A qualidade do cinema e da literatura despencou e poucos negam tal fato. Por que com a música seria diferente? Sim, eu sei, ok? Há exceções. Mas em um contexto geral...a música está uma porcaria. Pelo menos a que chega a em nossos ouvidos, a que rende, a que tem investimento de gravadoras e mídias grandes.
E eu vou te dizer qual é o maior problema, qual é o elefante na sala. A música moderna não emociona. Considero a música a única arte que causa um impacto imediato. Ela entra por nossos ouvidos e tem o poder de nos catapultar para outro mundo imediatamente. Nos transportar para o passado para nos fazer reviver momentos de nossa história pessoal e quiçá, momentos históricos de alguma década qualquer.
O meio digital proporcionou enormes mudanças na indústria musical e facilitou a muito a vida de pequenos músicos que puderam passar a produzir trabalhos de excelente qualidade sonora de dentro de seus próprios quartos. Os computadores se tornaram então seu principal instrumento. E isso, em minha humilde opinião, talvez tenha sido, sob certos aspectos, também um problema.
Quando ouço a música atual, seja ela de qual gênero for, e me refiro aquela que permitem que chegue a nossa casa atrávés de redes sociais e plataformas de streaming, as recomendadas pela propaganda e pelas gravadoras, ela me parece absolutamente genérica e artificial. A voz costuma ser eivada de autotune, instrumentos digitalizados, drums machines, parece que falta alma, que falta "gente".
Enquanto escrevo esse pequeno texto, ouço "Sailing" de Christopher Cross, uma canção de minha infância, e me deleito com a poesia de sua música e com a suavidade de sua voz. O arranjo é espetacular, rico, o piano adiciona caráter e profundidade, tudo se encaixa. Fico pensando se um dia teremos uma nova leva de músicas e músicos como tivemos nas décadas de 70 ou 80. Claro que não...
O mundo mudou muito e a música consumida hodiernamente reflete a sua realidade e de sua sociedade atual. De vez em quando ocorre um "acidente", um cometa passa e algo realmente bom e original aparece. Ainda temos um Radiohead (longe de serem novos) saindo da mesmice e com alcance, mas apenas a dificuldade em lembrar de outros nomes e bandas, fora os dinossauros do rock, já é algo sintomático.
Na falta de paramêtro os jovens vão consumindo coisas como Cardy B, Taylor Swift e Billie Eillish como se fosse algo primoroso,
profundo ou impactante, quando não passam de fast food musical tão genérico quanto um Big Mac qualquer. E calma, você pode e deve discordar se for o caso, ok?
Vejam, não há problema em se ouvir tais artistas e até se gostar. Meu problema é com a valoração e com o fato de que algo bem melhor poderia ter a mesma divulgação. Sou contra é nivelar por baixo. Consumi música intensamente a minha vida inteira e não me recordo de tempos de composições tão pobres, e não me refiro especificamente ao sertanejo universitário, ao funk carioca e ao "bunda music" que alguns chamam de axé. Há uma miséria intelectual e musical generalizada. Faltam ideias e sobram rimas pobres e tolas.
O pior é que isso está acontecendo por todos os lados. Há um enorme problema de paradigmas, de modelos, na sociedade atual. Ou eles são muito baixos, ou muito ruins, em geral. Quando entro nas faixas em destaque de meu serviço de streaming e as ouço, parece que todas são variações da mesma música. Sons artificiais, postiços, sintéticos, sem espírito.
Como um cara que conviveu com a guitarra durante décadas, eu tenho muita dificuldade em lídar com essa proposta menos orgânica da música moderna. Sou filho do blues, do Rock Clássico, do Progressivo, da tecnologia bem empregada nos instrumentos e que nos trouxe coisas como New Order e a guitarra indefectível de The Edge. Sendo assim, jamais consiguirei atenuar parâmetros ou abdicar de qualidade, justamente porque sei que é possível fazermos bem melhor. Se você viu Leandro jogar, nunca irá se contentar com Rodinei. 😉
PS.: por favor, se puderem, deixem recomendações de bandas novas nos comentários. Adoraria estar errado. Juro. 🎸
Comments