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Narcisistas e o mal. Por que narcisistas são frequentemente comparados a “demônios”?

Atualizado: 7 de out. de 2024

Com frequência leio e recebo comentários associando narcisistas a demônios, vampiros e a possessão. Há sentido nisso? Por que é tão comum encontrarmos tais comparações? O que ocorre com as vítimas e qual a característica do abuso perpetrado por narcisistas que gera essa percepção?


Não faltam relatos, vídeos, textos, onde há testemunhos sobre um diferente odor do narcisista (algo sulfúrico ou podre), olhos negros, mudanças faciais repentinas, olhares aterrorizantes. Imagens que poderiam muito bem ser atribuídas a monstros ou demônios. Seriam os narcisistas os “possessos” dos tempos antigos? Os endemoniados?


Me parece claro que as características do narcisismo e a natureza particular e sádica de seu abuso cria essa visão ampliada e caricata do narcisista. Narcisistas são pessoas que possuem um transtorno de personalidade que os faz não possuir empatia e viver em um mundo de fantasia para onde levarão suas vítimas. Nesse mundo irreal, eles serão reis, perfeitos, irretocáveis…e crueis.


Na verdade, apesar de existirem diferenças significativas, todos que possuem transtornos Cluster B (borderlines, psicopatas, histriônicos e narcisistas), apresentam mudanças de comportamento repentinas, alterando emoções, com variação de percepção acerca do mundo e das pessoas, as transformando de “deuses” em “imprestáveis” em minutos. O que era tudo de bom, passa a ser tudo de ruim em um curto período de tempo. E assim o fazem dentro de ciclos inexoráveis que se consignam em “idealização, desvalorização e descarte”(e substituição*).


Nesse diapasão, suas vítimas serão usadas e descartadas, muitas vezes perdendo tudo. Saúde física e mental, economias e bens. Após isso, tal como fariam demônios ou vampiros, sumirão (por vezes retornarão - hoovering), partindo em busca de novo suprimento, deixando terra arrasada. Cumpre ressaltar mais uma vez: existem diferenças significativas entre os transtornos de personalidade do Cluster B.


A literatura clássica aborda com pertinência o narcisismo em livros como “O Médico e o Monstro”, “Drácula”, “O Retrato de Dorian Gray” e “Peter Pan”. Freud já abordava o narcisismo em 1914, mas de forma distinta da que se concebe hoje. E isso é natural, o tempo passou, a sociedade e os valores mudaram. Atualmente não é raro pessoas enxergarem o narcisismo como algo positivo, mesmo quando ele traz prejuízo à vida de terceiros. Há a glorificação do narcisismo o relacionando a sucesso e dinheiro, consignando o individualismo e a falta de empatia. Há toda uma estrutura de sadismo que envolve o abuso narcisista que muitas vezes só é conhecido pelas próprias vítimas na parte final do ciclo e até mesmo após o descarte, onde há a tentativa de destruir o ex parceiro através de difamação, ou dos filhos, ou financeiramente. Muitos enxergam os narcisistas como mero criminosos, como estelionatários ou trambiqueiros que não buscam nada além de dinheiro. Em muitos casos a relação acaba, mas não o abuso, pois a perda do “controle” enfurece o narcisista.


As redes sociais fazem um estupendo trabalho no sentido de amplificar o narcisismo nas pessoas (todos possuímos um determinado grau de narcisismo), as fazendo acreditar em miragens, em vidas perfeitas, em relações cinematográficas, em um mundo fantástico e instagramável que acaba por consumir a alma de quem acredita que a felicidade pode ser perpétua e que o sofrimento é algo alienígena à existência humana.


Narcisistas vivem por validação externa. Eles precisam MOSTRAR o quão perfeitas são suas vidas e que seu caráter é ilibado. Mas para dentro de sua casa, de sua relação e família, a máscara que vestem não resiste. E é por isso que as vítimas se surpreendem quando a desvalorização de repente começa. Aos poucos descobrem que tudo o que viveram foi irreal. Que aquela pessoa jamais existiu. Nesse sentido narcisistas sim são vampiros, demônios, monstros, que apenas aparecem quando menos se espera. Surgem como príncipes e princesas, e se vão como criaturas malignas, que roubaram sua vida, seu tempo, sua saúde e seu dinheiro.


O narcisismo e a psicopatia tem crescido e há estatísticas nessa direção. Em breve teremos uma questão de saúde pública quanto a tais transtornos e patologias? Me parece difícil fugir de tal pergunta no sentido do que a realidade da sociedade moderna vem apresentando no que tange às relações interpessoais.


Narcisistas instrumentalizam os outros. Seus parceiros íntimos, seus filhos, seus colegas de trabalho, seus amigos. Todos são objetos para o narcisista. “Coisas” que podem ser usadas, descartadas ou destruídas. Não há empatia. Não há responsabilidade pessoal. Não há verdade fora do que o narcisista acredita que seja real. Não há arrependimento ligado à consequência de suas atitudes. Não há apego ou luto fora de uma situação de interesse. O narcisista vê o outro como um mero apetrecho doméstico. Para o narcisista não faz a menor diferença o que você fez por ele, porque sua “grandiosidade” o faz entender que a sua mera companhia é uma enorme reconpensa.


Então, as comparações com entidades malignas possuem sentido. Não evidentemente o sentido sobrenatural, o bíblico, o metafísico, mas sim o comportamental. A ausência de culpa, remorso, luto.


Tudo isso é monstruoso, vampiresco, “inumano” e quem conviveu com um ser desse naipe e teve sua história de vida marcada por tal criatura, sabe que não há hipérbole em tais comparações. Mas há mais uma coisa também a se considerar. Tais seres místicos, literários ou não, seriam felizes? Ou o final da história sempre lhes reserva algo trágico? É possível ser feliz sem a real capacidade de amar? De se compadecer? De ser empático? É possível ser feliz sabendo que destruiu vidas e existências e que é incapaz de mudar? Se tornando paranóicos e apresentando episódios psicóticos, tendo sempre de abusar de “mecanismos de defesa” primários, infantis a fim de não colapsarem?


Quando o livro se fecha, quando a história realmente acaba, o vampiro morre ou pior…é condenado a viver com sua maldição. E então, um dia, todos descobrem que aquele conto nunca foi bonito ou real. Monstros sempre serão monstros. Mudam as vítimas, mas jamais o demônio.

*Sam Vacknin, maior especialista mundial em narcisismo aduz que deveria ser consignado uma quarta fase ao ciclo narcisista, que seria a substituição.




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