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Foto do escritorHP Charles

Algumas considerações sobre a psicopatia. Suas distinções e similaridades com o narcisismo patológico e sobre o “karma”.

“Quanto mais perfeito por fora, mais demônios tem por dentro.” - Sigmund Freud.


Você diria que a foto acima poderia ser de uma psicopata? É porque o psicopata é um camaleão. Dificilmente sua patologia será reconhecida ou descoberta rapidamente. Em que pese normalmente ter sua imagem relacionada a homens, assim como o narcisista patológico, em ambos os casos, os estudos mais recentes indicam que a proporção real seria de 50% de homens e 50% de mulheres. Tal impressão inicial de maior incidência sobre o sexo masculino se deve ao fato de as primeiras pesquisas envolvendo psicopatas terem sido feitas entre a população carcerária masculina.


O psicopata não possui empatia apesar de conseguir simulá-la, e sua motivação e objetivo é basicamente a obtenção de status, poder e perversão. O psicopata é “goal oriented” e é capaz de esperar e investir anos até concretizar seu plano que consitirá sempre na obtenção dos 3 pontos acima citados. Ele se transformará e fará o que for preciso para conseguir levar a cabo sua meta maligna.


Como não possui empatia, não se preocupa com quaisquer consequências de seus atos, mesmo que levem a vítima a morte, direta ou indiretamente. Assim como os outros transtornos de personalidade, existe um espectro na psicopatia, que passa por leve, moderada e grave.


A maioria dos psicopatas que se encontram soltos são do tipo leve e moderado, e costumam praticar crimes como furto, pequenos roubos, falsificações e apropriações indébitas. Na cabeça do psicopata, tudo é dele por direito em função da grandiosidade que atribui a si mesmo. Em sua patologia nefasta, percebe os outros como inferiores, idiotas, indignos, e por isso entende que tem o direito de prejudicá-los e maltratá-los. Há uma grande fração de sadismo e perversidade na psicopatia e a frieza é uma característica sempre notada no transtorno de personalidade antissocial. O psicopata mostrará um enorme controle do medo e da emotividade, mesmo em condições absolutamente perigosas e estressantes.


Todo psicopata é narcisista, mas nem todo narcisista é psicopata. Em ambos os transtornos há um foco obsessivo em si mesmos e seus próprios interesses, uma priorização de suas satisfações mesmo que isso custe o bem estar e vida de terceiros. No entanto, cumpre diferenciá-los, pois uma confusão tem ocorrido frequentemente em relação aos dois transtornos de personalidade. No transtorno narcisista o TPN, o fito sempre será a obtenção de suprimento narcísico. Validação (narcísica ou sádica), sexo e segurança. Não há fundamento na história de que narcisistas procurarão determinado tipo de vítima, mais precisamente empatas. Ele pode se relacionar com um psicopata se tal pessoa lhe oferecer suprimento. Apenas existem vítimas que são capazes de ofertar suprimento de “melhor qualidade”. San Vaknin afirma: “os co-dependentes narcisistas são “narcisistas invertidos", pois fornecem ao narcisista uma audiência obsequiosa e nada ameaçadora...o cenário perfeito”. Você notará claramente que uma pessoa é um narcisista invertido quando ela, ao estabelecer uma nova relação, mudar suas características físicas, crenças, roupas e atitudes, e se submeter ao controle do parceiro a fim de oferecer melhor suprimento. O narcisista invertido modifica seu comportamento para manter seu suprimento.


Até muito pouco tempo se acreditava que havia dois tipos de narcisistas, o grandiose e o vulnerável. A psicologia caminha na direção de entender que só existe na verdade um tipo de narcisista, o vulnerável ou oculto. Richard Grannon aduz que é muito provável que aquele narcisista que você acreditou que fosse grendiose, na verdade sempre foi vulnerável. O que ocorre é que ele irá variar de grandioso para vulnerável dependendo da situação. Mas sempre terá um problema de autoestima e autoimagem. Normalmente apenas quem convive com o narcisista perceberá isso. Se ele demonstrar muito controle e baixíssima emotividade, na realidade se cuida, no caso, de um psicopata de segundo grau.


