top of page
Foto do escritorHP Charles

Narcisismo e as redes sociais.

Não é sem motivo que o tema “narcisismo” se tornou tão falado, tão abordado e tão procurado. Antes fosse. Houve um aumento significativo dos casos de narcisismo e psicopatia e, além disso, parece haver um aumento significativo em mulheres.


No final da década de 80, 75% dos casos de narcisismo eram relatados em homens. Era, portanto um transtorno fundamentalmente ligado a homens. Atualmente os casos se dividem: 50% deles são em mulheres. Com a psicopatia ocorre o mesmo. Hoje, 1/3 da psicopatia se verifica em mulheres. Qual seria o motivo desse grande aumento de casos e mais, por que estaria aumentando o número de mulheres com esse transtorno?


Penso que existem dois pontos relevantes. O primeiro é que as redes sociais, os aplicativos de encontros, funcionam como “nave mãe” para narcisistas e psicopatas. Eles sempre estiveram aí, mas agora podem se mover e encontrar vítimas de forma muito mais fácil e abundante. As DMs e os Tinder da vida oferecem o conforto e a discrição de que precisam.


Em uma sociedade onde a recompensa imediata e os prazeres instantâneos se tornaram quase obrigatórios, a emoção e a intensidade do “love bombing” passou a ser algo a ser glorificado, o tempo para se conhecer, para se enamorar, para se verificar intenções e comportamentos, se tornou secundário. O narcisista oferece uma fantasia imediata. Um amor a jato, sexo sem limites logo nos primeiros encontros, presentes, viagens, casamento, filhos, tudo encapsulado em poucos dias. E a sociedade atual parece bater palmas. Estamos apenas colhendo os resultados.


Outro ponto relevante me parece ser o fato que o pessoal lá da cobertura, os grandes CEOs, os grandes políticos, líderes religiosos, influencers, gente que direciona e condiciona, possui uma ENORME quantidade de narcisistas patológicos e psicopatas em suas trincheiras. Se eles ditam as regras, os costumes, os hábitos, como não haveria aumento de casos?


As crianças em sua fase inicial, justamente quando há a formação e construção do “ego” estão frequentemente sendo instrumentalizadas, servindo de suprimento para os pais, sendo “pais para os pais”. São expostas, vendem likes e produtos. É evidente que isso trará consequências na medida em que se tornam “objetos”. Novos narcisos são fabricados.


As relações parecem estar sendo construídas e formalizadas para as redes sociais e não com base em real afeto. Evidente, nem tudo é consciente, o que ainda piora a situação. Em um mundo de fantasias e quimeras, o narcisismo encontra mar calmo para navegar. Esse lugar é justamente onde o narcisista vive desde a sua tenra infância. Em sua Nárnia particular e doentia. Mas isso traz consequências graves para quem se aproxima.


Relações e pessoas destruídas, vidas estilhaçadas, uma avalanche de denúncias falsas, desencontro e desconfiança. O narcisista não é alguém real, e portanto, suas relações não são genuínas. O problema é que as vítimas normalmente só descobrem isso ao final. Por vezes, anos depois.


Mas por que o aumento abissal de casos em mulheres? Cumpre ressaltar que o número de casos de Bordelines, antes frequentemente relacionado a mulheres, hoje também se divide em 50% de casos em homens. Estariam as mulheres se tornando mais “masculinas” e os homens mais “femininos”? Essa é a teoria de Sam Vacknin, maior autoridade no assunto, para explicar tal fenômeno.


“Características e comportamentos antes muito relacionados a homens, hoje são ressaltados por mulheres”, diz ele. É uma teoria. A alternância de papéis e visões sobre os gêneros na sociedade mudou e isso pode ter afetado a dinâmica e frequência com que tais transtornos atingem as pessoas.


O fato é que o narcisismo é uma realidade e tem crescido. Os índices de TPN na casa de 6% da população são contestados veementemente pelas maiores autoridades no assunto, que apostam em quase 15%. E justificam tal número porque narcisistas simplesmente evitam terapias e testes. Porque mentem em pesquisas, porque são difíceis de se detectar em nível patológico. Mas o estrago parece estar sendo feito também em nível “subclínico”.


O “estilo” narcísico incorporado pela sociedade moderna onde o dinheiro, a aparência e a hipersexualidade parecem nortear as metas e relações, se confundindo com “sucesso” e felicidade, está causando estragos na saúde mental da população em níveis GLOBAIS.


Christian Dunker afirma com precisão que “vivemos uma crise na saúde mental, uma crise global. Em termos de teorias, abordagens terapêuticas, políticas públicas. Tem diminuído o investimento, apesar do aumento da preocupação.“


Infelizmente a busca por informações sobre narcisismo (algo positivo e importante), possui motivos além dos midiáticos. O assunto me traz enorme interesse e na medida em que me especializo e me aprofundo nele, percebo seu grau de malignidade. O abuso narcisista é inigualável pois atinge às vítimas de forma total e prolongada.


No momento poucas coisas podem ser feitas para combater tal mazela. Informação e terapia para as vítimas. Muitas não se dão conta do que experimentaram, saindo de relações onde perderam tudo, inclusive a identidade. Esse é o condão nefasto do abuso narcisista.


Relações velozes, pessoas inverossíveis, máscaras abundantes. Nesse ambiente o narcisista se reproduz espalhando caos e destruição, deixando rastros de vidas e famílias desconstituídas. A ausência de culpa, remorso, responsabilização, a obliteração do apego emocional, as transições de relação catapultando parceiros ao vazio, se tornam habituais e muitos já as normalizam.


Quando entendermos de fato que o que nos torna humanos é a empatia, é nossa capacidade de ver o outro como externo a nós, como alguém que sofre, que teve história e sente, o narcisismo então será entendido e visto como realmente é. Ou seja, exatamente o oposto disso. Como algo oco, vazio, estéril.


O narcisista é um humano inacabado. Seu ego jamais se formou e jamais se formará. Ele não pode amar simplesmente porque “não é”. Essa é a sua real face quando a máscara cai. O “nada”.

428 visualizações

Posts recentes

Ver tudo

Comments


bottom of page