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Foto do escritorHP Charles

O verdadeiro “fodão”

Culturalmente o "fodão" é o cara conhecido por ser capaz de impressionar as mulheres, possuir objetos valorizados pela sociedade e ter algum tipo de influência ou poder. Alguns colocam a inteligência e o conhecimento ou até alguma habilidade específica nessa lista.


Com o passar dos anos percebemos, no entanto, que o verdadeiro "badass" é o sujeito que aguentou as maiores porradas da vida e as superou. Que sofreu as piores perdas que alguém poderia suportar e, ainda assim, seguiu em frente.


O fodão de verdade é aquele cara que foi "quebrado" e ainda é capaz de ser gentil, de emanar empatia e cuidado com próximo. Não imagino força ou virtude maior do que essa. As porradas que levou foram da vida, por vezes da própria família, de relações onde foi preterido e mesmo assim se manteve firme, conservando seu valor e caráter.


Nas maiores tempestades guiou o navio para longe das ondas, tentando dar o máximo de conforto e carinho à esposa e aos filhos, pois sabia que o exemplo é mais importante do que qualquer ensinamento que se possa obter em livro ou escola. Ele tem absoluta consciência que, ao contrário de crianças, mulheres e cachorros, só será amado se prover algo. Ele jamais será amado incondicionalmente.


Atualmente apenas o homem que "tem" é valorizado em uma sociedade cada vez mais inumana. O homem que "é" se torna invisível na maior parte das vezes, pois retidão raramente é vista como algo importante em tempos do "jeitinho", da "malandragem" e das ilusões das redes sociais, da hipergamia e da hipersexualização. A única coisa que importa é o resultado, não importando como ele foi obtido. E essa é uma verdade inelutável. Basta olharmos para a política e para a corrupção em torno dela. Seriam eles, os políticos, os reais "vencedores"? Talvez sejam, não? Mas serão exemplo? Qual é o fiel da balança? Já sei...grana. Sempre ela.


Enquanto isso, continuamos em nossa luta para comprarmos o que não precisamos para agradar a quem não gostamos. Tiramos mais um selfie sorrindo, fotografamos mais um pratinho de salada para manter a forma, assistimos a mais um vídeo de bichinhos fofos.


Em algum lugar, um cara sensacional trabalha 16 horas por dia e abdica de tudo para prover a quem ele ama. E ama tanto que entende que ele mesmo não é sua prioridade. Esse herói levaria um tiro pela esposa convicto que essa é a sua obrigação como homem. Deixaria de comer para alimentar seus filhos e daria tudo o que possui porque acredita que sua missão, seu papel, é baseado em valores e não em matéria. Assim ele foi construído. Assim seu pai, outro homem de valor, o criou. Estóico. De pedra. Forjado como o aço da espada que apanhou para ser tornar útil.


Em um mundo cada vez mais abjeto e egoísta, onde o individualismo é glorificado e o "ego" é entronado, o "fodão" só poderia ser representado pelo "externo", pelo volúvel, pelo financeiro. E então me pergunto, qual será o final dessa história? Será que será preciso que uma sociedade chegue ao fundo do poço para entender que só quem pode retirá-la de lá é justamente o cara "invisível" disposto a sujar as mãos?


A sociedade vai então ficando de cabeça para baixo, as emoções sobrepoem a razão, sentimentos jamais podem ser quebrados porque pessoas fracas formadas por essa mesma sociedade não podem se sentir ofendidas. O "sentir" ultrapassa o valor da realidade e leis são aprovadas para garantir a ilusão e o bem estar fabricado, artificial.


No meio disso tudo os verdadeiros "fodões" vão se extiguindo, cansados, velhos, enfim abatidos, dispersos em um mundo que não é mais deles e sim de homens de geleia, cujas vontades precisam ser ouvidas e aceitas.


Aos poucos o mundo vai mudando, consignando as miragens e injustiças tão estranhas aos homens cujo único norte sempre foi a honra, pois nela reside toda a sua força. Em um mundo sem honra onde o dinheiro se sobrepõe a tudo, eles vão perdendo sua direção e seus corações, feridos como Césares apunhalados.

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