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Foto do escritorHP Charles

Redes sociais e a “realidade”.

Outro dia vi Elon Musk tecendo uma interessante ilação em uma entrevista sobre como as redes sociais tem catapultado às pessoas à infelicidade e à depressão, por sempre apresentarem um mundo melhor do que o real.


Nas redes sociais tudo é filtrado. Tudo. As fotos são meticulosamente planejadas, os olhares, as maquiagens, as expressões, a arrumação (ou desarrumação ao fundo). Tudo é intencional. Tudo o que se apresenta foi pensado, tem uma razão de ser. Não apenas o que se mostra, mas o que é dito. Tudo é teleguiado, direcionado, ainda mais quando há tempo, quando esse é justamente o trabalho. Fazer parecer. Dar recados.


Tanto assim o é, que quando algo que não deveria aparecer é exposto, chamamos de "leak". De vazamento. E o incrível é...mesmo os vazamentos muitas vezes são planejados. Conhecemos casos notórios de nudes, de sex tapes, que se mostraram, após algum tempo, como parte de uma estratégia a fim de se obter uma notoriedade artificial.


Mas o fato é que isso tem trazido problemas para as pessoas "normais" em suas vidas cotidianas que abrangem contas, doenças, trabalho árduo. E tem trazido porque o bastão fica muito alto de se alcançar, entende? E também porque há muita mentira. Muita mesmo.


Para a abissal maioria da população, apenas 1% da vida mágica dos influencers e seu dia a dia é exposto. Por isso relações mágicas, apaixonadas, eternas, se desfazem na semana seguinte. Por isso escandalos financeiros, golpes e trapaças, de repente tomam conta dos noticiários e dos portais de internet, mostrando que a grama não era tão verde.


As redes sociais criaram a necessidade de se estabelecer um padrão de sucesso e sobretudo de felicidade, que é simplesmente inviável de se alcaçar e inatingível no mundo real. E isso gera um enorme mal estar e a falsa ilusão para a população cujo sentido na vida é apenas ter momentos de felicidade, algum conforto e encontrar alguém legal.


Nesse processo muitas pessoas são alçadas ao Olimpo em um dia, para no mês seguinte caírem no total esquecimento. E isso ocorre porque nada nunca foi real. Nós, mortais, NÃO SABEMOS o que acontece no cotidiano dos deuses sacrossantos dos "famosos", das pseudo celebridades. Não os vemos chorar, não os vemos discutir uns com os outros, não os vemos às 2 da matina se revirando na cama sem conseguir dormir, em seus lençóis de 500 fios. A não ser que queiram.


Mas para quem está de fora tudo parece perfeito. Não é. Acreditem em mim. Quando se estabelece um padrão, uma imagem, um personagem, a vida parece ter que ser vivida em função desses parâmetros estabelecidos por tais miragens e aí reside o problema. Se vocês soubessem a quantidade de mentiras e omissões que permeiam esse mundo irretocável, qualquer inveja que possam ter, se dissiparia imediatamente.


Musk, na citada entrevista, mostra claramente que nem seus bilhões são capazes de o afastar de uma tristeza que parece carregar, fruto de tanta responsabilidade e exigências que abriga em sua alma. E aí você pensa..."se tá ruim para o Musk..."


A questão é que só nós mesmos, em nossos cotidianos, sabemos a verdade que afeta nossos corações e o que precisamos ultrapassar em nosso dia a dia. Mais ninguém. Só nós conhecemos a realidade de nossas relações afetivas e familiares, e tais verdades só chegarão às redes sociais por desejo ou por acidente.


Famosos envelhecem, ficam doentes, se perdem, usam drogas, traem seus parceiros (tão amados), quebram empresas, retornam à mortalidade de repente. O tempo age para todos, afeta a todos. Sim, a vida é implacável e nos engole. Mas ora, assim é a vida.


