Sempre achei que a deslealdade é algo bem pior do que a infidelidade porque a primeira possui relação com respeito a príncípios e contextos muito mais profundos. Porque a lealdade é espontânea, não "contratual". A deslealdade, via de regra, possui uma dificuldade muito maior para ser perdoada, há um condão de subjetividade ainda mais difícil de se resgatar, vez que fere um laço tácito, porém consignado.
Já a infidelidade, que muitos chamam de "traição" e eu entendo como um mau uso da palavra, é simples de se resolver, pelo menos na teoria. A infidelidade se consigna no "segredo" e não propriamente no ato. No que não foi dito ao parceiro e deveria ter sido.
Se um homem é capaz de se aproximar de sua mulher, ele não é o problema. Ela é. O fato de que outro homem se sentiu recepcionado ou bem-vindo, reflete o comportamento DELA. Jamais dispute uma mulher com outro homem. Se ela fez com que ele acreditasse que tem alguma chance, deixe-a tê-la. Você não vai querer alguém que qualquer um pode ter, não é mesmo? Uma parceira leal jamais poderia ser "roubada" por alguém. Se algo assim ocorreu, o que foi realmente roubado foi UM PROBLEMA e a pessoa que fez isso te fez um favor. Isso é absolutamente simples de entender.
Ademais é praticamente certo que esse comportamento seja repetitivo ao longo da vida dessa pessoa. Na abissal maioria dos casos isso é um padrão. E claro, evidentemente o mesmo se aplica se invertermos as posições, a questão é de caráter e não de sexo. Nada mais é preciso dizer sobre "traição", todo o resto é masturbação mental.
Já a deslealdade é algo que não fere apenas o amor romântico, é muito maior e seu espectro bem mais intenso. Ela pode atingir amigos, família, relações profissionais, ultrapassa situações que são oriundas de impulsos e, a meu ver, deixam marcas bem mais difíceis de serem superadas.
Talvez haja pouco zelo ou excesso de "maturidade", se é que isso é possível, mas me vejo mais próximo de perdoar uma infidelidade do que uma deslealdade. Entendo que há uma diferença na natureza dos dois atos, em que pese ambos serem absolutamente negativos e vis.
Claro, a questão sempre encontrará seu ponto nodal na moral de cada um, no limite de cada um. A internet, sempre ela, acredito ter fomentado a facilitação e a ampliação de "modalidades" na prática das deslealdades e infidelidades, me parece que ninguém nega isso.
As redes sociais e os celulares sempre a mão, proporcionam a multiplicação exponencial de contatos e abreviam as distâncias. A troca é imediata, mesmo que possa ser fugaz. Os "nudes", o "sexo virtual", os sites de porn, a hipersexualização, as curtidas em biquínis e músculos se tornaram óbvias e ululantes.
A tentação está em cada clique e o impulso é fomentado a cada segundo online, muitas vezes até involuntariamente. É como se a real intenção, em primeiro lugar, de quem criou a internet, fosse o sexo. Será que não foi?
Ao mesmo tempo os costumes vão sendo modificados, valores vão sendo transformados e as alternativas sendo construídas. Alguns já optam por não se preocupar com infidelidades e se relacionam abertamente, sem algemas. Outros constroem relações onde cabem 3 ou 4. No poliamor tudo é conhecido e consentido.
Dinossauros como eu sempre terão dificuldade em compreender e aceitar tamanha liberdade, mas isso pouco importa, afinal as coisas estão mudando e mudando rapidamente. O mundo virtual impera e a meu ver vai comandar cada vez mais e PERIGOSAMENTE a vida das pessoas.
Resta saber como as relações serão negociadas no futuro. Haverá uma diminuição da ideia de "posse"? O poliamor e as relações multifacetadas se ampliarão e se tornarão o novo "normal". A infidelidade como nós conhecemos acabará? Quem poderá dizer com segurança como as pessoas se relacionarão face a tantas mudanças de paradigmas?
Quem sabe apenas as deslealdades perdurem, o que seria trágico...porém humano. Pessoalmente tenho muita dificuldade em lidar com elas, na medida em que ferem enlaces ainda mais amplos do que os românticos, por serem espontâneos e não delimitados. Uma deslealdade deixa uma cicatriz muito difícil de fechar, cuidemos de nossos corações e atitudes.
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