Após anos sendo bombardeado com picuinhas, com discussões improfícuas, com narrativas tolas e rasteiras de ambos os lados, acontece comigo e com muitos a coisa mais perigosa que pode ocorrer no âmbito político. O desinteresse total.
Eu sequer consigo mais abordar qualquer assunto ligado a política. A quantidade de tempo dedicado às dificuldades cotidianas somado a minha idade, me fez simplesmente largar um foda-se grandão. E o pior...estou em paz com isso.
Sabemos que apenas a política pública é capaz de promover grandes mudanças na vida das pessoas e por isso o tema envolve grandes paixões. Mas também envolve grandes interesses. No Brasil a política virou futebol. É briga e xingamento, é torcida com bandeira e fogos de artifício, é afastamento familiar. Uma insânia total.
Faz algum tempo que minha paixão pelo Flamengo, meu time de coração, deixou de ser obtusa. Vejo os jogos tentando fazer análises honestas, não me interessa passar horas discutindo se o juiz errou...porque não adianta. Só me preocupa ver bom futebol. O ideal seria buscar a mesma maturidade na política. Mas está impossível.
Então eu me tornei, para preservar minha sanidade e bem estar, uma espécie de Pilatos. Alguns cuspiriam em mim e chamariam isso de alienação. Sim, uma alienação voluntária e consciente. A quantidade de coisas que tenho que lidar no momento não me deixa espaço para escaramuças em internet, para sabichões virtuais, para ficar lendo considerações curriculares.
Na parte cultural eu faço o mesmo. Se há pregação em determinado livro, filme ou música, eu simplesmente não consumo. Ponto. De obrigação já bastam os boletos. Hoje entendo que a vida é mais produtiva ajudando quem está a meu alcance e ouvindo quem vale a pena. Existe muita gente boa precisando de um ouvido, de um abraço, de um livro emprestado ao invés de discursos inflamados e lições diárias de moral.
Aprendi que a reconexão humana, presencial, sanguínea, é mais importante do que protocolos hipócritas e a nefasta sinalização de virtude que afaga egos e atende a interesses vis.
Sim, eu continuo entendendo a enorme importância da política, apenas não há mais espaço para debatê-la em minha vida. Evidentemente há um preço a pagar por isso, mas é um risco que corro conscientemente. Não tenho mais disponibilidade intelectual ou desejo de enfrentar querelas geradas pelo tema.
Tenho livros para ler, filmes para rever, saúde para cuidar e gente para amar. As entradas na canela, os carrinhos maldosos, a falta desnecessária, eu deixo para o futebol. Lá eu posso xingar o Gabigol em paz, por enquanto não há nenhum "ismo" em pedir a entrada do Pedro. Felicidade pra quem fica.
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