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Foto do escritorHP Charles

Porque as relações atuais se tornaram tão difíceis.

Os depoimentos e estatísticas apontam os tempos atuais como os mais difíceis para se estabelecer uma relação amorosa saudável e feliz. Há uma enorme oferta de possibilidades de se conhecer pessoas, muitos aplicativos de encontros, redes sociais, tudo aparentemente favoreceria a construção de relações, de enlaces. E eles ocorrem. Mas a abissal maioria resulta apenas em sexo e não em amor.


Minha opinião é a de que é justamente esse número de opções, que jamais existiram nessa quantidade antes, que cria uma enorme ilusão quando entramos em uma nova relação ou avaliamos o parceiro, acreditando que ele possa ser substituído facilmente. Por um homem melhor e mais rico, por uma mulher mais jovem e mais bela. As redes sociais, o Tinder, a própria pornografia, fomenta uma ideia narcisista que não passa de uma miragem juvenil. É como se houvesse um número infinito de possibilidades e como se fosse possível saírmos novos, incólumes, de nossas experiências passadas.


"Posso conseguir alguém melhor?", "isso é o máximo que posso obter?", "essa é a melhor relação sexual que já tive?". Se as respostas não forem todas positivas no box da listinha que foi feita usando critérios evidentemente hiperbolizados e irreais, então aquela pessoa não serve.


Na verdade a lista deveria conter aspectos absolutamente realistas e pertinentes, como "o que eu preciso melhorar como pessoa e como parceiro", "o que preciso trabalhar para me curar de meus traumas anteriores?", "o que eu levo de relevante para essa nova relação?", "o que posso fazer para essa relação sobreviver e prosperar?"


Não. O que está ocorrendo atualmente é que nos apressamos em substituir uma pessoa por outra acreditando que temos opções que de fato não existem. O resultado é quase sempre um rompimento ainda mais rápido do que na relação anterior. E isso não é chute, não é opinião, é estatística.


A indução midiática pelo narcisismo e pela adoração do eu, cria a fantasia de que somos semideuses que merecemos sempre alguém melhor, acreditando que os problemas estão sempre nos outros. Por outro lado há um crescimento surreal dos aplicativos de namoradas geradas por inteligência artificial. Sim, isso mesmo. Pessoas estão investindo aos milhares em algoritmos que os façam companhia, pois entendem que o risco de decepções e fracassos é menor. Eis o ponto em que chegamos. Aos poucos a fuga e os devaneios estão sendo vistos de forma mais atraente do que ter que lidar com as premissas e exigências atuais.


O resultado dessas quimeras e decepções é a literal desistência de muitos homens na busca de parceiras e na infelicidade de muitas mulheres que acreditaram no discurso do ego e de algum tipo de superiordade moral. Chega uma hora em que o jogo cansa.


Assim como Narciso, agora todos correm o risco de se afogarem no rio ao contemplarem a sua própria imagem distorcida. Como Fernando Pessoa, estamos nos cansando de semideuses.


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