Por Lourdes Rodrigues.
Moro em um prédio com cerca de 50 anos de construção sólida, com paredes e estruturas firmes como, infelizmente, já não se constrói mais. Mas esse prédio tem uma particularidade, que possivelmente é partilhada por outros, o banheiro é um amplificador potente!
Ir ao banheiro aqui é mais do que uma experiência “libertadora”. É ficar por dentro dos segredos dos vizinhos.
Há momentos tristes, quando os casais discutem e cada parceiro diz ao outro palavras das quais vão se arrepender mais tarde. É testemunhar como a realidade não é como o sonhado e idealizado nos tempos de namoro. A rotina e os revezes testam os relacionamentos todos os dias, e falta a muitos a maturidade para entender isso, relevar algumas coisas, ceder quando possível e necessário. Casamento é um teste diário do nosso crescimento emocional e espiritual.
Se há alguns anos, uma das vizinhas gritava sem parar com os arteiros filhos gêmeos, hoje ela grita todas as noites com a mãe, já velhinha e doente. A reação inicial é condenar essa vizinha pelo tratamento desrespeitoso dado à mãe.
Sim, ela deveria exercitar a paciência,
principalmente com aquela que cuidou dela a vida inteira, mas há o outro lado, o da limitação (emocional e física) de até onde conseguimos lidar com os problemas que a vida nos traz. Mas isso é reflexão para um outro dia.
Há também os jovens, no momento mais preocupados com os estudos e a carreira profissional que fazem call, sim call, no banheiro. Nos momentos do banho colocam música em som tão alto que se ouve no apartamento todo. Pior: músicas de gosto duvidoso como funk e rap (pelo menos para mim, que prefiro um bom rock e MPB das décadas de 1970 e 1980).
Na lista dos momentos reveladores, claro, não podia faltar casais “namorando” no banheiro. Nada contra, pois isso é do gosto de cada um, mas levar gemidos e sussurros íntimos para os vizinhos é um pouco demais, e não digo isso por puritanismo, mas porque acho que certas coisas pertencem só a nós.
O banheiro oferece também momentos divertidos, quando as crianças do prédio estão tomando banho ou fazendo suas necessidades. Ao ouvir o tradicional “Mãe, já acabei!” é impossível eu não me lembrar de quando os meus filhos (2) eram pequenos. Dá uma saudade...Mas deixa eu ir ao banheiro para saber das novidades do dia...
Lourdes Rodrigues é jornalista, tendo trabalhado em rádio, tv e revista.
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