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Foto do escritorHP Charles

A real crise mundial é existencial.

Atualizado: 16 de jul. de 2024

Dificilmente você verá governos e a grande mídia assumirem que o maior problema que a humanidade vive atualmente é existencial. Natural que joguem tudo para a economia, que evidentemente é uma preocupação óbvia para a maioria. Mas essa é a real questão que acomete e inquieta o ser humano moderno?


Há uma notória epidemia de doenças ligadas à saúde mental, há uma explosão de sensação de solidão que persiste mesmo entre pessoas que estão envolvidas amorosamente de alguma forma com alguém. Existe uma enorme dificuldade em se vulnerabilizar e com isso se criar empatia. As conexões estão extremamente frágeis e estabelecidas por motivos irreais.


Crianças não nascem no ritmo em que o planeta precisa a fim de promover uma reposição natural no ciclo de vida e morte. A humanidade padece, afetada por desejos e ilusões oriundas de miragens virtuais. As redes sociais fazem um estupendo trabalho em deprimir pessoas as enganando ao subir a barra para um nível inatingível. As comparações ocorrem imediatamente e as pessoas são acometidas por anedonias e por crises de baixa autoestima.


Pessoas cada vez mais expressam um sentimento de vazio. A tecnologia nos ofereceu uma vida de conforto, de entretenimento e prazeres a fim de tentar suprimir ou abafar a tragédia existencial pela qual passamos. Mas o problema não será resolvido com ciência pois ela é incapaz de resolver a questão da finitude.


Antidepressivos são prescritos como água, inclusive para jovens, e evidentemente nada resolvem. Eles não combatem a superficialidade, a falta de propósito, a ideia de consumismo que massacra as pessoas desde muito cedo. Alguns se atiram aos prazeres como tábua de salvação. Drogas, álcool, sexo, sonhos de grandeza e de riqueza. Mas cada vez mais cedo descobrem que isso não tapará o buraco ou responderá às perguntas mais importantes que podemos fazer. Quem somos nós? O que realmente desejamos?


Para responder a tais questões precisamos de propósito. Precisamos de um motivo para levantar pela manhã além de ter que pagar os boletos. Viver no automático inevitavelmente nos catapulta à depressão e é o que vem acontecendo. As taxas de suicídio sobem, se tornam quase epidêmicas. Se você não encontra sentido em sua vida, é natural que se entregue aos prazeres, mas estes cansam rápido e precisam ser substituídos com frequência.


A matéria não resolve. Disseram que sim, mas como se tem visto, era mentira. O ser humano precisa de afeto, de conexões genuínas, de abrigo espiritual. A realização sempre será interna. Nunca virá de outras pessoas. O que se tem buscado desesperadamente nos outros é validação. Já se perguntaram por que o “like” se tornou a moeda mais valiosa do planeta? Que loucura, não? O que não encontramos em nós mesmos buscamos nos outros? Mas e quando o outro não puder dar? O culpamos? Nos ressentimos?


É irônico que em um mundo assolado pelo narcisismo, a saída esteja na genuína comunhão de almas e no desprendimento, vez que a vida parece sempre indicar que é a simplicidade das pequenas coisas do cotidiano que nos redime.


É um sorriso gratuito na rua, um bom dia atirado com alegria, um copinho de café, um bom filme, um livro que te botou para pensar. Um beijo. Um abraço. Ouvir um “como VOCÊ está?”


Do alto de nossa ignorância evolutiva, vamos nos destruindo uns aos outros, relativizando a vida, a desperdiçando em troca de “coisas”, sem saber realmente o que queremos. A crise é existencial porque ela é uma crise de valores e de identidade.


E então? Quem é você? O que realmente deseja? Ao se responder isso o medo passará. Não só o medo do mundo e de suas vicissitudes, como o medo das perdas, o medo da morte, e o medo dos sofrimentos inevitáveis em nossa trajetória.


E só aí, por derradeiro, perderemos o maior medo que existe dentro de nós mesmos. O medo de ser o que não queremos.


“Quando aprendemos a viver, já é tarde”.

(Aragon)

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