É quase surreal como por vezes nos permitimos nos distanciar de nossas próprias identidades e prazeres, por mais triviais que sejam.
Quando você se dá conta disso e retoma velhos hábitos que te eram tão agradáveis, mesmo que simples, se pergunta por que os abandonou em primeiro lugar, se afastando assim, de suas reais origens e influências.
Existem pressões na vida adulta, em determinadas relações afetivas, no trabalho cotidiano, que te levam a relegar pequenos "mimos" que você se permitia. É evidente que fazer qualquer coisa com culpa estraga o milkshake e por conta disso você acaba enfim se boicotando.
Essa é a receita mais poderosa para a infelicidade. Se condenar levianamente ou abdicar do que você realmente ama. Em breve pretendo voltar ao jiu-jitsu. Sim, os joelhos não estão legais e sempre usei isso como uma desculpa esfarrapada. Não quero competir, quero me divertir. Não bebo mais faz algum tempo, mas quero tomar umas brejas vendo o jogo do Flamengo, sem críticas ou considerações negativas. Voltei a ler com regularidade e o Kindle se tornou companheiro. Vai comigo onde eu for. Café da manhã na padoca? Tem coisa mais legal? Vejam, senhores, tudo possível, barato e HUMANO.
Todos os dias falo com 3 ou 4 amigos que simplesmente abandonei durante décadas. E ouço: "quem sumiu foi você!". Amigos que me tratam como se meu desaparecimento fosse no dia anterior, pois a intimidade e a zoação é a mesma. Sem cobranças, sem questionamentos, sem ressentimentos. Isso é bonito pra cacete.
E aí você se reencontra, se redime, acredita que é um cara legal e querido e percebe que a escolha pelo isolamento foi SUA. Quem optou por relegar prazeres e atividades cultivados a maior parte da vida foi você mesmo.
Acredito que as redes sociais tenham um papel importante em nossas vidas no que concerne a trabalho e na possibilidade de se encurtar distâncias, mas elas não substituem o abraço e o olhar em uma conversa presencial. Talvez uma boa parte da humanidade esteja perdendo isso. Porque é cômodo e conveniente. Porque o mundo está confuso e mudando mais rápido do que deveria.
Não abdique de suas origens e influências por nada e nem por ninguém, porque fazer isso é abdicar de si mesmo. Cultive os velhos hábitos que você sempre amou e faça deles uma rotina de prazer e afeto.
A depressão que me massacrou durante meses desde a morte de minha mãe parece cansada de me bater e agora começo a bater de volta. Finalmente sorrio genuinamente sem culpas e sem pudor após anos. Com os pés para o alto tomo um gole de cerveja, acolhido e resgatado pelo amor inconsútil de inúmeros amigos a quem um dia esqueci mas que jamais me esqueceram.
Comments