão em casa, gastar menos e não se sujeitar à violência urbana ou qualquer outra preocupação, atrai muito. Com a idade isso parece quase inevitável.
Podemos colocar na conta também a evolução e barateamento das tvs e afins. Hoje se compra uma tv de excelente qualidade e com tela grande, por valores digamos, acessíveis. Quem é da época das tvs de tubo vai se lembrar de como ter uma boa tv de 29 polegadas era caro. Boa imagem e bom som deixaram de ser problema faz muito tempo.
A decadência do império de Hollywood é multifatorial, mas não podemos escapar de abordar a questão da queda de qualidade em boa parte das produções e principalmente da baixa capacidade criativa apresentada nos dias de hoje. Muito remake, muita cópia, muito requentamento de sucessos do passado. Ficou bem mais difícil encontrar algo original.
Me pergunto também se hoje ainda temos atores e atrizes do quilate de ícones do passado, vide a longevidade de gente como Tom Cruise e Bradd Pitt ainda fazendo papéis de ação. Sim, temos gente boa despontando, sendo relevante, alcançando o estrelato, como Emma Stone e Margot Robbie. Estariam no mesmo nível de antigas estrelas do auge de Hollywood? Talvez. Mas teriam o mesmo glamour? Acho que não. Os tempos são outros e Hollywood também.
A própria identificação do homem no cinema atual já não é mais a mesma. O homem estóico, impassível, que passa por cima de qualquer problema, vence a tudo e a todos e não chora, praticamente não existe mais. Houve um enfraquecimento dessa figura antes tão frequente e admirada no cinema americano.
Não sem uma boa pitada de melâncolia, me recordo de minhas idas às locadoras, hábito que desenvolvi ainda muito jovem, a fim de, ávido, escolher dois ou três filmes para o fim de semana. E isso bastava. Videocassete (tinha que reboninar a fita para devolver, lembram?) algo para comer, com sorte boa companhia e estava bom. Sim, porque os filmes legais eram feitos em profusão. Antes do CGI, antes dos espalhafatosos efeitos especiais, a história era o mais importante. E querem saber? Continua sendo, mas tem gente que não percebe. Nada sustenta uma história ruim, um texto raso, um roteiro pedestre.
Não tenho ilusões porque não existe máquina do tempo. Hollywood continuará a perder relevância e os grandes filmes se tornarão cada vez mais raros. As redes sociais, os gigantescos influencers, as sub celebridades passaram a dividir a atenção com os ícones nas telonas. O mundo se transformou e com ele toda a indústria cinematográfica.
Mas ainda nos resta rever os clássicos, debater a relevância e a influência de um cinema que moldou e marcou gerações, contar a quem chega como as coisas eram na Era de Ouro californiana. Sim, as memórias serão cada vez mais importantes para quem conheceu um cinema que não existe mais. É algum consolo, não? Pois deveria.
Commentaires