Vivemos tempos onde basta abrir algum portal de notícias qualquer que somos imediatamente bombardeados por tragédias, doenças e infelicidades de toda a sorte. Isso sempre vendeu, não há dúvida. Apenas ficou mais frequente e difícil de driblar.
Antigamente era comum ver pessoas se aglutinando em frente a bancas de revistas, ávidas para beber um pouco de sangue que caia de jornais de segunda categoria. Hoje isso não é mais necessário. Todos tem sua caixinha de desgraças bem na palma da mão. A fatia de morbidez que a maioria de nós possui nos leva quase que automaticamente a ler a matéria onde "especialistas" apresentam um "estudo" sobre quantas vidas a futura pandemia irá ceifar. Medo vende, senhores. E vende muito.
O problema é a série de tensões e mal estar que esse bombardeio de infortúnios causa em nossa psiquê. Nossos espíritos se enfraquecem face a inevitabilidade das supostas tribulações elencadas. E você acaba consumindo aquilo como um alimento podre que vai te revirar o estômago. Te estraga os dias, te deprime, te isola.
Por outro lado as redes sociais também promovem todo o tipo de escatologias e desnecessidades. Dancinhas sexualizadas e tolas, apetrechos que jamais usaremos, toleimas dignas dos maiores idiotas. Canais empurram asneiras incessantemente, abdicam da privacidade por likes e grana, misturam vida pessoal com pública. O que parece por vezes, é que quanto mais tosco o conteúdo, mais visualização ele dará, o que autoriza sumariamente o vale tudo virtual. A que ponto chegamos, amigos?
Me parece claro o convite pelo rasteiro e pelo fútil, mas compra quem quer. Está ali porque há mercado. Deixar de ler um bom livro para se ocupar com uma fofoca inútil de Internet, ou renunciar a um interessante filme para a alguma bobajada virtual, sempre consistirá em perda. Não estou aqui vilanizando o seu amado "guilty pleasure" porque há espaço para ele, apenas há que se perceber o que é prazer mesmo ou o que é vício e apego a aquilo que vai te catapultar a um conteúdo vagabundo e que nada acrescentará a sua vida. Você conseguiria ficar uma semana acessando o seu celular apenas para trabalho e nada mais?
Para ser sincero jamais entendi o interesse pela intimidade ou pela vida de pessoas. Sempre fui atrás das obras, do trabalho. Com o fenômeno da Internet o novo precisa vir a cada minuto, pois tudo ficou mais veloz e envelhece muito rápido. O que é notícia agora é pão requentado em algumas horas. Com isso é preciso fabricar manchetes, e vídeos e postagens tem que ser renovadas constantemente para atender uma demanda ansiosa, fútil e quase neurótica.
E assim vamos, acelerando o tempo, produzindo porcarias a granel, consumindo estultícias alheias como se fora um enorme fast food de copofragia. Banhos de Nutella, dancinhas sem sentido, desgraças em cachos recebem milhões de views enquanto aquele livro indispensável que poderia mudar sua vida, clama por ser aberto.
Os tempos são outros e tudo é devorado freneticamente como se não houvesse amanhã. A ironia que sempre me vem a mente quando me deparo com o andar da carruagem é que talvez chegue um dia onde não haverá. Pelo menos o amanhã como conhecemos. Seremos tragados por nossa ignorância e cuspidos renovados sem nossas conquistas. Civilidade, beleza e afeto.
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