Mas talvez o mais importante seja mesmo como você a vive e como lida com ela em sua consciência. Como você a traduz em seus valores e a coaduna com seu caráter. Me deixe te perguntar...o que você faria por dinheiro ou fama? Enganaria, mentiria, falsearia, magoaria, trairia seu passado, seus pais, seu caráter? Pois o que vemos atualmente é cada vez mais a relativização de coisas que jamais poderiam ser relativizadas.


E por isso temos uma sociedade cada vez mais perdida. As pessoas correm de uma relação para a outra, de um trabalho para o outro, como baratas tontas, em busca daquela imagem perfeita que viram em determinado post. E se esquecem que tudo é transitório, que caixão não tem gaveta, que a única moeda capaz de trazer realmente abrigo, é a PAZ. Sem paz nada vale a pena.


Vocês já fizeram uma viagem para algum lugar que queriam muito, super aprazível e bonito, e mesmo assim foi um inferno? Por que a cabeça não estava boa, ou por que a companhia não era a correta? Por outro lado, já abriram um simples livro em um parque e ao fechá-lo, tudo parecia se encaixar?


Já compraram algo caro que te satisfez por alguns momentos para logo depois se perder no fundo de um armário qualquer? Ao mesmo tempo se recordam de ouvir aquela música perfeita, no momento perfeito, quando o dia estava tão pouco promissor?


Acredito que as redes sociais trouxeram trabalho, diminuíram distâncias, nos permitiram conhecer gente boa (e gente muito ruim), mas elas trouxeram também um problema inexorável que parece estar destruindo corações e mentes e adoecendo as pessoas. Cada vez mais nos relacionamos com miragens.

Consumimos ilusões. COMPARAMOS.


E as comparações acabam por destruir egos e roubar alegrias genuínas e possíveis. Façam agora um pequeno esforço para se recordar dos momentos mais felizes e significativos de suas histórias. Vocês não se recordarão de mansões, de carros caros, de restaurantes nababescos. Eu garanto isso. A mim me vem coisas infinitamente mais simples. Pão com manteiga e média na padaria. O primeiro beijo em alguém que significou algo para mim. O dia em que vi no jornal meu nome aprovado em uma faculdade federal. O dia em que meu pai me levou para ver Guerra nas Estrelas no cinema e o vi tão empolgado quanto eu. O dia em que minha mãe trouxe uma caixa de lápis de cor, em minha infância. O dia em que pedi desculpas para minha irmã por uma ausência de uma vida quase inteira. O dia em que após 21 anos meu time voltou a vencer uma Libertadores. Ver Zico no Maracanã. O dia em que ouvi de uma pessoa importantíssima para mim que me amava profundamente. Nada disso custou caro.


Palavras e coisas simples, em sua maioria. E acho que as redes sociais parecem nos afastar disso. Da realidade. Vejo pessoas desesperadas, expondo minúcias de seu cotidiano a fim de dividir a sua solidão com estranhos, quando poderiam fazer isso muito mais efetivamente dizendo o que sentem para pessoas que as querem ouvir e não recebem uma oportunidade. Uma REAL oportunidade.


As redes sociais aumentaram o medo da solidão ao invés de diminuí-lo. E há um enorme medo aí. O medo da solidão faz as pessoas perpetuarem as atitudes mais terríveis e insanas. Muitas, para suprir essa carência emocional dos filhos que não tiveram, por egoísmo ou cagaço, se enchem de pets, abrem espaços para narcisistas e psicopatas, fazem de tudo para serem os super-heróis maquiados e descolados das telas de nossos celulares. Ansiamos por viver aquela vida que vivem sem fazer a menor ideia da vida que vivem.


E isso gera cansaço. E tristeza. E abismos.


Há solução? Bom, talvez um pão com manteiga na padaria. Com aquela pessoa legalzona. Depois vocês se sentam em um lugar bonito qualquer e fazem o outro rir. E contam enfim quem são. Suas dores e desejos. Suas perdas e conquistas. Tudo isso com o celular desligado. Tudo real. Tudo humano. Sem nudes. Só com o carisma.

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