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Foto do escritorHP Charles

“Hook up culture”, um tiro no pé?

Atualizado: 21 de fev. de 2024

A cada dia que passa mais se questiona se o feminismo falhou ou não com as mulheres. Em texto anterior citei pesquisa recente da ong Think Helga que mostrou que os índices de felicidade da mulher moderna estão em 30%, gerando um quadro preocupante em que pese os supostos avanços sociais e conquistas obtidas.


O acesso total ao mercado de trabalho e a maioria nas universidades parece não ter tido o resultado esperado quanto as expectativas femininas em direção a sua satisfação pessoal. Mulheres também parecem insatisfeitas em seus casamentos, que duram em média 8 anos. Em 80% dos casos são as mulheres que dão início ao divórcio e esse número chega a incríveis 90% quando a mulher possui curso superior (estatísticas americanas). Há algo a se extrair desses números. A de que homens dificilmente pedem divórcio. Mas também há consequências como veremos ao longo desse post.


Aparemente existe uma enorme influência cultural na forma como as relações tem se manifestado. Com essas transformações no universo feminino e portanto na sociedade, surgiu o fenômeno da "hook up culture". Mas o que seria isso? "A cultura de conexão é aquela que aceita e encoraja encontros sexuais casuais, incluindo encontros de uma noite e outras atividades relacionadas, sem necessariamente incluir intimidade emocional, vínculo ou um relacionamento comprometido".


Mulheres parecem ter aderido fortemente a essa nova modalidade em um primeiro momento, com o auxílio de aplicativos de encontros como o Tinder e o Ashley Madison. Existem muitos. Mas tal direção foi realmente positiva para as mulheres? O relaxamento das relações e conexões tradicionais e o apego a uma cultura que favorece a banalização do sexo, a casualidade e a ausência de intimidade funcionou? A mulher moderna deveria estar mais feliz, não? A ideia feminista de aproximar a mulher de um suposto modo de viver que antes era basicamente masculino deu o resultado esperado?


Estatisticamente homens tem a preferência por mulheres jovens. Mais precisamente homens entre 18 e 60 anos preferem mulheres entre 18 e 28 anos. Isso se deve a diversos fatores, dentre eles a maior possibilidade de ter filhos e com maior segurança. Claro, a questão da aparência pesa, não sejamos ingênuos. Note que nem sempre essa preferência é algo consciente.


Homens também demonstram em pesquisas, dar grande importância à quantidade de parceiros anteriores que a parceira teve. O contrário, no entanto, não parece incomodar a mulher. Sim, isso é antiquado mas é um fato. Ao mesmo passo, homens mais velhos tem gerado mais interesse em mulheres mais novas. Isso ocorre porque o ritmo de vida e de maturidade é diferente. Aos 20 e poucos anos o homem normalmente ainda nada conquistou e não raro é extremamente imaturo. Muitas mulheres enxergam no envelhecimento um ponto positivo para o homem. A própria questão hormonal que reflete no envelhecimento físico mais vigoroso e rápido nas mulheres, pode contribuir para essa sensação.


Antes que haja uma precoce demonização do homem, a mulher também tem suas preferências, resistindo a homens muito baixos e acima do peso. Estatisticamente mulheres também contraem novas relações muito mais rapidamente e em enorme parte dos casos "engatilham" novos contatos antes de encerrarem os anteriores. Além disso a reincidência nessa atitude é enorme pois se relaciona diretamente com dependência emocional. Uma conduta absolutamente abjeta. Outro dado é que a questão financeira parece ser bem mais importante para a mulher do que para o homem. Não há santos na história.


Outros pontos que foram relevantes além da idade é a relutância que grande parte dos homens tem a mulheres fumantes, divorciadas, e com filhos. Há uma grande preocupação com relação a perda de patrimônio e gastos com filhos que não são biologicamente seus. Sendo assim, a hook up culture parece ter sido uma conquista para as mulheres mais jovens que jamais casaram e que não possuem filhos, mas não para aquelas com mais de 30 onde se pressupõe mais bagagem emocional, além de terem tido mais parceiros.


Pelas estatísticas, relatos e inúmeros vídeos onde queixas e mais queixas se acumulam, a partir de certa idade, consideradas as exceções, há um número pródigo e facilidade de se obter encontros para mulheres mais velhas e com histórico de divórcios e filhos, mas frequentemente sem o intento de algo mais sério ou duradouro. Basicamente os deslindes são sexuais e após um determinado número de encontros ocorre o temido "ghosting". Há uma porção também alta do chamado "breadcrumbing", comportamento absolutamente covarde e cruel. Ou seja, homens cada vez mais vem optando por se manterem solteiros e preservarem seu patrimônio, que evidentemente seria abalado com eventuais separações. Na medida em que o sexo descompromissado passou a ficar com ainda mais oferta, o lado masculino começou a se adaptar a "novidade", restringindo mais e mais suas escolhas para consignar relações mais duradouras na medida em que aproveita a grande facilidade para obter sexo casual via aplicativos e redes sociais.


