Toda relação deve se estabelecer baseada em valores e LEALDADE. Sentimentos mudam, se transformam, mas jamais aquilo que você realmente é. Por isso é comum se dizer que só descobriremos realmente com quem estivemos ao fim de uma relação e não no início, onde tudo parecia mágico. Mas mágica não existe e ADULTOS reconhecem isso.
Então, como fazer funcionar? Como superar diferenças, como lidar com temperamentos distintos dentro de uma relação? Como ultrapassar os altos e baixos inerentes ao cotidiano da vida e que tanto afetam os casais?
A primeira coisa é entender que não existe pessoa perfeita. Se te parecer perfeita, por favor, desconfie. De preferência, fuja, é cilada. O que existe são duas pessoas imperfeitas, distintas, cada uma com sua personalidade e idiossincrasias, tentando fazer funcionar. Mas é preciso QUERER. Casais que entendem isso constumam construir algo, sobreviver ao teste do tempo.
E para que isso aconteça, acredito que o correto e possível é fazer algo que é cada vez mais condenado em uma sociedade regida pelo individualismo. Veja bem, eu não sugiro o apagamento. Uma relação de posse e submissão, o masoquismo em aguentar o insuportável, o abuso, a dor. Isso não cria progresso ou paz e constrói afeto. Isso é dependência e doença e não amor.
O que entendo como solução é o "meio do caminho". É o ceder voluntário e racional. A tolerância direcionada ao crescer. A presença e não a ausência. E isso é possível. Vivemos tempos onde o ego parece determinar todo o comportamento dentro das relações. E por isso, ao menor sinal de controvérsia, os enlaces se desfazem em busca de outros ainda mais frágeis que parecem brotar em dm's e gracinhas nas redes sociais. Por parecer que ficou fácil, o que é uma absoluta ilusão, acreditaram que o esforço não vale mais a pena.
Notem, sempre será preciso caráter e lealdade. Sem isso nem uma conversa com seu porteiro vai ser genuína. Mas é possível, com tais alicerces, fazer funcionar. E para isso é preciso que ambos assim o queiram. O que acredito é que de um lado exista alguém consciente das imperfeições de seu parceiro, e do outro exista o mesmo. E esses dois lutem para que as coisas aconteçam. Que QUEIRAM isso. E para isso será preciso abdicar. Deixar algo para trás.
Abdicar não de si mesmo, não de seus sonhos e realidades, não de seus valores e crenças. Mas se dispor a se encontrar no meio do caminho entre o que se deseja e o que é possível. E fazer um voto e respeitá-lo. É agir levando em conta as necessidades do outro, é SE COMUNICAR. É estar disposto a superar os buracos na estrada, as doenças, as vicissitudes, é compreender que o respeito é o limite. É pedir perdão quando for preciso. É reconhecer os erros e as injustiças que porventura tenha cometido e as reparar conforme possível.
E do outro lado fazer o mesmo e perdoar quando houver perdão no coração. É dar a mão no pior momento, é um oferecer um ósculo inesperado e fundamental. É cortar um queijo para o amado na hora do futebol sagrado, é perguntar genuinamente se está tudo bem. É, quando sair, perguntar se precisa de algo da farmácia. É se levantar para receber o outro que chegou da rua ao invés de oferecer a imobilidade sentada no sofá. Tudo isso é construção de amor. Porque amor é escolha. O que não é escolha é a paixão, porque é química. E paixão passa, sabemos, já o amor se transforma, se modifica, se adapta.
Existem pessoas que confundem amor com vício, intimidade com sexo, que misturam lar com prisão. Que por miopia enxergam dor e submissão como afeto. Nesse caso jamais haverá o "meio do caminho" e portanto nunca haverá encontro. E sabe Deus como esse planetinha azul está precisando que as pessoas se encontrem, mas de verdade.
As pessoas tem normalizado as desavenças cotidianas, as escaramuças diárias, o bater de pezinho infantil, como demostração de força e atitude. Não são. São inseguranças disfarçadas. Disputas de poder mascaradas. São lascas no cristal que jamais será reparado. E por quê? Porque ceder, porque caminhar até a metade ficou fora de moda. Virou fraqueza e inconveniência.
Assim coisas ruins acontecem e sonhos se desfazem. Cada vez mais pelos motivos errados. Por tédio, por miragens baseadas em ilusões virtuais, pelo arrefecimento de tradições que nos trouxeram até aqui, pela propaganda de ideologias que tem demonstrado ter trazido mais infelicidade do que felicidade eivadas de ódio e solidão. Porque gatos e vinho não são a solução, a solução é o afeto real o "afeto que afeta".
O que dá realmente para fazer é a parte que nos cabe e conquistar uma consciência tranquila. Sendo assim, no que concerne a relações, em primeiro lugar, eu não traio. Em segundo lugar, quando eu amo, amo completamente. Em terceiro lugar, se for você, será você completamente. Então se você me perder, é porque me deixou ir. Entenderam como vejo lealdade e caráter? Faça a SUA parte. "Ah, mas fulaninho é canalha", "sicraninha não presta". Fodam-se eles. Seja o oposto.
Nossas vidas sempre nos reservarão "um banquete de consequências", face nossas escolhas e atitudes. E não há escapatória. O que haverá se traímos a nós mesmos e nossas convicções é a inevitável e a maior punição possível: culpa.
Destarte, acredito que a solução para as relações hodiernas, tão fragilizadas, tão rasas, "tão fluídas", tão ilusórias", é o meio do caminho. É você fazendo dar certo de um lado e o outro fazendo dar certo do lado de lá. Não como um cabo de guerra, como tem ocorrido, mas como uma maratona onde, em determinado lugar da estrada, as mãos se alcançarão. Firmes e conscientes do tempo e suor investido para o encontro. As bolhas nos pés, as queimaduras de sol, o incômodo nas roupas suadas, consignarão então o esforço mútuo e necessário para que os corpos enfim se toquem. E o nome dessa história construída se chama "juntos". O tempo, senhor de tudo, honrará essa peregrinação com memórias sãs.
Dificilmente ela virá de aplicativos de encontros, de cantadas baratas de redes sociais, de baladinhas. Sua história, aquela que marcará sua vida e ressignificará sua existência, será resultado do TRABALHO e do CAMINHO PERCORRIDO. Cada relação significativa impenderá um novo trajeto, imporá a saída da inércia, coragem, novos cuidados, novas perguntas e novas respostas. Mas elas precisam ser feitas, porque assim é a vida.
Mas e se eu atravessar toda aquela distância e no final não houver ninguém lá? Ninguém no meio do caminho? Então acredite...os deixe te perder. Os deixe se misturar à multidão. Os deixe acreditar no que quiserem acreditar, deixe-os pensar que têm o melhor, deixe-os adormecer em cima do que acham que você valia, porque no devido tempo perceberão o erro que cometeram, e esse será o exato tempo para você compreender o quão melhor está sem eles.
Tudo o que você precisa e deve fazer é andar até a metade do caminho. A outra metade não é sua responsabilidade e está além de seu poder. Mas você precisa fazer a sua caminhada. Vencer o medo novamente. Vencer a dúvida. Vencer a si mesma. E sim, pode ser tudo em vão. Mas eu te pergunto...e se no final aquela mesma mão com que você tanto sonhou estiver te esperando no meio do caminho? Firme, linda, e te segurar como seguraria o maior prêmio possível. Você.
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