Em 2023 experimentamos uma época onde o individualismo e o "ter" norteia as relações e o próprio mundo em que vivemos. O sucesso é medido pela capacidade financeira e não mais pela felicidade, os valores vão se transformando e a moral parece cada vez mais maleável por conta do dinheiro, de fama e poder. Uma breve pesquisa pelas redes sociais demonstra um verdadeiro muro de lamentações sobre as dificuldades em se estabelecer novas relações significativas e profundas. Há uma troca infindável de acusações entre ambos os sexos e um retrato de pouca esperança, desconfiança e ressentimento. Parece não haver culpados, apenas vítimas. Curioso, não?
Existe um ditado que diz: você mede a lealdade da mulher quando o homem não tem nada e a lealdade do homem quando ele tem tudo. Hodiernamente o dinheiro é visto como fator preponderante em conexões - sejam elas afetivas ou não - e aspectos como lealdade, fidelidade e afeto genuíno, ficam fragilizados. Quando a hipergamia se tornou um fato rotineiro, recorrente e até glamourizado, as relações automaticamente entraram em xeque. E não poderia ser diferente. Enquanto isso os divórcios aumentam astronomicamente em países ocidentais.
A grana parece infectar as conexões modernas, as corrompendo. O amor, o sexo, o casamento, padecem com a falência moral de parte da sociedade que se entrega ao individualismo e ao mundano. O consumismo desenfreado, a ganância e o narcisismo parece atingir em cheio o coração de homens e mulheres, consignando relações fragéis. Zygmunt Bauman nos alerta sobre o fato de que as relações, com o passar do tempo, "estão ficando cada vez mais superficiais e o contato entre os indivíduos é cada vez menor". Ele afirma que a sociedade está se tornando líquida, pois as "relações escorrem entre os dedos".
Não vamos fingir que o dinheiro não atrai. Mas dito isso, fica a imediata pergunta: atrai a quem? Se você não se importa, tanto faz, claro. Mas é óbvio que a maioria deseja criar conexões sólidas, leais e profundas, e precisa entender que se é o dinheiro que criou aquele laço, toda a relação será baseada nele. Assim, ele te conduzirá a pessoas DESLEAIS. Veja, mesmo que se cuide aqui de um homem com bastante idade, acima do peso, ainda atrairá muitas mulheres jovens se tiver muito dinheiro. E sabe por quê? Porque ele será visto como um INVESTIMENTO e não como uma pessoa. Mas por que alguém quereria mulheres assim?
É preciso entender que o dinheiro só conduzirá a pessoas que não estão disponíveis emocionalmente, mas o caráter, o humor, o carisma ou a inteligência, realmente podem criar conexões genuínas e honestas. O poder financeiro evidentemente seduz. Um carro caro, jantares nababescos, jóias, podem trazer mulheres para o seu redor, mas isso é exatamente a mesma atração gerada por bundas definidas ou seios grandes. É isso o que se busca? Mulheres atraídas por dinheiro e homens por bundas? Ora, se o cara facilmente se distrai por um rosto bonito, ele vai se apaixonar pelo próximo rosto bonito de 25 anos. Que miséria. Relações ocas.
E se um dia o dinheiro acaba? E quando a pele se tornar mais flácida? E quando a bunda cai? "A gravidade sempre vence". Ora, basta trocar de parceiro, não? Qualquer coisa para evitar o "tédio". O quadro não parece promissor atualmente. Os laços se tornam cada vez mais tênues quando as pessoas acreditam que fizeram 100 amigos no mesmo dia no Facebook. Se esquecem que o mesmo clique de mouse que criou uma "amizade" pode bloqueá-la um dia depois.
Enquanto isso as conexões padecem, promessas são quebradas, votos rasgados, amizades destruídas, a solidão se torna endêmica e contumaz. O dinheiro sempre será algo relevante na medida em que garante nossa sobrevivência, mas quando ele passa a ser o fator determinante ao invés dos valores morais que une as pessoas, então tudo está perdido, pois o câmbio será um preço que não é afetivo, mas sim financeiro. As trocas serão se traduzirão em mero comércio. E então tudo estará a venda. Sexo, amor, lealdade, compaixão.
Assisto a tudo isso assustado. Sou filho de pais que lutaram e conquistaram tudo juntos, unidos desde a adolescência até a morte, ultrapassando juntos todas as dificuldades financeiras e de saúde. "Um sofá é movido mais fácil por dois". Esse tipo de laço de afeto parece cada vez mais improvável e raro porque os valores mudaram. Há exceções, claro, mas hoje parecem ser apenas isso. Exceções.
O dinheiro oferece muitas coisas, mas jamais pode ser a cola que une as pessoas. As adversidades virão com ou sem ele, as brigas, picuinhas, a queda na atração e no afeto ocorrerão apesar dele. Somos humanos. Assim, o dinheiro deveria prevenir a miserabilidade e não causá-la.
As relações modernas precisam ser revistas de alguma maneira. As estatísticas mostram claramente que há algo errado, que o trem saiu dos trilhos. Quando as conexões passam a ser vistas como investimento, o retorno não pode ser a solidão ou o ressentimento. Os juros são muito altos.
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