Não importa o quanto você acha que sabe sobre a vida. Ela sempre poderá te derrubar. Mesmo os mais fortes e virtuosos podem ser quebrados pelos buracos existenciais que a vida nos apresenta. Trabalho, relações afetivas, família, perdas que parecem intransponíveis. Quando acreditamos que sabemos todas as respostas, vem a vida e muda as perguntas.
Mas o que é a vida? Ela realmente vale a pena ser vivida? O que ela quereria de nós? Essas são perguntas muito difíceis de serem respondidas pela filosofia. Provavelmente todos terão respostas distintas para essas questões. Diria que a vida é o que fazemos dela e o que ela nos pede essencialmente é coragem e vontade.
Coragem e vontade de prosseguir. De se transformar, de se redimir, de recomeçar. E isso sempre é difícil, porque a cada transformação, redenção e recomeço, a vida te joga em novos desafios, novas dificuldades. É a pedra mitológica que levamos para o alto do morro e que que cai novamente quando chega ao cume, nos fazendo ter todo o trabalho novamente. Sim é um fardo difícil de ser carregado. Coisas terríveis acontecem ao redor de nós e um dos poucos confortos que possuímos é o de saber que não as causamos.
Sendo assim, o verdadeiro sentido da vida deveria a ser promoção do bem. Deveria ser tentarmos, na medida do possível, construir uma vida ética e calcada na honra. E acredite, isso será diferencial em um mundo coalhado de canalhas e filhos da puta. Gente que faria qualquer coisa e usaria a qualquer um para satisfazer seu ego e minorar sua própria infelicidade.
Mas a vida também te oferece oportunidades e você precisa saber escolhê-las. Precisa as separar das armadilhas disfarçadas em promessas e que são embrulhadas com traumas enrolados em celofane. Mesmo os recomeços carecem de cuidados e de verdades.
Sim, um novo emprego, um novo amor, uma nova casa, tudo isso pode ser maravilhoso. Mas precisa ser realmente recomeço e não retrocesso com um laço de fita. A vida te dará os dois e cabe a você distinguí-los. Muitas vezes não conseguimos e aquele recomeço acaba, eventualmente, se tornando terror. Um inferno consignado pelas escolhas apressadas que tapam momentaneamente um buraco em nosso peito.
Então sim...recomece. Mas o faça com o coração puro, sem amarguras, sem ressentimentos, sem causar mal a ninguém, porque um dia todos tiveram pai e todos tiveram mãe, e sofrem e sentem dor e amam.
Faz algum tempo que tenho passado por momentos difíceis com o fim de fases importantes de minha vida, e com os desafios que vêm se apresentando ao longo do caminho. E isso é a vida. Mas também é a vida as novas coisas boas e valorosas que sempre aparecem junto.
E então você peneira, peneira e peneira, e ora só, que surpresa, encontra uma magnífica pepita de ouro. Uma que você jamais pensou que existisse. E ela está suja de areia, machucada pelas pedras no rio, mas você a limpa cuidadosamente, e percebe suas bordas, reestabelece seu brilho e compreende seu valor. Isso é mágico.
E você fez tudo isso com dignidade, sem se apropriar de nada que não seja seu, e guarda aquela jóia em seu peito, compreendendo que ela sempre esteve ali, sob o manto das águas dos rios. E então você sorri porque percebe que o recomeço era o real caminho, com novas árvores, com novas memórias, com novas possibilidades, pinceladas com seu caráter e afeto.
E só aí você consegue ver o sentido da vida que é diferente para cada um de nós, e percebe que tal sentido não pode ser compreendido sem se percorrer o caminho. E que o trajeto precisa ter doação genuína, ter pureza de alma, ter amor inconsútil. Se assim não for, o que se colherá são apenas as pedras e as armadilhas que levaremos em nossa mochila em uma viagem de tristeza e amargura que revelará, em algum momento, inevitavelmente, uma dívida impagável. Vida não é chegada. É percurso.
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