É incrível como em um mundo dominado pelo maldito individualismo as pessoas estão cada vez mais parecidas. Mais influenciadas pela mesmice, atraídas pelos mesmos vídeos e músicas asnáticas. A necessidade de pertencer a algum clubinho se torna imperativa, até os mau gostos e as vulgaridades são similares em uma sociedade que parece se entregar ao raso, ao descartável e ao cafona.
Outro dia, ao entrar no elevador, me deparei com um aviso do síndico sobre pessoas que estariam urinando nas pedras da sauna. Tive que ler duas vezes. Que tipo de animal praticaria tal selvageria? A que ponto estamos chegando como sociedade? Me parece cristalino que a humanidade caminha para trás em que pese o avanço tecnológico. E me pergunto também se esse mesmo avanço também não tem sua parcela de culpa no cenário.
O acesso a um celular e suas redes sociais deu às pessoas a possibilidade de se conectarem imediatamente ao mundo inteiro. Em suas mãos carregam um conhecimento infindável, mas o que fazem? Usam a ferramenta para fofocas, para pornografia, para o senso comum, para estultices das mais variadas, para o consumo febril, jamais para o requinte e o comedimento.
Cresci tendo que comprar livros e me dirigir com frequência à bibliotecas. Dava trabalho. Hoje não há trabalho e parece não haver interesse. O grotesco é exaltado e a beleza relativizada. É preciso haver reação de alguma forma e ela, se ocorrer, será pessoal. Uma pessoa por vez nadando contra a corrente. Sim, porque não há mal que dure para sempre. Nesse caminho em que estamos dará merda, vocês não acham? Vocês estão pressentindo?
É preciso combater a mesmice e o rasteiro. Ler ajuda muito, mas até nisso é preciso fundamento. Entendo totalmente quem se atira nos clássicos e não olha para trás. Alguns riem dessas pessoas, as taxam de arrogantes, fazem troça de sua opção, da escolha pelo passado que sobreviveu ao tempo se mantendo atual, não por saudosismo, mas por critério. Pois eu digo que se rirem, riam de volta. Isso os confundirá. Você estará à frente da curva em uma sociedade que perdeu o caminho.
A opção fora dos deveres profissionais e do ganha pão por uma misantropia calculada, talvez seja sinal de sanidade em um mundo doente. Sim, cada vez mais a Internet faz parte de nosso mundo e nos catapulta ao virtual, mas trabalho e lazer não é o mesmo que dependência. Esqueça o celular em casa. Tente jantar sem olhar para uma tela. Converse mais usando a sua VOZ. Isso aquece e o espírito e o coração.
Em determinado momento de sua vida você perceberá, talvez, que optar pela solidão de meia dúzia de reais amigos ou de sua pequena família, é mais genuíno e produtivo do que a imensidão de miragens ofertadas pelo mundo binário, onde o vício por atenção se tornou maior do que o vício por uma pedra de crack. Em troca dessa "atenção", de likes automatizados e abstratos, vale tudo. Mostrar o corpo, a comida, a doença, o choro, as intimidades que antes eram restritas a quem amávamos e confiávamos.
"Nunca conheci quem tivesse levado porrada. Todos os meus conhecidos tem sido campeões em tudo". Há mais de 100 anos Fernando Pessoa já tinha nos ensinado em "linha reta" a importância de sermos genuínos e honestos em nossas vidas, mesmo que haja um preço a se pagar.
Se rirem porque você é diferente, ria deles porque são todos iguais.
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