Não me recordo de grandes demonstrações de beijos e abraços de meus pais. Via outros pais proporcionarem grandes entregas públicas de afeto e amor e demorei a entender o óbvio.
Mas meus pais amavam os filhos incondicionalmente, e percebi ainda jovem que se não davam o beijo é porque não o tinham para dar. Era apenas a repetição do comportamento que tiveram ao longo de suas vidas, onde meus avós falharam.
E eu ia pelo mesmo caminho, naturalmente. Mas após alguns anos de psicanálise, surpreendentemente isso mudou em mim e não sei bem explicar o porquê.
Em antigos namoros isso era uma reclamação frequente a qual nunca dei importância, mas depois que fiquei mais suscetível à demonstração física de afeto percebi a sua gigantesca importância em uma relação, que jamais será completa e contundente sem esse tipo de abrigo.
Passei a abraçar pais, amigos e namoradas com frequência, gerando um novo tipo de relação, muito mais natural e saudável.
Minha mãe nunca conseguiu superar os anos desprovidos dos afetos paternos e até o final resistia aos abraços do filho como se eles fossem algo desnecessário. Ela não tinha culpa alguma e foi uma mãe maravilhosa, daquelas que abdicava do último bife para os filhos, se precisasse.
Entendam que você pode ser parceiro, amar pra caramba, ser solidário quando preciso, mas NADA vai substituir a sensação de um ósculo aplicado no momento certo. Não existe nada parecido com um abraço gratuito e oportuno. Há pessoas que desenvolveram uma enorme resistência a qualquer iniciativa na direção do carinho físico e certamente há uma "patologiazinha" aí. Acredito inclusive que esse hábito ajuda a fomentar mais o próprio desejo sexual, visto que ele não deve ser despojado de afeto quando há amor e intimidade.
Vejam, pequenos atos fazem total diferença em uma relação. Se você chega da rua e sua parceira ou parceiro se levantam em sua direção para um carinho rotineiro mas genuíno, isso aquece o casal. A entrega de uma cerveja na hora do jogo para o marido, o deixar de um chocolate no colo da namorada, são manifestações simples de afeto que fazem a diferença porque lembram que o outro é amado. O toque, o beijo, o abraço na cama, isso tudo faz diferença e rompe de alguma forma a distância criada pelo tempo e pela rotina.
Destarte, abracem seus pais enquanto os tem, beijem seus parceiros sem motivo aparente, entreguem o afeto que existe dentro de vocês. Fará bem para o outro, mas principalmente para você mesmo.
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