A responsabilidade emocional consiste em compreender como suas ações afetam os sentimentos e, por conseguinte, a vida de quem convive com você. Em tempos em que o individualismo, o narcisismo e o instrumentalismo, se tornaram as filosofias ou “ideologias” preponderantes, poucas coisas foram mais desprezadas e abandonadas do que a responsabilidade afetiva.
Há uma série de problemas causados com a negligência à responsabilidade emocional. O crescimento das doenças de cunho mental, o esfacelamento e banalização das relações, a criação de um perpétuo estado de desconfiança nas conexões interpessoais. Porém há mais uma consequência nesse carrossel de desafetos. O fato quase sempre esquecido de que quando você age sem responsabilidade emocional em relação a alguém, promove uma atitude que amanhã poderá se voltar contra si próprio.
Sim, na medida em que se torna irresponsável com os sentimentos de alguém, com as consequências que isso pode trazer, você marca uma pessoa de forma indelével, afetando seu espírito e infectando o planeta com aquela atitude. Um círculo vicioso se cria. Como confiar em alguém que não confia em você? Por que se preocupar com alguém que não se preocupa com você?
O resultado dessa negligência emocional e afetiva tem destruído relações e evitado outras tantas. Há um perceptível distanciamento entre as pessoas, entre homens e mulheres, e a solidão tem se tornado epidêmica. As conexões afetivas se tornaram cada vez mais fluidas, mais pedestres, a solteirice se glamouriza, a ideia de uma vida em benefício próprio, hedonista, narcisista, quase solipsista, ganha adeptos aos milhões.
O estado contribuiu muito para isso, desvalorizando o casamento, a família e as tradições. Os jovens com quem converso quase unanimamente afirmam não se interessar em estabelecer qualquer vínculo mais longo ou profundo com outra alma humana. Lembram do “cada um no seu quadrado”? Parece que o bordão da música asnática era muito mais do que uma forma medíocre de se ganhar dinheiro. Era uma profecia.
O resultado direto dessa incapacidade tem abarrotado os consultórios de psicanalistas, psicólogos e psiquiatras. O desapego, as substituições emocionais, as supressões do luto, cobram o preço um dia. A forma como você trata o outro retorna para você mais cedo ou mais tarde, o mundo não é uma ilha, pessoas se conhecem e a verdade eventualmente aparece. Ninguém ganha. Ninguém mesmo.
Existem sim os “espertos” sem empatia, como os psicopatas, como os narcisistas patológicos, cujo desligamento interpessoal e a irresponsabilidade afetiva faz parte de sua natureza, mas também esses um dia serão punidos em sua vileza. A vida é pródiga nisso.
Por outro lado o cuidado com o outro, o compreender e respeitar de seus afetos e emoções, traduzem a majestade de alguém. A gratidão, a lealdade, a amizade, sempre criarão laços de confiança e apego que se traduzirão em uma vida melhor, em acolhimento e proteção. É quase surreal que a galera não se atente acerca disso, não é mesmo?
E toma de terapia, e toma de consumo, e toma de Rivotril, e toma de horas na Netflix. Fernando pessoa já perguntava, “onde há gente nesse mundo?”. O colapso da sociedade moderna passa também pela falta de responsabilidade emocional, pela destruição do senso de comunidade, pela assepsia vitlrtual, pela falta de calor dos teclados que enviam binários textos vazios de afagos e afetos.
Existe um outro a seu lado. Ele tem mãe e tem pai, ou os teve. Ele também sente dor, chora e ri. É uma pessoa como você. Então, quando o mundo se torna cada vez mais incapaz de simpatizar e empatizar, isso é a prova de que ele se tornou menos humano. Um mundo onde vampiros andam à luz do dia, ansiosos por mais um pescoço, por mais uma subtração, por mais uma vítima.
O problema é que quando cedemos e nos tornamos indiferentes, aumentamos sumariamente a possibilidade de nos tornarmos amanhã…também uma vítima. “Vento que venta lá, venta cá”.
Seja responsável emocionalmente. Faça a sua parte. A humanidade agradece.
Comments