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Foto do escritorHP Charles

Sobre a monogamia.

Atualizado: 14 de jul. de 2024

Essa semana recebi a seguinte pergunta: "HP, você acredita realmente na monogamia?" Minha resposta foi que sim como um voto ou promessa e não como um desejo. Traduzindo, se você escolhe a monogamia como meta, pode controlar seus atos, mas jamais o seu desejo, vez que é algo que se consuma imediatamente no pensar.


Acredito que há uma enorme hipocrisia na questão e vou usar um exemplo clássico. Imaginemos que sua comida predileta é estrogonofe. Você simplesmente ama estrogonofe. Agora considere que você só vai poder comer estrogonofe a vida inteira. Realmente jamais vai desejar comer pizza? Assim me parece que é com a monogamia traçadas as devidas considerações comparativas.


O desejo não é algo que se suprime, o que é possível evitar é a consignação do ato, da violação do pacto monogâmico. Se a pessoa considera o desejo uma "traição" eu lamento informar que todos serão traídos em algum momento.


É evidente que a pessoa que tem ciúmes de pensamentos ou até mesmo daquela atriz de cinema que o marido acha linda, ou daquele garboso galã que a esposa eventualmente elogia, possui alguma patologia, pois são sabidamente inacessíveis. O ciumento é uma pessoa de dificil convivência, de trato estafante. Assim como o depressivo suga o afeto, o ciumento suga a felicidade alheia.


O fato é que se há o acordo de exclusividade não há que se aventar quebrá-lo pelo motivo que seja. Mas aqui cuidamos da parte que não é óbvia, ou seja, de como fica a condição do amor romântico (eros) e do desejo a longo prazo.


Como escrevi há muita hipocrisia e falso moralismo quando se toca nesse assunto. É uma questão delicada que poucos cogitam abordar com seus parceiros. Mas ela existe. Alguns dão azo a fantasias e outros acabam por se tornarem mais flexíveis a fim de minorar os efeitos do tempo na relação. Outros ainda simplesmente fogem da monogamia porque não conseguem conviver com ela, ou até porque ela não lhes é atraente. Nelson Rodrigues já dizia muitas décadas atrás que "se todos conhecessem a intimidade sexual uns dos outros, ninguém cumprimentaria ninguém".


Particularmente acredito na união, seja ela qual for, como um projeto de vida. Toda a questão sexual é pertinente aos componentes desse conluio e pode variar conforme interesses e perfis. Me parece que assim como em tantas outras áreas das relações humanas, as mudanças estão ocorrendo rapidamente e essa "negociação" de limites está ficando mais ampla.


Os jovens principalmente estendem as fronteiras das experimentações e com isso alguns valores vão sendo superados ou esquecidos. Me preocupo apenas com a velocidade, mas isso claramente não está nas mãos de ninguém. Conservadores se escandalizam e progressistas retribuem com ironias e deboches bobos e essa picuinha não adianta de nada, só podemos escolher o nosso modelo de relacionamento conforme nossa disponibilidade moral e afetiva.


Essa é uma área em que realmente procuro não fazer julgamentos pois entendo que todos estão buscando serem felizes de alguma forma. Seja com relações exclusivas e fechadas ou abertas e variadas. O importante é entender sempre as consequências e assumir a responsabilidade com a própria escolha e consciência. Sim, é a consciência que cobra ou pune em primeira instância. A traição está mais no que "deveria ter sido dito e não foi" do que no ato.


Vivemos tempos de mudanças, de quebra de paradigmas, de "poliamor" seja lá como isso funcione. Pessoas como eu resistem a tais transformações porque não convivemos com elas ao longo da vida, mas para o pessoal que chegou há menos tempo no planeta, essas experiências são absolutamente plausíveis e portanto, consideradas. A única coisa que podemos afirmar com segurança é que não há fórmulas. O resultado dessas "metamorfoses" só saberemos com o passar do tempo.

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