Às vezes, ao parar em sinais dirigindo pelas ruas movimentadas de nossas cidades, me deparo com pessoas desoladas e sorumbáticas. Podemos perceber em suas feições a angústia e a solidão tão comuns em nossos tempos.
E então penso em suas verdades caladas, nos cantos quietos das esquinas menos povoadas. Que histórias tristes remendadas com lágrimas e soluços se abateram sobre aqueles seres e suas existências? Imagino o desenrolar de acontecimentos e as complexidades dos tecidos relativos à própria vida em si que culminaram em um pesar insuportável a esses sobreviventes. Existir não é o mesmo que viver.
Quais contos de vicissitudes e tragédias podem ter sido derramados naquelas almas massacradas pelo tempo? O que seria preciso para criar novos começos, novas esperanças e desejos? O que os redimiria de si mesmos, hoje infectados pela culpa e pelo medo?
Contudo ainda percebo uma fagulha de orgulho e vastidão. E eis que testemunho que lágrimas não são realmente um indício de fraqueza, mas o precurso do crescimento onde sentimentos se confrontam em busca de renascimento.
Um renascimento onde desafios esbarram na verdade, onde o ressentimento é filtrado e transformado pelo amor, onde a dor e o choro são transmutados pelos riso, em pungente lembrança que a reconstrução precisa de tempo e de abrigo.
As reminescências em nossa alma então viajam pela nossa infância, abraçam novamente nossos pais, trafegando por nossas perdas e conquistas e por fim percebemos que nós somos as pessoas nos cantos mudos de nossas cidades.
"É necessário descobrir que cada pedaço individual de você mesmo precisa ser substituído e refuncionalizado para que enfim se obtenha o melhor de si".
Qual foi a última vez em que você chorou?
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