Sou do tempo da Playboy e da Status. Alguém aí lembra? Isso era tudo o que os adolescentes tinham à época. Com sorte até rolava um VHS em alguma ocasião extraordinária.
A internet chegou e mudou a realidade com uma incrível oferta de todo tipo possível de sexo. Imediato, abundante e, muitas vezes, gratuito. De fato acredito que a pornografia tenha sido um fator relevante para a difusão da Internet em seus primórdios. Alguns acreditam até mesmo que essa foi a real intenção de sua criação.
O acesso à pornografia se tornou fácil e farto. Apesar das críticas, e muitas pertinentes, do movimento conservador a esse fenômeno, não há como frear seu consumo a não ser por iniciativa pessoal, e esse suprimento tão à mão de conteúdo altamente sexual, acaba por influenciar a sociedade moderna e as relações interpessoais.
Existem pontos muito negativos como o vício e e o mercado que escraviza meninas e meninos. Como a objetificação das pessoas e de seus corpos, ou como normalmente a pornografia se apresenta rotineiramente através da mensagem direta ou indireta da submissão do outro. São questões relevantes e que precisam ser discutidas profundamente. Mas o porn é uma realidade e não irá embora. Já tive minha fase, confesso. Via pontualmente e como a maioria dos homens tinha lá meu "hdzinho" com minhas fantasias realizadas por terceiros (todos as tem ou tiveram).
Assim como com o álcool, é preciso cautela. O excesso evidentemente pode afetar seu relacionamento, seja alterando seu desempenho, seja por comparações e desejos transferidos da ficção para a realidade. E a compulsão e a hiperatividade sexual também são patologias sérias que normalmente escondem transtornos de personalidade. Conheci gente que dizia sentir necessidade de se masturbar durante o período de trabalho, que se trancava no banheiro da empresa e se saciava. Conheci homens e mulheres que aduziam que sentiam uma necessidade tão grande de sexo que precisavam transar inúmeras vezes durante o dia e que isso acabava por destruir suas relações face à impossibilidade de satisfação pelo parceiro. Já li muitos artigos onde pessoas aduziam que o sexo precisava sempre ser bruto, ou não convencional, e que sentiam que era preciso sempre haver uma relação de submissão ou rotatividade de parceiros. Ainda outros admitiam que o sexo anal os atraia justamente por lhes fazerem se sentir donos da pessoa e não pelo prazer sensorial e físico do ato. Notem como com frequência a dor pode se traduzir em prazer sob o manto de alguma patologia ou perversão e como a relação de poder infecta com frequência o sexo.
Já faz algum tempo tenho uma visão totalmente negativa da pornografia por inúmeros motivos, mas principalmente porque acredito que ela cria expectativas irreais em relação à sua parceira ou parceiro e porque sinto que rouba muito da energia sexual que possuímos. A pornografia trivializa o sexo, exclui a intimidade, projeta imagens e situações que frequentemente são degradantes e corrompem a beleza ou a pureza que poderia fazer do sexo um componente saudável em uma relação. Sua esposa ou namorada não é uma atleta sexual, não é um "pedaço de carne", não é a profissional que aparece nos filmes pornôs. Seu marido ou namorado não é o viagrado animalesco dos vídeos do X-vídeos, não é um objeto fálico, insensível e plastificado. Em uma relação de amor, é preciso intimidade e afeto SEMPRE.
Recentemente surgiu o fenômeno do Onlyfans. Pessoas comuns que para fazer dinheiro vendem vídeos e fotos íntimas. Seria uma consequência natural da explosão dos "nudes", a verdadeira moeda moderna do amor? Não sei dizer. Os nudes claramente se tornaram parte das relações hodiernas que envolvam qualquer tipo de conexão sexual. Imagino que principalmente para as gerações mais recentes ele seja até essencial, algo inimaginável para o pessoal do meu tempo. Quem tem mais de 40 e ainda chegou a namorar no carro, sabia que o nu da parceira era algo que precisava ser conquistado com tempo e insistência. Se suava por uma mera punheta. Outros tempos, claro. E me parece que a facilidade, a desinibição e a velocidade em contatos gerado pela internet, tornou o mundo um pouco menos romântico e bem mais vulgar. De uma forma geral, com a quantidade de impulsos e provocações, conscientes ou não a que as pessoas são expostas, ainda é possível acreditar na monogamia? Ou ela sempre terá data de validade? Essa pergunta parece fazer cada vez mais sentido.
