É crescente e abundante o número de matérias, de reportagens, de estudos acerca da solidão e do vazio interior experimentado hodiernamente. As pessoas parecem sem rumo, direcionando suas vidas a atividades e hábitos sem propósito ou sentido. A depressão e a ansiedade se tornaram epidêmicas tanto para jovens como para idosos e ninguém mais parece escapar de tais males. Não é injusto afirmar que o abraço ao materialismo possui uma enorme parcela de responsabilidade nisso.
A ideia de que ter coisas e ganhar dinheiro seria a solução definitiva para uma vida completa e feliz parece não ter encontrado arrimo na realidade cotidiana. Assim como a ideia de encontrar a realização em outra pessoa, a objetificando, a possuindo, também não parece resolver o enorme buraco existencial que a maioria das pessoas carrega.
As centenas de quinquilharias que acumulamos, as coisas que realmente não precisamos mas que adquirimos a fim de obter uma sensação de prazer imediato e evidentemente fútil e temporário, não resolvem de forma nenhuma o problema. E então é preciso sempre renovar esse prazer através de novas compras, novos agrados, atendendo a impulsos infindáveis e destruitivos.
Como mais uma dose de álcool, mais uma transa sem sentido, como mais uma relação tapa buraco, nos focamos em “placebos” e jamais em afeto e real propósito. E é isso que, em síntese apertada, seria capaz de preencher aquele vazio inesgotável. O sentido varia de pessoa para pessoa, mas jamais será encontrado em coisas ou em contas bancárias.
É possível fazermos piadas tolas e néscias sobre ser infeliz em Paris e dirigindo uma Mercedes. Mas quantos suicidas possuem carros caros? Quantos tiraram sua própria vida morando em mansões, vivendo em países ricos onde a qualidade de vida e o acesso a bens de consumo não é um problema? Quantos enfiaram uma bala na cabeça por não resistirem às pressões sociais, financeiras e afetivas de um mundo que parecia não lhes oferecer sentido e abrigo suficiente?
O estoicismo, por exemplo, aduz que supridas as necessidades básicas de sobrevivência, como moradia, alimentação e vestimenta, de nada mais precisamos, materialmente. Desejar não é precisar, lembremos.
Quando sair de casa a próxima vez, faça um exercício filosófico e observe as pessoas atentamente na rua, no supermercado, nos consultórios, nas esquinas de sua cidade. Perceba como a vida tem sido difícil para eles, como o vazio que talvez você também sinta, também é comungado por eles. Fazemos parte do mesmo universo, mas o individualismo e o materialismo nos separou a todos.
Isso também se introjetou nas relações interpessoais, criando fluidez ao invés de solidez. O afeto e o amor perderam espaço para o interesse financeiro, para a aparência, para o narcisismo. A vaidade e a inveja foram estimuladas e entronadas. Todos são julgados pelo que têm e não pelo que são. É claro que o resultado seria o aumento do vazio interior e não a diminuição. Vidas em automático, sem projetos, sem propósitos a não ser o de atender ao próprio ego.
Sim, recentemente conheci algumas poucas pessoas que se não superaram totalmente o materialismo, o tornaram secundário em suas vidas. Suas preocupações financeiras e materiais são direcionadas e calculadas baseadas em uma vida mais pródiga e completa no sentido de uma “evolução consciente”. Seus esforços se traduzem em constituir amizades, em ajudar a quem precisa, em diminuir seu egoísmo e sua vaidade. Beto, “egoísmo e vaidade”, são mazelas quase intransponíveis para o ser humano, me dizem.
Mas ao minorar tais “comorbidades” parecem ter encontrado uma vida melhor, mais equilibrada, mais…FELIZ. Não há felicidade permanente, mas será que seu encontro não estaria em se adotar determinadas posturas acerca da vida? Ou estaria em acumular coisas, em possuir pessoas e seus corpos, em “ter”?Tudo o que possuímos é emprestado face à finitude da vida. Em algum momento todos se darão conta disso.
Provavelmente a real solução para lidarmos com o vazio avassalador que nos acomete esteja no CONHECIMENTO. Há um longo caminho para ele e nossa vida corre em paralelo ao aprendizado. Podemos passar a vida inteira sem nada aprender e viver como muitos vivem hoje. Em busca do próximo prazer, da próxima aquisição, do próximo carro, do próximo Iphone. Ou podemos cuidar de nossos afetos e aprendizados para que não precisemos mais enfiar objetos em nossa existência para nos adequarmos ao que outros esperam de nós ou nos anestesiar a fim de ultrapassarmos as vicissitudes cotidianas.
Beber não resolve. Comprar não resolve. Transar não resolve. Tempo não é dinheiro. Tempo é VIDA. Como e porque devemos viver nossas vidas é a grande questão. Apesar do que nos dizem repetidamente todos os dias a televisão, as redes sociais, as asininas comparações que fazemos uns com os outros, o caminho para uma existência mais feliz e completa não está nem em coisas e nem em outra pessoa. Está dentro de nós mesmos. E isso é indisputável.
Para encontrar o que queremos é preciso procurar no lugar certo. E esse lugar não é a internet, não é o seu celular, não é na dependência emocional que te catapulta a encontrar no outro o que não se possui. O lugar certo é o autoconhecimento e o direcionamento para uma vida menos egoísta e mais equilibrada.
Você já encontrou o seu propósito? Mesmo? Ou apenas vive de placebos e de anestesias eventuais? Estamos aqui para EVOLUIR. O próprio processo da evolução é a recompensa. O amor e suas dores e o tempo suas perdas representam essa OPORTUNIDADE. Como você a está usando?
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