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Foto do escritorHP Charles

Quanto é o suficiente?

Quanto é o suficiente? Quanto bastaria para tapar o buraco dentro de você? O que você precisaria para acreditar que tudo estaria resolvido em sua existência? Um apartamento caro? Um carro caro? Um marido melhor? Uma esposa melhor? Filhos melhores? O que realmente falta? Sempre faltará algo, não?


Assim que realizamos um desejo, outro o substitui. “A vida é uma constante oscilação entre a ânsia de ter e o tédio de possuir”. Claro, as redes sociais e seu estupendo trabalho em criar comparações e simular uma “felicidade” que não existe fora do celular, fazem um estupendo trabalho criando expectativas e necessidades imaginárias.


Na vida real envelhecemos, temos dores, rugas, depressões, ansiedades, o carro está fazendo um barulho estranho, o filho não para de chorar, o arroz queimou. Como conciliar nossos desejos e nossas ilusões com a realidade cotidiana? Eu diria que nos voltando o máximo que pudermos para o real, por mais que isso doa.


Em uma sociedade que relativizou o narcisismo, que glorificou o ter acima do ser, que despreza valores como a lealdade em detrimento ao individualismo, abandonar a ilusão é a única saída que pode conduzir a uma vida mais saudável mentalmente. Todo o resto parece se render a um padrão autodestrutivo.


Nesse sentido, a psicanálise e a logosofia têm me ajudado bastante. O abandono de certos paradigmas e o reconhecimento de questões existenciais, catapulta a pessoa a escolher melhor, mais acertadamente. É um processo longo, mas necessário. A pressão por validação externa cai absurdamente e você começa a substituí-la por amor próprio, o que é sinal de saúde mental.


A conscientização de que algo basta, que é ou deveria ser suficiente, atendendo a critérios genuínos e interiores, traz paz e refrigério, mas isso pouco acontece atualmente. Alguns, mais vividos e direcionados, parecem ter entendido a fórmula para uma vida verdadeiramente mais feliz, regulando seus objetivos e extraindo alegria das pequenas coisas e momentos.


Diria que os passos mais curtos, mais honestos consigo mesmo, a caridade, a amizade, as relações libertas de dependência, são infinitamente mais recompensadoras do que a ânsia de possuir, do consumo desvairado e doentio, do que a exposição exacerbada tão glorificada nos dias de hoje.


Por que a necessidade de validação está nesse patamar? Por que as pessoas estão tão desesperadas para dizerem aos outros o que são, tão desesperadas para serem vistas? Por que as conexões interpessoais se instrumentalizaram e se tornaram pedestres? Por que o sexo se vulgarizou e se tornou tão insgnificante? Por que a lealdade e a confiança se tornaram raras hodiernamente? Depois as pessoas se assustam com os índices de depressão e ansiedade.


Alguns já perceberam. Ajustaram seus lemes. Escolhem melhor quem entra em suas vidas, perseguem a realidade, anseiam por relações sem máscaras, empáticas, construitivas. Se desapegam do materialismo destrutivo na medida em que compreendem a própria finitude. Separam necessidade de desejo. Vislumbraram que a mudança precisa ser interna, começar por si próprio, que apenas assim dá para alterar algo nesse mundo cadq vez mais perverso e gélido.


E então? O que te falta? O quanto seria suficiente? Do que você realmente precisa? Mais coisas ou mais afeto? Até que ponto, em busca de validação externa, a fim de atendermos ilusões e quimeras, boicotamos nossos REAIS desejos, nossa história e nosso futuro? Existe uma enorme discussão e preocupação material, e todo o foco parece ser direcionado a isso, mas a questão existencial é que tem jogado a todos no buraco. É hora de acordar.

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