Em primeiro lugar, se faz necessário ressaltar mais uma vez que se estima que 50% dos casos de Transtorno de Personalidade Narcisista pertençam a mulheres, em que pese costumeiramente se usar o masculino para se referir a narcisismo. Portanto, ao ler o texto, entendam que não faz diferença o gênero adotado.
O narcisista grandioso é claramente o menos “maléfico”, se que é podemos dizer assim. E o é porque é facilmente reconhecível. Ele é um tolo com a idade mental de uma criança, normalmente com inteligência pedestre, com ilusões fantasiosas de grandeza sobre si mesmo, quase uma caricatura. É aquele sujeito de quem costumam debochar quando não está presente, tal sua arrogância alienada de conhecimento. Ele é “engraçado” de uma maneira rasa e negativa, com suas crises repetidas de ciúmes e controle, com seus ataques de fúria por coisas insignificantes e pequenas, com agressividade contumaz à menor crítica.
Já o narcisista encoberto é altamente perigoso. Uma cobra na grama. É alguém que finge ser humilde, modesto, afável, altruísta, comunitário, sensível. Muitos se refeririam a ele como “bonzinho”.
Mas na verdade ele é uma máscara. Uma máscara de maldade e ódio, um pântano de inveja e agressividade passiva. O narcisista encoberto é um lago de toxicidade que inundará os pulmões de suas vítimas com o passar do tempo.
O narcisista encoberto é muito mais sofisticado e complexo, e portanto, muito mais maligno. Ele é dissimulado, cuidadoso, envolvente, usa o vitimismo com frequência, faz a real vítima ter pena enquanto é enganada. Ele é muito mais falacioso e regulado em seus sentimentos, apresentando por vezes uma frieza que se assemelha a de um psicopata.
Por fora da capa de humildade é extremamente arrogante e por vezes desafiador (outro traço de psicopatia). Ele é socialmente aceito e em sua mente, apesar de suas idealizações antissociais, criminosas, aparenta ser solicito, polido e possui senso de humor. Ele machuca no escuro, é agressivo de forma escamoteada, é brutalmente honesto com o intuito de destruir.
Acima de tudo, o grande perigo do narcisista encoberto é que é muito difícil convencer os outros sobre quem ele é, ou seja, é difícil mostrar às pessoas que o narcisista encoberto é de fato um narcisista patológico. Ele parece ser maravilhoso. Um guru, um salvador, uma pessoa “tão verdadeira”, que não poderia ser um narcisista.
Na verdade o narcisista oculto é o ser mais venenoso e doente que existe e certamente a pior versão do narcisismo. Ele abusará por anos, talvez por décadas de seu parceiro e o descartará abrupta e implacavelmente, mas mesmo assim terá inúmeros apoiadores (flying monkeys) que o defenderão prontamente e fielmente, acreditando naquela máscara inumana.
Em uma sociedade com crescente narcisismo estimulado por redes sociais, aplicativos de encontros e consumismo, o narcisista encoberto vai se transformando quase em uma questão de saúde pública. Atualmente se estima que uma em cada seis pessoas possuem alto grau de narcisismo. É um número assustador e precisa ser levado a sério.
“O maior truque do diabo foi fazer as pessoas pensarem que ele não existe”.
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