A psicopatia não possui cura e tem origem em alterações cerebrais, em que pese algumas pesquisas indicarem que psicopatas tiveram em comum uma infância marcada pela negligência dos pais ou por uma educação extremamente autoritária e controladora. No entanto, assim como no caso do narcisismo patológico (também incurável), é possível se tratar e diminuir algumas comorbidades. Mas para isso é necessário diagnóstico, autoconhecimento, aceitação de sua patologia, e terapia intensiva, o que raramente ocorre. Narcisistas e psicopatas tem alta resistência a tratamento e dificilmente se engajam em terapia. Há uma natural resistência e receio do que encontrarão, em relação ao que enfrentarão. Ademais, como o fariam se seu senso de grandiosidade os compele a jamais reconhecer que de fato possuem um problema?


Normalmente manipulam a vítima para achar que é ela que possui alguma doença mental, quando de fato a mesma se encontra traumatizada ou depressiva em função do longo abuso imposto. Uma das maiores red flags quando se depara com psicopatas e portadores de TPN é que afirmem que a vítima é “maluca” ou “hipersensível”. Jamais entregam o jogo. Sim, é sempre “um jogo”.


O psicopata pode se tornar violento e normalmente é extremamente vingativo, por vezes direcionando por anos tal sentimento em direção às suas vítimas e detratores. O mesmo San Vaknin, ele próprio um narcisista psicopata diagnosticado, considera o psicopata uma espécie de “narcisista anabolizado”, uma “versão ainda pior do narcisista”


Por mais que boa parte da população tenha a imagem de psicopatas que lhe foi passada por Hollywood, estima-se que uma em cada vinte pessoas possuam algum nível relevante de psicopatia. Sendo assim, é muito provável que hoje, ao sair, você se depare com um ou até conviva com algum sem saber. Por isso é relevante sempre tentar se focar em ações e jamais e palavras, pois o psicopata mentirá, fingirá, e se transformará no que for preciso para tomar tudo o que é seu e te destruir.


O psicopata possui uma forma distinta de apego chamada “ flat attachment” (também comum em narcisistas) que faz com que ele se desapegue de suas vítimas de um dia para o outro sem necessidade de luto, apenas as substituindo abruptamente e inadivertidamente. Ele constitui uma relação, usa, descarta e substitui. Esse é a maneira de agir mais comum, o ciclo usual. Não há arrependimento, culpa ou remorso, mas há padrão. Psicopatas e narcisistas procederão dessa forma inúmeras vezes, sempre deixando um rastro de dor e destruição. Essa é a natureza que os contitui.


Psicopatas possuem uma forte tendência a serem “lobos solitários”, são antissociais, normalmente se fixando em apenas uma vítima de cada vez, a isolando e manipulando. Quando há socialização ela é premeditada ou atende a algum interesse escuso, mas não é desejada. Normalmente não possuem amizades próximas ou cultivadas, não há relevância emocional genuína em tais conexões. Elas também atendem à manutenção da imagem do psicopata.


Já os narcisistas são seres sociais, que buscam reconhecimento e validação nas mais distintas esferas da sociedade. Precisam de suprimento e validação externa constante a fim de suprir seu “falso ego”. O que ocorre é que o abuso narcisista sempre se dá da porta para dentro de sua casa. O narcisista tem pavor de exposição e transparece sempre a imagem de figura amável, de família, quase sempre religiosa e amante de pets. Não raro é visto como uma pessoa ótima por colegas, ao passo que desvaloriza e é impiedoso com a vítima. Em ambos os transtornos o uso de uma máscara é fundamental.


É muito comum encontrarmos psicopatas e narcisistas patológicos em figuras como políticos e pastores. San Vaknin, sempre ele, inclusive afirma com absoluta veemência, que uma boa parte dos influencers de renome possui alto nível de psicopatia e narcisismo.


Poderia escrever páginas e páginas sobre esses transtornos, como conluem e se distinguem, mas termino esse texto fazendo recomendações sobre a única forma de lidar com tais seres e, em última instância, derrotá-los. E ela se resume em se afastar totalmente. Os torne insignificantes, pois esse é real medo que possuem. Serem abandonados e esquecidos por suas vítimas. Eu sei que é contraintuitivo, pois você vai querer se defender das mentiras, das falsas acusações, das provocações (e elas sempre ocorrerão), do teatro que criaram, mas o contato precisa ser ZERO. Não os responda. Não engate discussões, não demonstre a menor emotividade, não dê indiretas em redes sociais. Se precisar falar, fale com seu terapeuta, com amigos, com pessoas que se importem.


