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Foto do escritorHP Charles

O único amor real é o amor produtivo, todo resto é tempo perdido.

Um dos grandes problemas nas relações é o reconhecimento da diferença entre um amor real e o que apenas se acredita ser amor, mas é algo totalmente diferente. Essa confusão é frequente. Muitos confundem ausência, possessividade, ciúme, dependência, sofrimento e até desprezo, com amor. Outros entendem genuinamente que aguentar as piores atitudes e destemperos, é sinal inequívoco de amor. Se você nunca teve amor, como reconhecê-lo?


Eu diria que você o reconhece pelos efeitos que causam em você. E não me refiro à loucuras, devaneios e ilusões causadas por paixonites e love bombings. Me refiro a uma mudança de espírito que não causa cansaço e ansiedade, mas sim paz. O amor jamais pode ser conduzido por pactos malignos, por estratagemas e manipulações para atingir a psicologia do parceiro e sua vida. O amor é, ao contrário, entender os altos e baixos da vida e suportá-los sem apagar a luz do outro, mas sim, reforçá-la.


O amor é entender as imperfeições e abraçá-las, pois longas relações e longas histórias impendem tolerâncias, uma vez que há a conscientização de que não há perfeição no outro. Aceitar os pequenos pecados que compoem um quadro total é essencial. Ao se superar decepções, irritações e falhas do cotidiano, reside o mérito do amor. Mas tais sentimentos precisam ser produtivos e não destrutivos. "Vamos superar juntos essa crise" e é isso. Quando não há esse sentimento de superação e sim o de individualismo, então não é amor, e talvez nunca tenha sido.


No amor não pode haver competição, não há espaço para ególatras, para narcisismo, para disputas de território. A caminhada precisa ser rítmica, dinâmica, conjunta. As falhas e imperfeições precisam ser reconhecidas em ambos, e os argumentos e mal entendidos devem ser ultrapassados em nome de algo maior, mas jamais de algo menor como sentimentos que diminuem ou submetem o outro.


Se há diminuição, há abuso e não amor. Podemos inclusive ser objetivos quanto à distinção. Há controle ou "vigia" na relação? Ciúme excessivo ou infundado? Há proibição de visitas a amigos ou parentes? Críticas constantes e injustificadas sobre o que o outro, faz, veste ou come? Proibição de estudo ou trabalho? Humilhação na frente de terceiros? Chantagens ou acusações levianas? Há controle além do necessário do dinheiro do outro quando os dois trabalham? Destruição de objetos pessoais? Um diz ao outro que "se você não for dele/a, não será de mais ninguém? Agressões físicas? Xingamentos ou depreciação? Seu parceiro te compeliu a sexo indesejado? Se isso aconteceu ou acontece, é abuso e não amor. Mesmo que a vítima confunda um com outro.


Sendo assim, como tal relação pode prosperar além das lindes da união natural vez que ocorre baseada na codependência, no medo do abandono? "Se eu não fizer isso ou não for assim, meu parceiro me larga". Não há progresso. Há perda de tempo. Um tempo que não voltará.


Por vezes a vítima só se dá conta disso ao término da relação, quando traça um paralelo na forma como entrou no namoro e na forma como posteriormente saiu. Na forma como a relação foi encerrada e não como começou, evidentemente. Em todo começo há idealização, mas ao final, é preciso encarar o que ficou. Se o que ficou foi absolutamente nada, é porque nada havia. Nunca houve e provavelmente você se relacionou com um psicopata. Dura é a realidade.


É por isso que, dessa forma, é necessário se prestar atenção aos padrões anteriores do parceiro. Sim, a história conta. Se seu parceiro traiu antes, isso provavelmente ocorrerá novamente. Se sua mulher tinha um comportamento promíscuo, isso é uma bandeira vermelha. O problema é que devido ao estado emocional inicial, onde tudo parece perfeito, optamos por nos vendar aos sinais. Talvez a ansiedade por constituir uma nova relação e não ter que lidar com nossos monstros interiores, nos torne cego aos mais brilhantes avisos e intuições.


