top of page
Foto do escritorHP Charles

Em 2024, eis o parceiro que você realmente precisa.

Atualizado: 29 de jul. de 2024

Na medida em que me aprofundo em meus estudos psicanalíticos e leio sobre a dificuldade que as relações interpessoais vivem em um mundo assolado pela insegurança e desconfiança, as tornando cada vez mais breves e líquidas, mais me asseguro de que não há nada mais importante em uma relação afetiva sexual do que se relacionar com alguém que te ofereça saúde mental. Mas o que seria isso?


Sim, a atração, a química, as compatibilidades, os projetos em comum, tudo isso é relevante. Mas nos dias de hoje ter ao lado alguém que não te manipule, que não torça suas palavras, que não tente alterar seu senso de realidade te conduzindo para uma fantasia improfícua, alguém que te ouça e te faça se sentir compreendido e, acima de tudo, alguém que não vai querer te mudar, é o mais importante. Alguém que te ame e que te aceite do jeito que você é, respeitando seus limites e individualidade é o primordial.


Seu parceiro, de certa forma, será um espelho diário para você e deveria te ajudar nessa tarefa de se amar mais e carregar o pesado fardo da vida. Se não o faz, se a sua presença é apenas conveniente ou instrumentalizada, então essa relação falhará. E infelizmente é o que está acontecendo de forma contumaz hodiernamente. Menos casamentos, menos filhos, mais divórcios, menos significado nas relações afetivas. Os projetos se tornam cada vez mais individuais e o outro é apenas uma circunstância, alguém a ser substituído eventualmente, como uma lâmpada queimada.


Nesse sentido não é de se estranhar a epidemia de solidão vivida ao redor do mundo. Solidão por vezes acompanhada, que é a pior solidão. Concomitante a isso, o narcisismo cresce a olhos vistos e pessoas se unem com o fito de suprir a necessidade absurda de validação externa. De se “usarem”. E para narcisistas tal validação sempre será insuficiente em uma vida a dois. É preciso mais. Mais likes, mais amantes, mais transas, mais grana, mais coisas, mais tudo. O falso ego é um buraco que jamais se encherá.


Os posts de internets, os comentários de redes sociais, os blogs, estão eivados de depoimentos e reclamações desesperadas na busca de ajuda no que concerne à saúde mental. Boa parte ainda vive na ilusão de que o dinheiro os redimirá de algum vazio existencial através de compras, de viagens, de ostentação. Para esses o sofrimento ainda será maior. Mas muitos já perceberam. Querem afeto, paz, lealdade, comunhão.


Mas o amor é um processo. Uma construção. Ele leva tempo. Quando há velocidade, desespero, pressão, peso, não há amor. Há outra coisa, mas não amor. Isso só será desvendado mais a frente, talvez bem mais à frente, e normalmente com consequências desastrosas.


Os consultórios “psi” se abarrotam, agendas cheias, antidepressivos, ansiolíticos, soníferos, são o corolário funesto dos tempos atuais, onde a paz de espírito e uma boa e natural noite de sono se tornaram o verdadeiro luxo.


O parceiro mais que desejado em 2024 precisa ser aquele que te faça se sentir seguro dentro da medida do possível. Alguém que seja, sobretudo…REAL. Que esteja preparado para dividir a felicidade mas também o sofrimento inevitável das perdas da vida. Comer o filé é fácil, não? Mas e roer o osso? Alguém ainda quer? Ainda existe isso em uma sociedade tão individualista e apressada?


No meio de tantos problemas, tantas tragédias, tantos estímulos, as pessoas navegam quase sem direção em busca de uma ilha qualquer onde possam sobreviver. Mas uma ilha é também uma fuga. E uma outra pessoa não pode ser a sua ilha.


O “isolamento”, se ocorrer, deve ser desejado, ser uma decisão pessoal e existencial que via de regra traz condições muito específicas e que não serve para todos. Muitos o tem adotado e alguns parecem muito felizes com ela. O abraçar de uma vida minimalista e pródiga em sua solitude, constituída de uma rotina de prazer e produtividade.


No entanto, mesmo para os que se encontraram vivendo sozinhos, a saúde mental foi o fator preponderante, percebam. Sós ou acompanhados, os pensamentos determinam a qualidade da vida. Mas apenas “os próprios pensamentos”. O que vagueia em sua cabeça é sempre o seu pensamento ou algo que foi colocado lá por outros? Como diferenciar? Como dominar o pensar e o sentir? É preciso trabalho nessa direção, mas fazendo isso é que estabeleceremos uma vida mais feliz e suportável.


Então, esse deveria ser o objetivo principal na busca de alguém para dividir a sua existência, se esse for o caso. Alguém que te aprecie genuinamente. Que te aceite como você é. A partir daí é possível se construir algo sólido. Mas só a partir daí.


Não tenha pressa. Tenha direção.

567 visualizações

Posts recentes

Ver tudo

Comments


bottom of page