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Foto do escritorHP Charles

Stalking

Em livre tradução, "stalking" significa "perseguição". Em 2021, a Lei 14.132 tornou crime tal ato, consignado com a perturbação à liberdade ou privacidade da vítima. Mas esse texto não pretende fazer uma abordagem jurídica do tema, e sim ilações e reflexões sobre as questões psicológicas e emocionais que leva alguém a praticar o stalking.


Em primeiro lugar, me parece evidente que há uma porção de fraqueza ou até uma patologia em alguém que se compromete com esse tipo de comportamento. Algo similar a um vício qualquer. Afinal, despender tempo para acompanhar ou espionar alguém a fim, de certa forma, viver a vida de outro através de fantasias ou compulsões, é algo terrível.


Vejam, o stalking ultrapassa a mera curiosidade normal de se saber algo sobre alguém que lhe interessa. Não é "dar um Google" em alguém que acabou de se conhecer. Ele se torna um hábito pernicioso. O stalker cria contas fakes, avatares com fotos que não são próprias, não perde nenhum ato virtual da pessoa por quem se tornou "obcecado". Um novo vídeo, um novo stories, um novo comentário, e lá estará irremediavelmente o stalker. Ele coleta informações o tempo todo e talvez acredite que um dia terá a atenção e o reconhecimento de quem persegue.


O stalker, é acima de tudo, uma pessoa doente. Sua doença passa pela carência, pela obsessão, e pode chegar até um comportamento intrusivo e agressivo. Ele não se interessa de fato por ideias ou pelo trabalho do stalkeado, sua conexão é sempre em um nível que resvala no pessoal. No fundo, todo stalker gostaria de dividir a intimidade com seu o objeto de desejo, mesmo que assim não pareça, mesmo que ele negue.


Nunca entendi, por exemplo, seguir ou acompanhar a vida de ex-namoradas, de antigos amores. Juro. E peço desculpas adiantadas, mas não vejo "boas" razões para esse comportamento. Para mim é uma espécie de masturbação mental. O que interessa o que o ex está fazendo? Se vai bem ou se vai mal. Na verdade, acho inclusive, um pouco assustador.


O stalking é como se alguém vivesse seus dias através da vida dos outros, pensem bem. Em 2023, com todas as patologias e distorções criadas pelo universo virtual, a perseguição online parece ser algo perfeitamente aceito, relativizado ou normalizado por boa parte das pessoas. Mas imagine que essa "perseguição" fosse fora das redes sociais. Imagine que alguém ficasse do outro lado da rua, em frente a seu prédio, controlando quando você entra ou sai. A diferença está apenas na facilidade proporcionada pela internet, onde a obsessão é atendida com alguns cliques de mouse.


Sim, o stalking é reflexo, é sinal dos tempos, mas não deixa de ser algo repreensível e, acima de tudo contraproducente. Mesmo que não exista nenhuma intenção maligna, o stalker se torna escravo desse comportamento, pois seus pensamentos e atitudes ficam presos a alguém que teoricamente está alheio a ele. É uma relação de dependência unilateral que certamente adoece e deixa a pessoa cativa a uma ilusão ou ao passado.


Destarte, se você possui, mantém esse tipo de hábito ou obsessão, entenda que não é algo saudável. Saudável é seguir em frente. Para que contas fakes? Para que cuidar da vida dos outros que, na maioria das vezes, nem sabem que você existe e se sabem não se importam? Se ainda há algo a ser dito, tenha coragem e diga diretamente, e acredite, só haverá vitória nessa direção, pois teremos começos ou encerramentos, mas jamais a expectativa eterna de algo que não acontecerá.


Se você se interessa por alguém e segue todos os passos dele ou dela na internet, arrisque um contato real, verdadeiro. Se a pessoa faz parte do passado e você ainda sente sua falta, pare com esse comportamento, pois isso te deixa cativo, te impede de seguir em frente. Se é fofoca que se busca, que tal ler um livro ao invés de cuidar da vida do outro? Seja produtivo. E se, por fim, você stalkeia alguém porque aquilo se tornou um vício, por favor, procure ajuda. Corte inclusive aqueles contatos que ficam te trazendo notícias que te estimulam ao stalking. Essa pessoa não se importa com você, acredite.


Eu sei que nos dias atuais muitos te dirão abertamente e com a maior tranquilidade que criaram contas falsas e que acompanham a vida virtual de terceiros, normalizando o que não é normal ou saudável. Se te falta alguma coisa em sua existência, isso não será obtido pelo cotidiano de outros. A única ação saudável é cuidar de si, desenvolver conexões novas e produtivas e entender que seu tempo deve ser gasto com você mesmo ou com alguém que te ofereça reciprocidade.


Quando se sentir compelido a "fuçar" a vida alheia, pare por alguns segundos e se pergunte o real sentido daquilo. Se questione se aquilo é algo saudável ou recompensador de alguma forma. E então apenas não o faça. Apague aquela tentadora conta fake que possui e siga em frente, afinal. Eu te garanto que a sensação será de liberdade e leveza. Rompa o ciclo, destrua o anel. Coragem.




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