Me parece cristalino que a filosofia do momento é o individualismo. A glorificação do EU. "Eu posso". "Eu mereço". "Eu tenho direito". "Eu vou fazer o que é preciso para me dar bem, para levar vantagem". As consequências desses pensamentos são atitudes que fomentam e criam psicopatas. Sim, é exatamente isso.
Quando a ética e os valores se tornam maleáveis, não há dúvida de que a cultura vigente formará criaturas distorcidas, cujo único paradigma será atender a seu ego. O outro, o próximo, será excluído, apagado, cancelado impiedosamente em atendimento ao interesse individual.
Tal comportamento é característica notória dos narcisistas e dos psicopatas. As relações cada vez mais serão norteadas pela hipergamia e desfeitas abruptas e sumariamente vez que o indíviduo será sempre o projeto e não o casal.
O psicopata e o narcisista sempre pensarão: "mas e EU? Sou a única parte da equação que importa". Claro, alguns já tomados por tal filosofia não mais conseguem imaginar um mundo onde o outro é um ser humano. A empatia só existe quando não há nenhum preço a ser cobrado ou quando não arranha o indivíduo.
Os valores de uma sociedade que se formou com enorme influência do cristianismo vão se transformando com a força da internet e das redes sociais, onde tudo é vazio e numérico. O outro é abstrato e pode ser apagado com um clique de mouse.
Tudo é aparência e filtrado, e as conexões assim vão se estabelecendo, tênues, frouxas, gananciosas. A sociedade hodierna vai então criando narcisistas que vivem exclusivamente para atender suas exigências e neuroses. "Nos deram espelhos e vimos um mundo doente".
O maior receio deixou de ser se tornar uma pessoa sem ética que vilipendiaria a sua criação e decepcionaria quem a ama, mas sim se tornar irrelevante ou ser esquecida em um mundo virtual e fugaz. E aí vale tudo, inclusive a superexposição. A ausência, a ingratidão e a indiferença são glamourizadas como sinal de força e não de fraqueza. Qualquer coisa se justifica pelo "EU".
E assim nossa sociedade vai se destruindo autofagicamente. Almas devoram almas. Metodicamente ela endeusa o ego, produz psicopatas e nela narcisistas se multiplicam como ratos. O circuito é natural e invevitável face ao enorme vazio em nossos corações, resultado de um mundo onde cada vez mais o sentido da vida não se estabelece em conexões reais e de afeto, e sim em um contador de likes e de inscritos.
A ironia é que a única solução para tapar o buraco está no oposto. Há milhares de anos um carinha disse que a única vida que vale a pena é aquela onde nos entregamos a resgatar a quem precisa, a nos dedicarmos ao OUTRO. E aqui vai a dica de um ateu. Ele estava certo. Sempre esteve.
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