Essa prática está ocorrendo com tanta frequência que o próprio movimento já está sendo questionado, com mulheres que uma vez se entregaram fartamente a cultura de conexão adotando, pasmem...o celibato e o total desprezo por novos encontros. Mas e o homem nessa história? Bom, como escrevi, ao que tudo indica, se moldou mais facilmente. Enxergou nesse desejo de diversão de mulheres que estavam entendiadas com suas vidas e relações uma oportunidade também de criar ainda mais contatos descompromissados. Há uma questão biológica, uma tendência natural para isso? Digam vocês.


A meu ver não há dúvida que a longo prazo a hook up culture foi um enorme tiro no pé, especialmente para as mulheres mais velhas. Aliás, eu penso o mesmo em relação ao feminismo, que parece ser bem mais interessante para as mulheres jovens, com todas as oportunidades ainda pela frente, onde erros de direção podem ser mais facilmente remediados. De qualquer maneira, há um retrato exposto por números em relação a essa cultura de sexo abundante e casual. Concluímos que a adesão feminima gerou uma adaptação masculina, um efeito rebote que parece ter ido contra as reais carências das mulheres. Essa conclusão aparece apenas em um segundo momento, quando a "diversão" perde o sentido.


Os divórcios batem os 56% (EUA) e homens começam a criar resistência a ideia de casamento face as transformações da sociedade e por conta de leis claramente imparciais que podem colocá-los em situações complicadas e injustas. Se perguntam o que há para eles em 2023 face ao pensamento progressista da mulher moderna. É um preço que toda a sociedade vai pagar, pois toda ação gera uma reação, não há dúvida. O crescimento do receio e da insegurança na medida em que as relações tradicionais se modificam, os filhos vão diminuindo e os divórcios aumentando, vai se consignando. Assistiremos em breve uma maior busca por laços e pessoas com tendências conservadoras? Talvez não. Cumpre ressaltar aqui o aumento exponencial de casamentos entre pessoas do mesmo sexo. Sendo 60% deles entre mulheres.


O que se nota é que há um grande amargor. E ele atinge mulheres e homens. Doenças como ansiedade e depressão aumentam vertiginosamente e afetam as pessoas cada vez mais cedo. O mundo parece estar doente. Já disse e repito que sempre apostarei na velocidade das mudanças e na sensação de facilidade de alteração da realidade causada pelo mundo virtual. Há uma enorme confusão do real com o imaginário causada pela Internet, onde todos parecem ser e viver melhor do que o panorama traduz.


As redes sociais criam a ideia de que a felicidade está a poucos cliques, que é algo mágico e que todas aquelas figuras impecáveis com seus filtros e maquiagens estão além dos problemas triviais da vida. Desejamos ser aquilo que de fato não possuímos e é fácil admirar quem não conhecemos, não? Então fugimos para nossos celulares, para aplicativos de encontros, acreditamos em elogios fáceis, em almas gêmeas, em horóscopo, qualquer coisa que amenize a solidão de nossas almas, que nos engane mais um pouco sobre a dura realidade da vida.


A cultura dos encontros e do sexo fugaz parece ter trazido não apenas mais quantidade do que qualidade, mas também mais tristeza do que felicidade. Uma parte das mulheres apostou nisso como uma forma de rompimento com o passado, como uma mudança de vida e perspectivas e o não atendimento de suas expectativas ultrapassados os primeiros encontros e os primeiros raios de liberdade, parece fazer a ficha cair. A grama do vizinho não era mais verde como aparentava. Talvez tenha ocorrido um erro de avaliação, talvez as estatísticas sejam muito duras, mas há um preço a ser pago.


Os homens fizeram uma limonada do limão e também decidiram se divertir com a ideia, surge a figura do "Chad" e do "Tyrone", as cerejas do mikshake azedo. O problema é que o ser humano não foi feito para conexões abstratas e vazias. Ao longo da vida com suas vicissitudes precisamos de paz e equilíbrio, de apoio e companhia genuína. Sexo é fácil. Sempre foi. Torná-lo ainda mais fácil não muda nada.


Ao me debruçar sobre matérias, pesquisas e depoimentos sobre a "cultura da conexão" não me surpreendi acerca dos resultados, contestações e desilusões. Me dei conta imediatamente que era apenas mais um prego no caixão de uma sociedade que cada vez mais não sabe para onde vai, vez que é guiada por cegos e por narcisistas de toda a sorte, onde ao primeiro sinal de um problema maior o ego se impõe, ceifando relações para constituir outras imediatamente em um ciclo que não parece ter fim ou sentido. Vamos torcer para que um novo equilíbrio seja encontrado a fim de preservar a humanidade de mais desencontros e miragens.


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