O mundo vive um enorme problema quase silencioso cujas nefastas consequências os governos fingem não existir. E a situação é tão ruim que países como Coreia do Sul e Japão correm o real risco de desaparecerem em 100 anos.
É consenso matemático e de notório conhecimento, que para um país resistir em termos populacionais, é preciso haver uma taxa de nascimentos de 2,1 por casal. Isso se dá porque uma parte das pessoas que nasceram morrerão antes de atingirem a idade reprodutiva. Seja por doenças ou acidentes.
Para se ter uma ideia do problema, atualmente a Coreia possui 0,67 e o Japão, 1,30. Tal quadro também se reflete nos EUA, China e nas grandes potências europeias. E no Brasil? No Brasil, segundo a recente atualização do censo de 2022, estamos batendo 1,67. Ou seja, em breve também teremos uma situação de “crescimento negativo”.
As consequências desse quadro são absolutamente tenebrosas, como a quebra de sistemas de aposentadoria e assistenciais. O passo seguinte é a inviabilização do estado para gerir a nação.
Para um país prosperar é preciso haver fecundações e a realidade hodierna é a da falência do “mercado de encontros” e a destruição do casamento. As pessoas não se conectam e sem isso não há quase mais filhos. Os divórcios foram incentivados ideologicamente e facilitados pelo estado, gerando um efeito cascata em crianças que viveram a separação dos pais como uma realidade, a entendendo como regra inevitável.
Na Coreia do Sul o governo tentou desesperadamente frear essa situação, mas sem resultado. Passou a incentivar financeiramente os encontros e a literalmente pagar para que pessoas tivessem filhos. Não adiantou nada. Depois aumentou o valor desse “incentivo”. Novamente fracasso. Os homens não se interessaram em se casar, e as mulheres não se interessaram em gestar. O quadro é funesto. No resto do mundo muda pouco.
O feminismo e a criação de leis atabalhoadas e claramente sem isonomia, criou desconfiança e afastamento entre homens e mulheres. Há ódio em ambos os lados. Em um primeiro momento isso não foi percebido pelas mulheres, mas agora uma enorme parte vai se dando conta do que a demonização dos homens causou na sociedade. Às pencas vão se dizendo enganadas pelo movimento na medida em que envelhecem.
Alguns governos atribuem essa avassaladora crise de natalidade à economia, e acreditam que com ajustes e tempo isso se resolverá. É evidente que isso não irá ocorrer. A economia é um fator crucial para o planejamento familiar, mas na Europa, em países ricos, estáveis, o quadro é exatamente o mesmo. Europeus atualmente tem 1 ou nenhum filho. Esse retrato muda apenas em comunidades como a muçulmana.
Mas se a situação é tão grave, por que esse assunto não ocupa diariamente os jornais e tvs? Ora, porque, via de regra, governos só se preocupam com política de curto prazo. Você é realmente capaz de imaginar um governo como o brasileiro, fazendo planejamento e se ocupando de questões que nos impactarão daqui a 10, 20, 30 anos? A única preocupação real é como apagar incêndios, aumentar arrecadação, e com pautas midiáticas que geram pressão popular e trazem retorno em forma de votos.
É possível encontrar abordagens profundas e realistas sobre o assunto em canais no Youtube, que evidentemente não têm rabo preso com facções políticas e que focam em alertar as pessoas em relação ao elefante branco que esmaga o mundo moderno silenciosamente.
No Brasil da década de 70 um casal tinha em média 6 filhos. Hoje esse número não chega a 2. Boa parte não tem nenhum filho, então a situação hoje experimentada por outros países não é tão diferente da nossa. Quando essa ficha vai cair? Quando for tarde demais?
Há necessidade de mudanças imediatas em leis, a criação de incentivos governamentais efetivos (não de placebos), uma discussão comportamental e filosófica, uma política econômica distinta que aborde a questão da natalidade. Isso ocorrerá? Na minha opinião não até que o leite já esteja derramado.
Vejam, não se trata mais de um ponto existencial que eventualmente atinge pessoas aqui ou acolá sobre o desejo de ter filhos. É evidente que existem casos onde a vontade da paternidade simplesmente não aparece ao longo da vida. É uma discussão distinta e que não afetaria o mundo substancialmente, pois sempre ocorreu. Pessoas que jamais quiseram ser pais ou foram incapazes de ser pais por motivos físicos, nunca deixaram de existir ao longo da história. Mas em que momento isso se tornou uma epidemia?
Me parece que a situação e as motivações são diferentes atualmente. Na medida em que a filosofia do individualismo se tornou a preponderante, onde filhos são instrumentalizados nas redes sociais, usados para a obtenção de likes e validação, onde o atendimento ao “eu” se tornou a única fonte de motivação e destino de boa parte da humanidade, é cristalino que as fecundações sofreriam.
Está tudo interligado e a solução, se existir (não me pareça que exista no momento), precisa ser multifacetada. Homens e mulheres precisam voltar a confiar uns nos outros, havendo garantia e equilíbrio legal, punição exemplar e forte para denúncias falsas, o retorno do “divórcio com culpa”, uma nova visão da família nuclear, mas sem preconceito algum com as uniões LGBT+, enfim, um mundo onde o estímulo e o convívio seja não de competição e ódio, mas de pertencimento.
Claro, essa ideia vai parecer absolutamente inviável e até infantil para alguns, mas qual seria a alternativa? Misandria e misoginismo? MGTOW e feminismo? Me digam como isso resolveria, ao invés de acentuar, uma queda maior ainda da natalidade? Vejam, não é apenas o ocidente que perece. O oriente também está indo para o saco. O feminismo é um movimento global e a reação a ele também é.
Em síntese apertada, para continuar a existir, será preciso ceder. Homens, mulheres e estado. Robõs e I.A., serão a solução? Bonecos e bonecas sexuais, a consagração de Blade Runner como o futuro inumano da humanidade? A glorificação do capitalismo de consumo, coisas no lugar de pessoas, será o destino final da sociedade?
Uma pergunta final e mais assustadora se faz necessária. Dada a epidemia de solidão, a escassez de fecundações, a falta de desejo do contato físico, o isolamento das pessoas em suas casas, a popularização do trabalho remoto e seu entronamento, a vida “para dentro”, os pets como solução para o afeto, a adoração ao solipsismo, a vida cibernética e digital das redes sociais e dos videogames como padrão de “realidade”, ainda dá tempo de resolver? Ainda há saída? Ou o jogo já foi “para o saco”?
Há quem diga que isso é uma visão pessimista, claro, mas pelo que leio e vejo no mundo e na internet, a maioria já percebeu que há um manto de estranheza e incômodo que se abateu sobre a a vida moderna. As pessoas sentem, pressentem que algo está muito errado. Os consultórios “psi” lotados, o gigantesco consumo de psicofarmacotrópicos, o abuso de drogas, de álcool, o crescimento substancial do número de suicídios, o vazio interior nas pessoas, tudo isso é sintomático.
É preciso continuar, no entanto. Buscar alternativas, voltar a experimentar os pequenos prazeres, valorizar as conversas, o retorno ao contato físico, sair das masmorras virtuais, compreender que relações sem lealdade e entrega não existem, perceber que a pessoa ao lado no Metrô é gente.
É isso. Vislumbrar novamente que existe vida fora das miragens que aparecem na telinha do celular. É preciso CONTATO. Mas contato real, genuíno, quente. A alternativa já estamos vivendo. Alguns já se deram conta, outros em breve se darão, mas apenas quando a bateria estiver no mínimo.
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