Faz algum tempo que estou me empenhando em divergir do consumismo que me acompanhou durante boa parte de minha vida por motivos que já abordei em textos anteriores.
Se me perguntarem se é um estilo de vida de melhor, direi sem titubear que não é apenas melhor, mas sim mais REAL. E assim o é porque o nosso compromisso é direcionado ao que realmente precisamos e não aquilo que meramente desejamos.
Dizer isso não significa abdicar de pequenos prazeres, mas sim descartar frivolidades e excessos de coisas que nunca geraram nada além de despesas e eventualmente ocuparão espaço, abandonadas em um quarto qualquer.
Sendo assim, a "economia" não se reflete apenas na conta bancária, mas em nossa maneira de lidar com a vida. Descobri que preciso muito menos do que acreditava e foi preciso uma internação em UTI para isso. É exatamente aquela história de que algo bom surge de um fato terrível. Por vezes aprendemos pela dor e não há alternativa.
Isto posto, conservei algumas coisas que me são preciosas e todo resto vai ou irá. Minha imensa coleção de dvds e blurays será oportunamente vendida (me entreguei ao streaming), comprei um Kindle e os livros passarão a ser digitais (está tudo bem), ganhei de presente uma moderna cafeteira da Nespresso e estou em lua de mel com a amada. Conservo um bom relógio, um bom perfume, boas roupas que durarão muito e todo o resto deve se resumir aos eletrodomésticos que nos separam da "selvageria".
Até mesmo o carro atualmente me parece excesso vez que não tem fito de trabalho. Fazendo as contas usar o Uber me parece mais seguro e econômico, uma mentalidade que vem mudando para muitos, inclusive.
O único "investimento" que pretendo fazer além de um bom computador é na alimentação. Adoro comer e no meu caso a qualidade sempre esteve acima da quantidade. E assim a vida se tornou mais simples.
Tudo o que precisamos materialmente talvez sejam objetos que compoem a nossa identidade e história, o mais são coisas que guarnecem a casa, a geladeira e grana para contas serem pagas. Fora isso não é necessidade, é desejo, e a verdade é que o item principal de nossas vidas sempre será o AFETO. Sem ele todo resto fica prejudicado.
Claro, não tenho filhos e isso pesa sobremaneira nessa decisão, mas é indiscutível que vendo a vida desse modo, uma tonelada sai de nossos ombros e todos deveriam experimentar algum tipo de desprendimento em algum momento.
Mas senhores, isso serve para MIM, e aqui não fica crítica absoluta alguma a quem acredita que o acúmulo é necessidade ou investimento, não há dono da verdade. Mas daqui nada se leva e jamais vi carro forte atrás de rabecão.
900 anos antes de Cristo uma sobrestante cidade da Grécia antiga adotou um estilo de vida onde a honra e força ficava acima de todos os valores materiais e a disciplina social os catapultou a anos de grandeza. Hoje, engolfados pelo consumismo desvairado e pelo enfraquecimento moral, nossa sociedade padece, destruída pela depressão e pelo apego ao que não importa.
O individualismo canibaliza a alma e é glorificado das mais variadas formas. O egoísmo, a hipergamia e o ter foram alçados a um altar de virtude e a consequência é uma sociedade doente onde seus jovens mal conseguem vislubrar o futuro, se acotovelando nos consultórios psquiátricos. O amor e os encontros se tornaram breves e fugazes substituindo projetos de vida e união de almas. E assim vamos caminhando sem rumos, com cegos guiando cegos, quando a única luz possível está no afeto.
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