Em primeiro lugar precisamos saber se realmente é amor e não outra coisa que apenas parece amor, mas é doença, dependência ou carência na forma de ilusões e emoções juvenis. Superado isso, é preciso se verificar compatibilidades e desejos mútuos. Pode ser que um deseje algo que o outro não queira, e aí as estradas se bifurcarão em determinado momento. Por fim, é preciso desvendar se haverá no outro a vontade real de transformar sonhos em realidade. E isso ocorre no trabalho e na superação dos desencontros do cotidiano. As vitórias são fáceis. Dar flores é fácil.
Sempre nos perguntamos ao conhecermos alguém interessante, se aquela pessoa "tem o que é preciso". Nos dias de hoje, as perguntas costumam ser erradas, gerando respostas simples para questões complexas. "Ele tem dinheiro?", "Ela é boa de cama", "Qual é o carro dele?", "Ela faz o quê?". Notem, nenhuma dessas perguntas se refere a caráter. Nenhuma delas possui relação como a maneira com que o outro trata os pais. Nenhuma delas possui a real intenção de saber algo profundo sobre o outro. Todas elas tem o único fito de saber o que se poderia "ganhar" em uma união. Claro que o resultado não poderia ser diferente do que mostram as estatísticas. Pessoas constituindo relações rasas e com data de validade. Por que as permitimos entrar em nossas vidas? Qual o tamanho do vazio a ser preenchido?
Sim, é importante saber como o outro se relaciona com a sua própria família. Ele é respeitoso com sua mãe? Ela é afetuosa com seu pai? A história de vida do outro pode sim determinar o comportamento dentro de uma futura relação.
Qual é a disponibilidade afetiva daquela pessoa por quem você se interessou? Por vezes a pessoa pode ser muito legal mas não ter o interesse em investir em uma relação monogâmica, ou até qualquer outro tipo de relação. Talvez ele tenha um enorme potencial mas não goste tanto de você. O que é preciso então? Sim, porque amor é uma Escolha.
É preciso ler os sinais. É preciso que haja esforço mútuo. É preciso que haja razão no meio das emoções. É preciso que o afeto seja REAL e recíproco. É preciso que seja VERDADE. Caso contrário, é melhor esperar um outro alguém. Quando se desprezam as "bandeiras vermelhas" por ansiedade ou medo, decisões trágicas costumam ocorrer.
"Mas então você não acredita em amor à primeira vista?" Não. Acredito em atração sexual à primeira vista. Amor é outra coisa. Amor implica investimento e coragem. Amor se escolhe. É um voto. Se você rompe seus votos, se não cumpre suas promessas, você não é digna ou digno de amor. É digna de, tal como sísifo, carregar a mesma pedra montanha acima, para que ela role ladeira abaixo no final. E depois culpará o outro porque a pedra rolou. Vivemos uma era de relações líquidas, consignadas por milhões de sísifos. Seus corações são as pedras que carregam ao nada.
Eu acredito em amor fruto de um caminho percorrido junto. Paixão não é amor. Paixão é fogo de artifício, não é a lareira que aquece. Sempre considerei as paixões cansativas e enganadoras pois submetem tudo ao sentir e a vida não se resume a isso. Sentimentos mudam, mas não o caráter. Paixões, com algumas exceções são castelos de areia sempre prestes a sucumbir. Já o amor reside em alicerces muito mais sólidos. No amor o espectro de visão é muito mais amplo, e os defeitos e diferenças são abraçadas, ao contrário da paixão onde sequer são reconhecidas.
O elemento essencial de qualquer amor é a lealdade. Sem lealdade não há amor. Há mentira. Há uma bomba relógio. As redes sociais e suas maquiagens disfarçadas de facilidades estão destruindo o amor porque defenestram e desafiam a lealdade a cada "dm" lançada. É como se testes fossem feitos a cada segundo. E tais testes não provam nada além de sua futilidade e sua carência.
Nossa sociedade como se encontra sobreviverá à prova do tempo? Casais tem muito menos filhos, por vezes jamais os tem, divórcios chegam a marca de 60% de efetivação. Mulheres são responsáveis por 80% dos pedidos de divórcio, e esse número chega a 90% quando elas tem curso superior. O que prometeram a elas? Que quadro guarda o futuro? Uniões cujo o mero fito é empurrar contas e não dividir vicissitudes? O objetivo passou a ser deixar a Netflix mais barata? Ir ao shopping comprar mais alguma coisa de que não se precisa?
Leio casos e mais casos onde ao primeiro sinal de alguma doença mais grave ou que cause "inconveniências", há o abandono do parceiro. Há uma troca fria e cruel. "Mas e eu?", aduz o sociopata. Qual é o objetivo disso tudo? Pois lamento informar que isso aí fora não é amor. Há uma enorme propaganda te dizendo que é, mas não é.
Sexo à disposição? Esse é o intento, a desculpa para morar junto? Por favor...nunca foi tão fácil transar. Com quem se quiser, da forma que se quiser, quando se quiser. Mas também, com quantos se quiser, não? Vento que venta lá, venta cá? Isso é "progresso"? Esse era o objetivo? A "liberdade sexual" cujo preço é o gozo insignificante e vulgar? Dispenso.
Vejo casais prisioneiros em suas casas e em suas próprias relações. Indivíduos fingindo uma vida conjugada. Muitos não se falam, não se comunicam, anseiam pelo próximo contatinho redentor que acalentará a alma e destruirá o caráter. A infidelidade foi relativizada, os filhos se tornaram pets, os projetos, "fake future". Tudo que passou a dar trabalho e impende tempo está sendo trocado. Rapidamente. Porque não há grandes consequências práticas. Nada foi construído, apenas fabricado pela emoção.
Claro, sempre existirão duas consequências. Nada práticas e terríveis mas só podem ser cobradas pelo tempo: solidão e culpa.
Então, a fim de dribá-las, nós bebemos, nos entorpecemos, assistimos a asnáticos shows para idiotas, lemos livros que não importam, ouvimos músicas que não nos comovem, engolimos a pizza redentora de quarta-feira (pague uma e coma duas). E então, bem lá no fim, lembraremos do que abdicamos para ter coisas a mais. Um outro carro, mais uma tv, mais uma bolsa ou relógio. Engole mais um comprimido. Dor no corpo, na cabeça, no coração...
Lembraremos daqueles momentos onde vendemos nossa lealdade, e como justo naquele breve momento, abdicamos da fagulha divina que um dia nos foi entregue. E recordaremos que nossos risos não foram os mesmos. Que nosso sono passou a não nos recuperar, que nos deitamos com estranhos por carência, que entregamos nosso corpo prematuramente, que esquecemos de amadurecer e consignar relações relevantes construídas com suor, caráter, tempo e LEALDADE. E então olhamos para nossa casa e para o acúmulo de inutilidades que não caberão em nossas covas. E bate aquele vazio insistente que fazemos tudo para não sentir. Desviamos a mente. Obliteramos o passado (como se isso fosse possível). Machucamos pessoas dizendo o que não era preciso. Usamos e nos permitimos sermos usados. Fingimos felicidade nas redes sociais. Aplicamos filtros. Sorrimos sem querer sorrir. Ligamos a televisão. Desligamos a telvisão. Pegamos o celular. Arrastamos para cima, para baixo, para os lados. Mas não encontramos a nós mesmos. Claro, nos perdemos lá atrás. Naquela deslealdade. Sim, exatamente naquela.
E aí percebemos que morremos faz tempo.
Onde está o desfibrilador?
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