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Foto do escritorHP Charles

A dependência emocional.

Atualizado: 1 de mar. de 2024

A dependência emocional é um comportamento onde uma pessoa é extremamente dependente da outra, normalmente possuindo um enorme medo de ser abandonada, e por isso faz de tudo para agradar o parceiro. Por vezes faz o que não deseja e se submete aos piores sofrimentos por conta de suas inseguranças. Por acreditar que realmente depende do outro, a relação mais se parece com um vício do que com algo positivo baseado em afeto e carinho.


Não raro o dependente abdica da própria vida e dos próprios sonhos a fim de realizar o dos outros. Se submete das mais diversas formas, inclusive sexualmente, se humilha e se anula. O enlace se assemelha muito mais a uma doença do que a qualquer outra coisa.


Os planos e sonhos do dependente emocional e psicológico não são imaginados com base em seus desejos pessoais, mas na vontade disfuncional de fazer com que o outro se sinta satisfeito e realizado. O dependente então vive uma vida miserável, mas por vezes até acredita que está feliz por se sentir supostamente seguro em uma situação fragilizada. A menos que se liberte, viverá como um escravo durante toda a sua vida.


O dependente emocional é o parceiro ideal do narcisista. A diferença é que a pessoa codependente tende a se desvalorizar por idealizar muito o outro, já o narcisista tende a desvalorizar os outros, vez que idealiza muito a si mesmo. A codependência é uma imagem espelhada do narcisismo. O narcisista também possui então, uma parcela de codependência e a ideia de ficarem sozinhos, mesmo por curto espaço de tempo, lhes é assustadora. Assim, ambos costumam engatar relações rapidamente e não raro passam a viver sob o mesmo teto e casam rapidamente. Um supre o outro em suas necessidades patológicas. É como se ambos fossem emocionalmente infantilizados e aprisionados em corpos de adultos. Por vezes ocorre uma simbiose onde abusado e abusador se tornam semelhantes em muitos aspectos. Passam a gostar das mesmas coisas, repetir as mesmas frases, e até adotar hábitos negativos e avalizar posturas pouco éticas do parceiro. É como se o "levar vantagem" passasse a se tornar aceitável para um porque o é para o outro. Parceiros emocionais que se tornam parceiros em crimes. As personalidades podem "se misturar", e com frequência passam a falar parecido e pensar parecido em uma influência quase hipnótica. Sinistro, não? Isso muitas vezes não é percebido fora da intimidade do casal, como um iceberg que possui sua maior parte sob à água.


O codependente pede a outras pessoas, especialmente ao seu parceiro íntimo, para que dê a ele uma avaliação realista de si mesmo para ajudá-lo a restaurar seu teste de realidade. O codependente quer que outros o calibre e que forneça a ele as dimensões corretas de apreço e valorização. Os planos e sonhos do codependente não são com base nos seus desejos pessoais, mas na vontade disfuncional de fazer com que o outro se sinta satisfeito e realizado. Portanto, é como se a pessoa anulasse a si mesma em prol de viver a verdade de outro indivíduo. Não raro a mulher usa termos para seu parceiro como "meu senhor", "serva", lorde", "amo", em uma relação de total submissão, desigualdade e posse. Algo muito encontrado em relações sádicas ou sadomasoquistas. Termos anacrônicos usados em uma escravidão moderna consignada emocionalmente e psicologicamente com foco em se estabelecer os papéis de dominador e dominado. Há o controlador e o controlado na patologia em comento. E tal patologia não é nada bonita ou saudável. "O que começa na raiva, termina na vergonha".


Acredito que em minha primeira relação relevante, ainda muito novo, tenha vivido um momento onde me posicionei no espectro do dependente emocional. Ela era uma mulher mais velha e preparada, e à época a questão sexual me influenciou bastante. Ao final dessa relação, devastado, levei muito trabalho à psicanalista a fim de compreender o que aconteceu e porque aconteceu. Em entender porque me senti aparentemente confortável e seguro em algo que se assemelhava muito mais à doença do que a amor.