A velocidade com que as relações se formam e se rompem atualmente é brutal. Pessoas se encontram, transam, se mudam, e se casam em um curto espaço de tempo. Evidentemente você só vai conhecer quem dorme a seu lado, em uma situação que deveria ter sido avaliada anteriormente. É como trocar o pneu com o carro em movimento.


Existem patologias, transtornos de personalidade, que tem aumentado consideravelmente por conta da natureza das relações virtuais, e que segundo alguns estudos, foram ainda majoradas pela pandemia. As pessoas passaram a se relacionar de outras formas e despreparadas para isso. O cenário atual é de confusão e aumento absurdo do nível de infelicidade. Cumpre lembrar que as redes sociais raramente traduzem a realidade da intimidade de um casal. No Istagram só se sabe o que os filtros permitem que se saiba. A realidade fora do mundo binário é totalmente diferente.


Os relatos de relações vazias, abusivas, insuficientes, doentias, parecem ter se tornado epidêmicas. Os psicólogos e terapeutas parecem estar vivendo a era de ouro de suas profissões. Jovens e mulheres se tornam cada vez mais dependentes de antidepressivos e ansiolíticos. Os consultórios estão cheios e as mais variadas mazelas emocionais assolam a sociedade moderna.


Como responder a isso fora da questão meramente clínica? A questão sociológica e principalmente a filósofica parece ser fundamental para compreendermos as mudanças em uma sociedade que cada vez mais busca arrimo no ter e no parecer. Há além do individualismo, a infantilização, como ocorre nos casos do aumento expressivo de narcisistas. Há o sexo vazio, manipulador, cujo fito não é a intimidade, mas a submissão e a dor.


A pergunta que deixo é: o que você espera de uma relação adulta em 2024 face o cenário que se apresenta? Aplicativos de encontro que suprimem o luto (processo fundamental de cura emocional)? Mais "liberdade" sexual que costuma suprimir a intimidade? Mais relações "líquidas" que escorrem pelos dedos, rasas e fugazes? Uniões que "pulam" fases em atendimento ao medo da solidão e à dependência? Comprar gatos, cachorros e inúmeras garrafas de vinho a fim de tapar o enorme buraco emocional deixado pela ausência quiçá de filhos (sem generalizações), ou pela incapacidade de entrega de afeto genuíno?


Vivemos a era da ansiedade, onde tudo precisa ocorrer rapidamente. Os planos são de curto prazo ou irreais. As pessoas se relacionam sem se conhecer e um preço acaba sendo pago, muitas vezes anos depois.


Dessa forma, repito...que tipo de conexão você busca hodiernamente? Seria o momento de jogar uma marcha para baixo? De diminuir a velocidade. De adotar a transigência racional e não emocional como aplicação nos realcionamentos? Um suposto retorno a um tradicionalismo mais consciente, saudável, mas jamais reacionário? É possível?


Acredito que todos só queremos ser felizes e amados. Receber afeto, carinho, queremos que se importem. E queremos nos sentir, acima de tudo, seguros. Nos últimos anos o individualismo nos mostrou que a fórmula do "primeiro eu" não parece ter dado certo quando tratamos de relações onde a chave é crescer juntos, de forma constante e dinâmica. O "mas e eu" mostrou que o que realmente trouxe foi solidão, e o pior, solidão dentro de relacionamentos. O individualismo também trouxe a competição para o núcleo das famílias e fez do parceiro um adversário e não um cúmplice. Se descobriu que a grama, enfim, não era mais verde porque foi mais bem tratada, mas sim porque era falsa.


As pessoas passaram a descartar uns aos outros como afastam o prato de doce que os satisfez. Mas pessoas não são doces. E isso está gerando insegurança, medo, receio e, inevitavelmente, menos desejo de se relacionar.

Pelo menos pelos motivos certos. Ou seja, para construir algo. Como erguer um lar sem planos, sem história, sem a ajuda e solidificação do tempo?


Não se trata de uma visão pessimista, mas os sinais demandam ressignificações e ajustes. Talvez seja a hora jogarmos uma marcha para baixo, o momento de buscarmos uniões mais tranquilas e "normais", onde o extâse e a intensidade não sejam mais os aspectos primordiais, mas sim a gentileza, a compreensão e a paz.




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