Em síntese apertada MGTOW se constitui em uma maneira de viver a vida onde homens adotam postura de não se relacionarem mais com mulheres de forma aprofundada ou até mesmo em abandonarem qualquer tipo de conexão, se voltando exclusivamente para suas próprias vidas e interesses. Investindo seu dinheiro apenas em sua existência, desenvolvendo hobbies e se dedicando a amigos e ao próprio corpo e saúde.
Faz algum tempo Luiz Felipe Pondé fez um vídeo onde afirmava que o MGTOW (Men Going Their Own Way) era um “movimento” reativo e de ressentimento. Concordo com o fato de ser reativo, mas jamais com a parte do ressentimento.
Em que pese a tonelada de críticas que o MGTOW recebe por conta de sua proposta, e elas vêm de todas as partes e espectros políticos, há que se compreender a realidade atual gerada pelo feminismo radical, pelas leis que ferem totalmente a isonomia constitucional no que tange a divórcios e guarda de filhos, além é claro da avalanche de denúncias falsas que levam milhares de homens a enfrentar gigantescos problemas na justiça.
Sendo assim, o MGTOW é claramente uma reação proposta a tais condições enfrentadas por homens na seara jurídica, mas também no campo comportamental em virtude da influência da hook up culture, da relativização da fidelidade e da hipersexualização hodierna.
No que concerne à questão comportamental, o MGTOW coloca na balança que a traição,
- que se tornou endêmica e equilibrada entre os sexos a partir da década de 80, somada à influência do feminismo e à difusão das teoria oriundas da psicologia evolutiva e da propensão hipergâmica das mulheres - seria praticamente certa em algum momento da relação. Ou haveria traição ou o divórcio (ocorre em mais de 50% dos casamentos e com iniciativa de 80% a 90% das mulheres). Ora, com tais números, fica muito difícil se afirmar que o MGTOW é proveniente de ressentimento e não de fatos do cotidiano.
A adesão e difusão tem se tornado massiva, bastando ver a quantidade de conteúdo produzido em redes sociais, na proliferação de contas e canais dedicadas ao MGTOW. No Brasil ele ainda começa a ganhar força, mas considerando o delay cultural que temos em relação a países como os EUA, a projeção é de explosão em pouco tempo.
É evidente que mesmo homens que desconheçam o MGTOW tem adotado esse comportamento, e o mais recente censo feito no Brasil claramente mostra essa tendência. Queda vertiginosa da natalidade e de casamentos, aumento substancial de divórcios. Desse “desencontro” entre homens e mulheres, dessa ruptura estrutural, jurídica e comportamental, nasceu e floresce o MGTOW.
Ao lermos os comentários deixados em conteúdo dessa natureza, se percebe sim algum ressentimento pelos que sofreram com as consequências de relações desastrosas, mas também se notam muitos casos de jovens que agem preventivamente por conta do cenário de relacionamento moderno. Essa postura reativa masculina possui o claro intento de gerar uma mudança futura do quadro atual. E ela tende a vir.
Pesquisa recente nos EUA indica que em 2030 mais de 45% das mulheres estarão solteiras e sem filhos. Esse é o outro lado da moeda. Vídeos entopem a internet cobrando o retorno de uma postura mais tradicional dos homens. Uma volta ao “papel masculino” de prover e proteger. Mas os homens se perguntam: “se eu não tenho lealdade, fidelidade, se as leis podem me tomar tudo da noite para o dia, inclusive a minha casa, minha liberdade e meus filhos, se o divórcio se tornou a regra, se terei que pagar pensão durante anos a fio me tornando prisioneiro do sistema, por que investiria em uma relação? Minha vida não seria mais fácil sem ela?”
A pergunta faz todo o sentido para grande parte dos homens, atualmente.
Red Pill, Black Pill, MGTOW, são maneiras de entender e viver a vida que chegaram como frente a uma realidade moderna e tendem a fazer com que o estado gradativamente mude sua direção, equilibrando mais a balança entre os gêneros. Se assim não o fizer, a queda da natalidade e dos casamentos persistirá, atingindo ainda mais fortemente a economia do país, os sistemas de aposentadoria e programas sociais. Esse desastre já é uma realidade em nações como Coreia do Sul e Japão.
