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Foto do escritorHP Charles

O preço do amor

Não sei se existe algo que custe mais caro de que o amor. Ele exige entrega, pode machucar, doer mesmo com dedicação genuína. Amar exige que a guarda se abaixe, que a armadura seja deixada de lado. É um preço alto, não há dúvida.


Se importar nos torna mais frágeis, mais abertos a decepções, nos deixa vulneráveis. Ainda assim ansiamos por amor, por enlaces que nos façam nos sentir mais plenos e completos, mais capazes de enfrentar o difícil fardo que é a vida.


Quem já viveu amores, quem já se entregou totalmente de corpo e alma e teve o coração partido, resiste a novos romances porque se recorda imediatamente da dor da perda, da quebra do cristal. A vida tem isso. Pouco se aprende com o sucesso e com a vitória e tudo se aprende com as perdas e com as derrotas.


Nossa intimidade, uma vez devassada por um amor, jamais é a mesma. Todas as pessoas que foram significativas em nossa existência deixam marcas. Jamais as esqueceremos e jamais deixaremos de sermos influenciados por suas referências e abrigo. As culpamos pela quebra de confiança, pelo rompimento dos planos, raramente assumimos a responsabilidade por nossos erros nessa seara. E assim o fazemos porque dói. Porque a culpa é como uma mochila cheia de pedras que acabamos por vestir.


O amor por vezes, ao passar pelo filtro da separação, se transforma em ódio, em mágoa. Edgar Allan Poe dizia que "anos de amor podem ser esquecidos em um minuto de ódio". Como somos tolos e injustos, não? As coisas que inventamos em nossas cabeças a fim de nos blindar. As distorções, as miragens e as condenações sem atenuantes, desmedidas, desproporcionais.


Sendo assim, o amor se torna uma das coisas mais caras que existem. Não pelo dinheiro que gastamos no decorrer da conquista e das relações, mas porque exige uma fração de nossas almas, ele nos cobra que fiquemos nus perante o parceiro, transparentes.


Mas ele só vale a pena desta forma. Só existe amor real se o seu pior aparecer e ainda assim for compreendido e acolhido. Do contrário não é amor e talvez nunca tenha sido. Pode ter sido várias coisas, mas não amor.


Ao longo da vida amealhamos traumas e perdas tão duras, tão dolorosas, que jamais nos tornaremos iguais. Mas não quer dizer que ficaremos pior, diferentes sem duvida. A superação de dores da alma é um processo longo e custoso. Duvide do contrário, desconfie da indiferença e dos recomeços imediatos e inumanos. Somos carne e osso, os cortes precisam ser sentidos e cicatrizarem. Temo os que não sentem. Existe uma palavra para eles.


Há um preço enorme a se pagar quando se ama, mas a questão que mais intriga e preocupa é...qual é o preço a se pagar quando NÃO se ama? Existem diversas formas de amor e o amor romântico é apenas uma delas. Existem amores inclusives mais altruístas, menos egoístas, que sábios afirmarão serem até mais recompensadores.


Confesso que a mim pouco importa qual tipo de amor darei. O importante é amar. Para que mais estaríamos aqui? Em tempos onde o individualismo é glorificado e o "eu" se sobrepõe a tudo, temo genuinamente pelo futuro de nossa sociedade, pois se "tudo vale a pena se a alma não é pequena", o que valerá a pena se as almas forem pequenas? Amem e sejam amados. Não há alternativa.

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