Mas o fato é que a proposta se propagou e parece gerar bastante grana para alguns. Onlyfans é um tipo de prostituição? Para muitos sim, outros afirmam que não. Eu acredito que existe uma linha bem tênue aí. No mínimo. Se for, então todas as atrizes que tiraram fotos para revistas se prostituiram de alguma forma? Há espaço para arte e o bom gosto nas fotos e vídeos do gênero? Ou tudo simplesmente se misturou?
Me parece óbvio que o sucesso do Onlyfans e afins se encontra em uma pretensa "exclusividade" e na relação aproximada com quem produz o contéudo. Caso contrário todos ficariam nos Pornhub da vida. Percebem como as pessoas anseiam por conexões? Esse é o real apelo do Onlyfans, por isso ele deu certo. Apesar de ser um serviço a ser assinado e que qualquer um possa ter acesso, há o contato direto e interação com o objeto do desejo. É como a prostituta que tem seus clientes fixos através dos anos. Só que a relação se dá por uma telinha.
Pelo que li, algumas mulheres ficam ricas do dia para noite. "Gorjetas" de $100 são brincadeira de criança. Recentemente vi um vídeo sobre um caso onde uma jovem mulher teria feito U$1 milhão em 48hs. Mas resta a pergunta: seria o suficiente para praticamente condenar suas relações futuras? Para arriscar o bem estar emocional de possíveis filhos que ainda nem nasceram? A internet jamais esquece. É uma questão que apenas quem produz o conteúdo pode responder, mas tornar pública suas partes íntimas e vender sexo online certamente trará consequências pessoais. E o preço me parece ser a alma. Haveria uma condenação irremediável para quem vende tais serviços? Penso que sim.
O que sabemos com absoluta certeza é que o mercado do sexo faz parte de nosso universo, possui um enorme apelo, movimenta um mercado bilionário, e isso acontece porque todos temos fantasias e nos masturbamos eventualmente. Sim, mesmo seu pai e sua mãe, e me desculpe pela imagem que posso ter causado, mas esse blog é para adultos.
Não sou do grupo mais radical e acredito que haja um bom grau de hipocrisia no assunto, mas o fato é que compreendidos os pontos negativos e até a questão criminal que assola esse universo do sexo, resta apenas o ponto moral e esse vai ficar por conta de cada consciência.
Assistir ou não assistir, dividir com o parceiro, usar para apimentar ou requentar a relação, vai de cada um. O limite sempre deve ser pautado por ser adulto e consentido. O que não dá é pra fingir que esse mundo não existe e não influencia direta ou indiretamente a sociedade e os costumes. E eles estão piores? Me parece claro que sim. Não houve apenas mudança, houve relativização de um monte de coisa que não podia ser relativizada. O sexo tem um poder e influência enorme na vida das pessoas e a maneira como ele se traduz nos hábitos e atos delas diz muita coisa sobre suas psicologias.
Sexo vende e nem Hollywood escapa dessa premissa. Sim, aquela atriz ou ator famosão em algum momento será seduzido a fazer um nu ou algo parecido e muitos irão assistir apenas por isso, não vamos nos enganar. Aliás, em 2023 o sexo parece ter voltado aos cinemas com força. Não à toa, Poor Things foi o filme mais falado e esperado do ano.
Dito isso, sem receios, afirmo que faz algum tempo que abandonei qualquer tipo de pornografia porque para mim ela conduz a um homem pior. Não, não foi por uma questão moral, mas sim por uma questão espiritual no sentido "lato" da expressão. Há uma porção de baixa energia, baixa vibração e outra parcela de perversão e submissão que impera na pornografia que me parece algo absolutamente negativo e até patológico, e na medida em que se amadurece, automaticamente, deve se rejeitar. Mas isso sou eu. Cada cabeça, um guia.
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