Se você conviveu com tais monstros, assuma suas perdas e siga em frente. Não se sinta culpado, não há menos inteligência ou motivo para vergonha por ter sido envolvido em uma trama de tal propriedade destrutiva. Você lidou com figuras ardilosas, especialistas no que fazem, que provavelmente se aperfeiçoaram com outros antes de chegarem a você. Não se apegue ao prejuízo material, com o roubo sofrido (na abissal maioria das vezes, narcisistas praticam crimes e eventualmente isso se volta contra eles), com difamações e calúnias (smear campaings), esse é o jogo deles, o modo como sempre operam, o seu é o da verdade e ela eventualmente aparecerá por mais tempo que leve. O “real” objetivo de narcisistas e paicopatas é a destruição e morte da vítima, seja a causando diretamente ou a levando ao suicídio. Então apenas se afaste. Completamente.


Não se preocupe com o que o narcisista apresenta em redes sociais, ele fez exatamente o mesmo com você, lembra? Você era feliz? Pois então. É tudo uma pantomina. O contato precisa ser ZERO e isso também se refere a não stalkear, declinar informações ou contatos em comum. Aja como se nunca tivessem sequer existido. Se ame e seja amada novamente. Siga seu próprios passos e fique feliz por ter se livrado de tais pessoas. Controle seus instintos de retaliação e entenda que tais transtornos impendem uma estratégia diferente de enfrentamento.


Estabeleça novos projetos, novas relações e novas metas. E acredite que se você saiu vivo, está no lucro. Vítimas de psicopatas e narcisistas costumam ficar obcecadas com o que lhes ocorreu e isso é normal, mas na medida em que se descobre e entende a natureza e origem do abuso sofrido, é preciso deixar ir. Não estenda sua posição de vítima, não a internalize, isso é justamente o que eles fazem a fim de manter sua imagem e lucrar com isso. Trabalhe a sua responsabilidade e aprendizado em sua história e tampouco cogite vingança, pois só existe uma real “vingança efetiva” contra psicopatas e narcisistas…não lhes dê importância. Novamente: não os stalkeie, não responda a recados, a indiretas, a picuinhas. No caso do psicopata há zero empatia e no caso do narcisista há uma criança de 2 a 9 anos (sim, não é sentido figurado). Quando se responde, apenas se prorroga o ciclo de abuso. Siga em frente. Eu te prometo…coisas e pessoas boas, empáticas e REAIS, virão. Aguarde.


Provavelmente agora você fará a pergunta que praticamente toda a vítima de abuso dessa natureza faz: mas eles receberão seu “Karma”? Haverá “retorno”? Pois bem. Na medida em que leio, observo e me aprofundo no estudo da psicanálise e dos transtornos antissociais e de personalidade narcisista, mais eu tenho certeza que SIM.


Explico. Karma, em minha opinião não é uma força externa, não é terem seus carros arranhados, não é levarem golpes de outros narcisistas e psicopatas, não é serem acometidos por doenças e tragédias pessoais. Entendam que a própria existência de tais pessoas é uma maldição. É “Karma” em tempo real.


Para o narcisista, por exemplo, toda a sua vida se dá através de “mecanismos compensatórios”, de dependência de validação para evitar mortificação, e a compensação ocorre sempre através de “maus objetos”. Tais “maus objetos” se constituem em uma espécie de colmeia de vozes internas de antigos inimigos, de pessoas os julgando incessantemente, de coisas que fizeram e viram e que lhes mostram a pior maneira como podem ser enxergados por terceiros, devorando sua grandiosidade, que não passa de um mero mecanismo de defesa. Tal infestação os leva, em última análise, a abusarem de si mesmos, sempre vivendo o que não são, sempre paranóicos, sempre irreais. Por isso vivem entediados, viciados, incompletos, traindo, em bisca de novas formas de se suportarem. Mas nada e nem ninguém. nunca será suficiente. Seus parceiros serão usados e descartados e retornarão como assombrações e juízes em seu “falso ego”, seus filhos serão instrumentalizados e abusados. Como um poço sem fundo nunca nada e ninguém será o suficiente. O maior medo de um narcisista é que em algum lugar, alguém esteja feliz.


Portanto vivem em um perpétuo estado miséria existencial. Não são capazes de experimentar a intimidade, apenas uma miragem do que ela seja, o sexo sempre será transacional, não são capazes de amar ou estabelecer vínculos profundos, não possuem amigos “reais” vez que para isso é necessário empatia mútua. Não vivem uma existência genuína. Para ser preciso, narcisistas “não são” e psicopatas são o que ninguém gostaria de ser.


E aí? Você ainda guarda raiva? Não precisa. Você é livre. Eles jamais serão. Serão sempre prisioneiros de seus passados e perversões.














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