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Foto do escritorHP Charles

A opção pelo que nos faz mal

Atualizado: 28 de nov. de 2023

Você já reparou que por vezes seguimos alguns padrões de escolhas e opções que sempre terminam com o mesmo resultado e ele não é o que desejávamos? Nos aproximamos de pessoas e até entregamos o melhor de nós para descobrirmos mais à frente que aquilo era um erro óbvio? Mas então por que não percebemos? Por que escolhemos a mesma estrada que antes havia nos conduzido à dores e traumas?


A primeira reação é sempre culpar o outro. É tirar de si o foco do erro repetido. Do querer ou gostar do que não se deve ou não se pode ter. De ter feito o que de alguma forma se sabia que não deveria ter sido feito. De comer o alimento que se tornará amargo em nossas bocas, o fruto proibido que nos catapultará ao abismo que sabíamos estar ali e mesmo assim foi desprezado.


Sim, muitas vezes nossas escolhas operam oriundas de nosso inconsciente, amparadas por acontecimentos em nosso passado, que aparentemente se encontram adormecidos. Mulheres que escolhem homens indisponíveis, ausentes, desleais, porque assim foram criadas por um pai com essas características. E então, o desprezo e o desinteresse que receberam se perpetua em suas escolhas de parceiros que jamais as recompensarão. Isso as atrai porque enxergam uma redenção em tal comportamento? No desejo secreto de transformar o vilão em mocinho e, com isso, superar o trauma paterno, pois ao "consertar" aquele homem, estariam fazendo o mesmo com o pai que tão mal as tratou. Evidente que isso não ocorrerá e, com o tempo, todos os homens serão culpados e jamais as escolhas feitas. "Se meu pai não me quis, por que alguém me quereria, não é mesmo?" Mas foi você que escolheu várias vezes o mesmo cara com faces diferentes. É confortador dizer que o outro não presta. Mas também é fácil e covarde se alienar de seus próprios erros.


E assim o ciclo se mantém. E a roda vai girando, movida por escolhas improfícuas, feitas inconscientemente com o mesmo objetivo e resultado. Fracasso. Assim é com o homem que, ao se ver sempre abrigado pela mãe, apenas a substitui em suas relações adultas, esperando de suas companheiras um comportamento similar. O de mãe e não de esposa.


Só que a vida pune. Escolhas erradas nos trazem sofrimento e perdas das mais variadas formas. Calcificam traumas e dores tão intensas que podem destruir toda uma existência. Mesmo assim não é incomum o retorno ao mesmo tipo de relação que causou todo o problema anterior. E nos perguntamos então: "por que novamente?"


Sim, por que a atração por algo ou alguém que nos faz tanto mal? Que tipo de conexão doentia é essa que nos condena? A resposta jamais está no outro, e sim em você. E ela é...porque ACEITAMOS O AMOR QUE JULGAMOS MERECER. Então as decisões erradas parecem as mais apropriadas e desejadas. Se não merecemos ser felizes, por que escolheríamos quem nos pode fazer feliz? Melhor nos entregarmos ao idiota, à promíscua, ao canalha, à interesseira. Depois, quando der errado, culpamos a vida e ao outro mais uma vez ao invés de nossas próprias opções desvirtuadas. Nos protegemos mentindo para nós mesmos.


Constituímos enlaces funcionais e produtivos, a vida parece azeitada, mas algo nos leva a abdicarmos disso, muitas vezes pelo novo objeto brilhante que sabemos que em breve se apagará. Porque lá no fundo não acreditamos que merecemos a paz construída e conquistada, ou então por pensarmos que a felicidade sempre estará em algo eivado de desassossego ou distanciada do tédio do cotidiano. E claro, nos sabotamos. Quando percebemos o grande erro nisso tudo, já é tarde.


Nas alianças de meus pais, que herdei com suas mortes, está escrita uma frase que os acompanhou do noivado até o fim de suas vidas: "j'aime qui m'aime". "Eu amo a quem me ama". A frase consignada em seus dedos por 60 anos os servia para lembrar de suas escolhas, de seus votos, e principalmente, que o amor que deixa de ser recíproco, provavelmente jamais foi amor. Foi alguma coisa, mas não amor, pois as pessoas certas sempre permanecem. Então não culpe o outro. Culpe suas escolhas. Mas mais importante do que isso: se perdoe e quebre o círculo. A vida só caminha para frente.

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