Por que “só me atraio por pessoas tóxicas”?

"Por que só me sinto atraída por pessoas tóxicas?"

"Por que acabo sempre me envolvendo com narcisistas, com pessoas sem disponibilidade emocional ou com gente imatura?"

E a resposta em síntese apertada é: porque em sua cabeça você associa algo saudável com tédio. É isso.

Nos tempos atuais, com muita frequência se passou a se confundir o "normal" com o entendiante. Toda a propaganda e a mídia passou a vender uma imagem de que as relações, para valerem à pena, deveriam ser repletas de intensidade e de êxtase. Sendo assim, não é raro encontrar vídeos de mulheres e homens que se dizem interessados por "bad boys" e "hoes". E como diz o ditado, muito cuidado com o que se deseja.

Se você considera que o excitante é o sexo prematuro e intenso, a "vida lôca", a entrega inconsequente e imatura, provavelmente é isso o que encontrará. Se você se une a alguém que mal conheceu e projeta sua vida amorosa baseada "no momento", "na química", "no fervor",

certamente pagará o preço por tal devaneio e imaturidade. E o preço pode ser bem alto. Os psicólogos agradecem. Ou não.

Vou te dizer o que acho entendiante em uma relação. Alguém que repetidamente cause dor. Algo que se torne um padrão que impeça o crescimento. Alguém que procure submissão ou controle e não afeto. Algo que gere traumas e não futuro.

E eis o que considero excitante em uma relação. Alguém com quem se possa trabalhar os problemas da vida conversando. Alguém que esteja aberto a argumentos que impulsionem a relação para frente. Alguém que saiba realmente quem é e que cumpra suas promessas. Alguém que seja doce e gentil. Alguém que seja confiante mas realista. Alguém que esteja realmente disposto a ultrapassar junto as asperezas e perdas da vida.

Percebem a diferença entre uma coisa e outra. Ela é gigantesca.

A corrida incessante pela premência, pelo arrebatamento, pela novidade, pelo encanto fútil e inconsequente, está criando multidões de pessoas doentes, porque toda farsa um dia acaba, e toda máscara um dia cai. E o que sobra não é bonito, acreditem. Mas você, em algum momento, escolheu a miragem.

O tempo médio dos relacionamentos está cada vez menor. E isso vai desde as relações triviais até os casamentos. Por outro lado a ansiedade e a dependência emocional tem sido causa de infestação dos consultórios de médicos e terapeutas. As uniões acabam se formando pelos motivos errados e com objetivos espúrios. O que começa errado, tem tudo para dar errado. Sim, quando se procura muito, acaba se achando, não? Inclusive o que não se quer achar.

O maior problema talvez nem sejam os compromissos supersônicos e os términos a jato dos romances onde no mês anterior foram feitas juras de amor eterno. O problema mesmo vem quando tais enlaces se constituem em relações tóxicas, onde o abuso se torna vício por um lado e sadismo pelo outro. Esse binômio costuma ser absolutamente trágico quando as coisas começam a ruir. "Trouble in paradise?". Previsível, não? O que se esperaria que o "garoto malvado" trouxesse além de malvadezas? O que se esperaria da mulher que, desde o primeiro momento, deixou claro que te trairia? Ora, eles fizeram isso com os parceiros antigos por que não fariam com você? Você sabia e insistiu. Você viu as "red flags" e as deixou passar. O fato é que uma nova dinâmica de relações passou a se estabelecer onde mesmo as infidelidades e as toxicidades passaram a ser relativizadas. É como se certas vilezas passassem a ser tão comuns que se naturalizaram. E certas pessoas, por incrível que pareça, se mostram disponíveis e até atraídas por comportamentos e relações destrutivas.

Quem sabe o que te atraia é a maldita ilusão de acreditar que, logo você, vai consertar o comportamento daquele carinha cheio de contatinhos. Ou daquela mina cujo Instagram está cheio de fotos de biquíni e de dancinhas sensuais. Sim, amigos, A HISTÓRIA DA PESSOA conta. E se você não conhece o passado de quem deixou entrar em sua vida, está condenado a permitir que ele se repita com você, inclusive se ele não for bom, se ele for doentio. Quer surpresa e emoção? Então toma! É fazer da vida uma roleta russa.

Depois reclamam que está muito difícil encontrar alguém "que preste". Mas você está ajudando como? Se deixando seduzir pelo love bombing, pela vagina mágica, pelo amor da baladinha? Fica difícil. Mas vamos à pergunta que não quer calar? Onde começou tudo? Quem convidou os vampiros? Quem se tornou disponível sem nada saber? Sim, todos nos banharemos nas consequências, cedo ou tarde.

"Há motivo para desespero? Afinal eu não morri e quero conhecer alguém REALMENTE legal!"

Acho que não. Mas entenda, pelo amor de Deus, o que vem fácil, vai fácil. Amor é fruto de construção, dá trabalho, é preciso investimento e TEMPO. Amor não é mágica como aparece em Hollywood. Preste atenção no que parece perfeito, no que parece bom demais, no que parece "extamente feito pra você". É cilada...

Evite "rebotes", ouça sua intuição, pare de tentar fazerem gostar de você pelo sexo ou pelas coisas que você possui. Opte por ir devagar. Aos poucos. Com mansidão. Beije bastante (melhor coisa), converse bastante. Dê às mãos. Namore. Conheça a família. Conte sua história e o que te fez ser como você é. Diga a verdade. E, se tudo isso parecer te satisfazer...comece a acreditar.

Nenhum bad boy te dará o que você quer e nenhuma hoe será a solução para te acompanhar na vida. Comece a refletir e se questione, então, se o "maluco" era realmente o outro. Quem sabe você se surpreenda com a conclusão. Nunca se esqueça que ao ler o livro duas vezes o final da história será o mesmo. E eu não estou falando de livros.