Filhos se tornaram caríssimos e são para a vida, e a insegurança oriunda de casamentos e relações fluidas, não inspira os homens a fazerem tal investimento. A taxa de natalidade despencando (no mundo inteiro) é o resultado dessas mudanças de valores e de mentalidade.
Em algum momento alguém terá que ceder e ao que parece os homens chegaram no limite. A mulher entrou forte no mercado de trabalho, se independeu, ganhou direitos (muitos justos), mas a balança se desequilibrou na esfera jurídica. O homem então passou a se defender da única forma que pode em um jogo que entende ser “de cartas marcadas”. Passou a simplesmente não jogar.
A solução, no entanto, me parece triste. Quando a escolha é bem feita, a mulher oferece motivação, nutrição e energia mental para a vida do homem que, via de regra, vai catapultar a sua existência para cima. Canalhas, aproveitadores, ladrões, psicopatas, existem em ambos os gêneros e as generalizações e acusações mútuas apenas atrapalham.
Nos últimos 15 anos homens ouviram que de nada servem, que não prestam, que se tornaram ultrapassados. Agora adotam o discurso de que todas as mulheres trairão, roubarão seu dinheiro e bens, os condenarão a ficarem sem seus filhos mas pagando por eles, e lhes serão aplicadas denúncias falsas na delegacia mais próxima. Todas essas conjecturas e conclusões me parecem ser o resultado da interferência direta do estado nas relações. E agora o tiro sai pela culatra. O que o estado fará para resolver o problema que ele mesmo criou?
Os homens se negam a formar famílias e assim ampliar o capitalismo de consumo e o pagamento de impostos, vez que a vida de solteiro exige muito menos, pois qualquer apartamento espartano, estóico, atende às premissas da vida individual. Quando o homem foi libertado da obrigação de prover, ele passou a necessitar de pouco.
As mulheres, por sua vez, respondem com pets, vinho e ansiolíticos. A remoção das obrigações da mulher, também removeu as obrigações tradicionais dos homens. Para algumas mulheres essa ficha ainda não caiu. E a ficha é: o feminismo, fora as questões legais, libertou os homens. Se ele não se casa e limita suas relações, fica fora do jogo e domina sua existência. Basicamente essa é a premissa MGTOW.
A solidão entre todas as idades é o corolário funesto do jogo não jogado, dos dedos que não mais se entrelaçam ou que se afastam com enorme facilidade ao sinal de qualquer problema, cedendo e sensíveis às tentações virtuais e ao narcisismo endêmico. O colapso é inevitável.
O MGTOW chegou para ficar como uma resistência à falta de isonomia legal e às mudanças comportamentais e de valores trazidas por movimentos radicais. E não adiantam as críticas e as birras juvenis. O irônico é que as mulheres aos poucos vão percebendo as consequências do que o feminismo trouxe, e muitas já afirmam abertamente que não pediram por tais mudanças, que foram enganadas, clamando pela volta do cavalheirismo, do cara que trocará o pneu para ela, que a protegerá em um mundo violento e desumano.
Para que esse desencontro termine será preciso ceder. Não é possível ter todos os direitos, todas as benesses concedidas pelos tribunais, toda a segurança em decisões unilaterais. Uma simples pesquisa no Youtube por conteúdo do gênero mostra que o jogo vira ou se extingue. Simples assim.
Só podemos torcer para que as pessoas percebam que as relações baseadas em interesses, em materialismo e hedonismo, não conduzem à felicidade, mas à solidão (mesmo que acompanhada). Ao assistirmos vídeos e mais vídeos de lamúrias e amargura de ambos os lados, e que contrastam com a “felicidade” enganadora das redes sociais, nos damos conta de que algo precisará ser feito em breve no sentido de mudar estruturalmente esse quadro.
A própria continuidade da raça humana depende disso. De fecundações, de lealdade, de encontros. Que tais movimentos de resistência sejam encarados como realmente são, uma saída manca e momentânea para um problema que ainda se encontra sem solução. Torçamos para que a sociedade mude seus rumos e que a tríade individualismo, instrumentalismo, narcisismo, deixe enfim de reger as relações interpessoais.
O tempo corre…
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