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Foto do escritorHP Charles

Sobre a finitude.

Nunca entendi bem a sede por poder que vejo em políticos já no fim da vida. Sempre me surpreendo com a ganância após os 70, 80 anos. Haveria uma honesta crença na imortalidade? O que motivaria tais pessoas a manterem um comportamento tão mundano e muitas vezes insensato, antiético ou por vezes até criminoso na busca de poder ou dinheiro, tão perto do fim de suas vidas?


Segundo pesquisa realizada por uma enfermeira que trabalhou em asilos e com doentes terminais, foram elencados basicamente 5 arrependimentos na maioria dos casos:


5 - Deveriam ter se permitido serem mais felizes.


4 - Deveriam mantido contato com seus amigos. Por conta do cotidiano, do desejo de sucesso e dinheiro, se afastaram das amizades mais importantes de suas vidas.


3 - Gostariam de ter tido a coragem de expressar seus sentimentos.


2 - Gostariam de não ter trabalhado tanto e passado mais tempo com a família e com as pessoas que amavam. Se ressentem das desconexões nas relações por conta de gastar a maior parte do tempo trabalhando.


1 - E finalmente o maior arrependimento. Gostariam de terem vivido uma vida mais direcionada às próprias expectativas e não as dos outros.


Como podemos ver, nenhum dos arrependimentos está relacionado a poder ou bens materiais. Não aparecem relatos do tipo..."gostaria de ter comprado aquela lancha", ou "gostaria de ter sido senador".


Todos os desejos em momentos finais se relacionam com afeto e abrigo, mesmo que próprio. Todas as vontades não realizadas abrangem sentimentos negados, mal digeridos, compartimentalizados. Coloco ainda na lista, mais um arependimento que eu mesmo vi em parentes que se foram. O desejo de ter perdoado ou terem sido perdoados. E tal sentimento se mostrou muito forte em algumas pessoas a ponto de ser o último pedido, como um condenado a morte pede a última refeição.


Sendo assim, continua sendo um mistério para mim o apego tão grande que algumas pessoas mantêm com o terreno, com as coisas que não se podem carregar no caixão. "Nunca vi carro-forte atrás de rabecão".


Todos viemos sozinhos e iremos sozinhos, e me parece que a única saída é viver com ética e dignidade, aplicando a empatia e superando os ressentimentos, de forma que nos momentos finais a nossa mochila esteja o mais vazia possível. Que ao menos sejamos lembrados como uma influência positiva por quem nos conheceu. Todo o resto parece excesso ao nos depararmos com a inelutável morte. Até lá, cumpre tentarmos melhorar nossa maneira de olhar para o mundo, para nossas relações e para nós mesmos, vivendo o mais genuína e humanamente possível. O preço ao final não precisa ser tão alto.

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