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Foto do escritorHP Charles

Máscara.

Atualizado: 24 de nov. de 2024

Poucas pessoas são mais repugnantes e abjetas do que um mascarado. Do que o seu falso moralismo. Do que o cinismo repulsivo em sua hipocrisia. Do que o arqueiro que atira palavras em alvos escondidos. Do que o ressentido que vomita mágoas porque sua existência miserável é um grande teatro onde é preciso lutar diariamente a fim de enganar o mundo, vez que não consegue enganar a si mesmo.


Suas posturas e crenças não correspondem à verdade, e não raro pregam o oposto do que praticam. O falso moralista é um cínico incurável e portanto uma pessoa em quem nunca se poderá confiar, vez que sabe o valor de algo mas jamais o reconhece. Ele usa a máscara para se disfarçar e esconder o mal que deseja propagar. Ele confunde para lucrar. Ele engana para se suportar. Ele manipula para obter. Ele é vazio. E por isso seu maior medo é ser enxergado além de sua fachada.


Ele finge ser a vítima quando é o criminoso. Ele projeta suas patologias a fim de distância-las de si mesmo. Seu maior pavor é o que o espelho mostrará se devidamente iluminado, pois a escuridão é sua casa e a dor, seu alimento. Ele passa seus dias perturbado, contando os minutos até que a farsa seja descoberta. Ele é um estelionário emocional, intelectual e espiritual.


Ele mente sobre seu passado para sustentar seu futuro. Ele é dejeto e não nutrição. E sabe disso. Sempre soube.


Ele pula de vítima para vítima como fazem os antigos demônios. Não há objetivo além da destruição. De corpos. De almas. De vidas. Ele é carne, mas não é vida. É oco e por isso não preenche.


O mascarado é um tumor que nunca para de crescer e por isso precisa ser extirpado. Ele nos faz duvidar de nossas convicções quando não possui nenhuma que seja eivada de virtude. Ele influencia sem mérito, sem transparência, sem fito benigno. Ele condena sem provas. Afirma sem alicerces. Seu valores são distorcidos e sempre possuem segundas intenções. Sempre.


O mascarado...


prega honestidade enquanto mente


prega sobre a importância da fidelidade enquanto trai


prega sobre o valor do amor enquanto abusa


prega bondade enquanto humilha


prega sobre amizade enquanto te envergonha perante os amigos


prega sobre a importância da família enquanto te isola da sua


critica a avareza mas é mesquinho. Odeia a pobreza mas é pobre


ele diz que não quer nada de você, mas toma tudo de você


ele diz que cuidará de você, mas desaparece quando você mais precisa


ele te fez se sentir especial para poder te diminuir em seguida


afirma que drogas fazem mal, exceto quando as usa


arrota que ser abusivo é ruim, exceto quando culpa você por tê-lo feito abusar, e isso é abuso


ele se vitimiza quando sabe que você é a única vítima. Ele chora sem querer chorar, lágrimas postiças, sintéticas, plásticas.


Ele esconde o próprio inferno na dor alheia e só assim consegue sorrir. Um riso pretensioso e inoportuno, pois a tristeza do outro jamais pode fazer alguém sorrir. Apenas sádicos o fazem.


O mascarado cria um mundo de miragens onde acredita em sua superioridade. Mas como é inferior, anseia desesperadamente para que você garanta que é ele especial. Ele precisa que você exista para o validar. Ele rouba sua identidade porque não possui nenhuma. Ele destrói porque é incapaz de construir genuinamente. Ele é, acima de tudo...profundamente infeliz.


Ele nunca encontrou ninguém além de suas projeções.


E por isso inveja. Por isso acalenta vinganças. Inventa um mundo onde tem valor.


Ele é uma criança aprisionada no corpo de um adulto. Nunca crescerá, pois não há cura para seu transtorno.


Mas um dia, ao tropeçar em seu falso ego, suas compulsões e sua mitomania, a máscara inesperadamente sai do lugar e o outro vislumbra o olhar vítreo e inumano além da anteface. E ele sabe que perdeu. Se desespera. Uma nova máscara precisará ser construída. Em outro lugar. Para um outro alguém. O recomeço do mesmo ciclo, travestido de esperança. Um novo cavalo de Tróia será montado a fim de vender a nova roupa do imperador. Seu uniforme real é o de um gigolô de almas, que usa, guizos e o chapéu pontiagudo de um charlatão rasteiro, apropriado para os bobos da corte.


O mascarado é, acima de tudo um perdedor. E a derrota é seu único destino. Ele fará de tudo para escondê-la em novas vítimas, em novas ilusões. E ele precisa fazer tudo muito rápido. Olhar no espelho é por demais doloroso. É preciso que outros o façam e lhes digam o que ele precisa ouvir. Ele precisa de suprimento.


"Vamos! Rápido! Antes que descubram!"


"Vamos, lance a rede! Diga que se importa! Ofereça flores de Hiroshima! Transe! Manipule! Use! Finja que é amor! Finja que é real, caralho! Finja! Finja! Finja!!!!!"


Ele não pode ficar só e por isso se divide em vários. Ele precisa de tentáculos. Ele vampiriza porque essa é a sua natureza. Um só pescoço não basta. Uma só alma não é suficiente. Seu nome real é Legião - porque são muitos em um só corpo - e não o nome que lhe foi emprestado.


Mas um dia tudo acaba. Porque sempre acaba para ele. Então ele precisa fazer tudo de novo. Enganar novamente. Mentir novamente. Fugir de si mesmo, novamente.


No fim precisará, enfim, olhar no espelho e tirar a máscara maldita. Aquela que o acompanhou durante toda a vida. Sua única arma e escudo.


E ele então a despe. E não vê nada.


Porque nada existe. Nunca existiu.


Essa é sua maldição. Seu fim inescapável.


Ele se contorce, urra, bate o pé como a criança que sempre foi, sendo por fim puxado para o inferno de onde surgiu. Lá encontrará outros como ele. E se reconhecerá como a criatura mais feia que caminhou na terra. Sua alma é escura, seu interior é podre, seu corpo é roto.


E se dará enfim por vencido.


Pelo bem.


Porque não há mal que nunca termine.


O sol brilha lá fora. Mas não para ele.






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