Décadas mais tarde meu papel se inverteu, e tive uma longa relação com uma pessoa que apresentava traços de dependência emocional muito forte. Isso evidentemente se percebe com o tempo. A pessoa que tem dependência emocional frequentemente cria imagens distorcidas de si mesma e requer que o parceiro as dissipe. Em sua insegurança, eram frequentes as perguntas sobre sua aparência física e o ciúme infundado, e ela mesma sempre estabelecia comparações com outras mulheres dos mais diferentes tipos, muitas vezes atrizes que viviam do outro lado do mundo, para que eu a tranquilizasse quanto à visão que possuia de si mesma. Confesso que isso era um processo desgastante que se estendeu até o fim da relação e que presumo, a acompanhará até que seja tratado em terapia. Essa dependência, submissão, ausência de verbalização, também se estendia ao ato sexual interferindo em seu dinamismo, o que sempre me desanimou muito, porque sentia ali a patologia agir de forma mais transparente e fortemente.


Nas mãos da pessoa errada, o codependente terá sua vida destruída. Como quando se envolve com viciados químicos, álcoolatras ou narcisistas patológicos, que usam a fragilidade emocional da pessoa para criar situações de abuso, para prender, isolar e explorar financeiramente sua "vítima". É um processo que pode levar anos mas que inevitavelmente ocorrerá.


A dependência emocional é uma praga que parece florescer e se ampliar em uma sociedade onde a necessidade de validação e atenção nas redes sociais se tornou uma epidemia. Todos precisam ser mais. Mais jovens, mais bonitos, mais ricos, mais inteligentes. Claro que a insegurança cria um ambiente favorável à dependência e à exploração. Não à toa psicopatas e narcisistas tem ganhado tamanha visibilidade e sejam motivo de cuidado e interesse em tantos vídeos e blogs.


O medo do futuro e da solidão cria codependentes e ansiedade, afasta a confiança e a autonomia. Somos seres gregários, não há dúvida, mas não se pode abdicar das relações produtivas e do afeto genuíno em troca de uma vida dividida por mero receio de ter que vivê-la apenas consigo mesmo em uma espécie de ilha artificial. Primeiro porque o amor romântico não é o único que existe, e depois porque não há segurança nenhuma em qualquer relação que não tenha sido construída com cuidado, zelo e afeto saudável. Por isso uniões baseadas em dinheiro, interesses difusos e dependência, possuem data de validade. E o pior é que por vezes tais conluios se dilatam em uma espiral de sofrimento e uma convivência de abusos e desprezo que dura anos e anos. É como uma panela de pressão que um dia explodirá.


Vocês já viveram relações onde mesmo acompanhados se sentiram completamente sós? Sentiram que o enlace mais se parecia com uma peça de teatro mal elaborada? O codependente sempre salta de uma relação para a outra, pois não suporta o luto, o olhar para si mesmo, tal o pavor de abandono e da solidão. Alguns se entregam totalmente às suas rotinas e sistematizações a fim de afugentarem o vazio existencial que possuem, e frequentemente fazem escolhas afetivas que suspende suas vidas em função do outro. Se unem a canalhas, a mulheres de baixo valor moral, a gente que nada lhes agregará em sua vida a não ser se tornar mais uma bunda sentada no sofá.


Acredito em relações onde há entrega total. Investimento total. Amor sem aparas. Mas é preciso que isso seja feito com a pessoa certa. Alguém que se conheça. Caso contrário, o que restará, ao final, é arrependimento e dor, e substituir uma pessoa por outra nada resolverá, vez que o problema restará intacto. A solidão sempre acompanhará o codependente para onde quer que ele vá, vez que reside dentro e não fora. Todo o resto é mitigação, subterfúgio, é placebo. A dependência emocional, se resolve com trabalho terapêutico. A cura está na libertação da individualidade.





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