Faz pouco tempo que passei por uma depressão que me acometeu desde que minha mãe morreu. Algumas fases se passaram, me sinto bem melhor e mais produtivo a cada dia. A medicação e a atividade física ajudaram muito e o tempo vai fazendo a outra parte.
Nesse período tenho conhecido algumas pessoas que lutam uma batalha aparentemente ainda pior do que a minha. É uma luta interna que parece interminável e que consome a tudo, carne e espírito.
Uma dessas pessoas em um momento de absoluta clareza me confessou que se tivesse que dizer a pura verdade, admitiria que estava cansado. Que todos os dias se forçava a sorrir quando não queria sorrir, que falava quando não queria falar, que se alimentava quando não queria comer.
Disse que não é que desejava morrer, mas se fosse absolutamente honesto, diria que que já teve o suficiente de sofrimento. Já estava esgotado dessa batalha sem voz que travava consigo mesmo todos os dias.
Tendo passado por momentos de depressão severa, sabia que o melhor a fazer era meramente escutar, emprestar os ouvidos e o ombro. É uma fase de onde a pessoa precisa sair por vontade própria, uma etapa do processo. Um momento onde a doença o faz acreditar que os momentos ruins serão eternos e insolúveis. Não serão. Assim como os bons e felizes também não foram. Um grande ensinamento oriundo dos estoicismo é essa dicotomia. Tudo é transitório.
E ele continuou sua ardida confissão afirmando que entendia os afastamentos e sua dificuldade em entregar afeto. Que não sentia nem tristeza e nem alegria, apenas vazio. "Beto, quem quereria uma pessoa quebrada? Quem conseguiria me amar e atravessar essa escuridão comigo? Quem ficaria a meu lado se soubesse o quão destruído estou?"
Nesse momento disse a ele que existem pessoas absolutamente preparadas para isso e que se ele não as encontrasse eu me faria presente da maneira que conseguisse, pois tive amigos que fizeram o mesmo por mim. É importante que você sempre se recorde quem esteve presente e quem deixou o barco nos momentos mais difíceis de sua existência. Essa é uma oportunidade infeliz, mas genuína, para separar o joio do trigo.
É curioso, na falta de uma melhor palavra, como tais pessoas surgem em nossas vidas depois que você viveu uma situação similar. É incrível também como nos sentimos disponíveis e empáticos face a essa identificação.
Há um abissal desejo de consertar a situação, de se curar, de deter a dor e o sofrimento causado pelo trauma ou história que gera essa condição clínica.
Ao olhar para para baixo em nossa vida agitada, lutando pela sobrevivência em nossos "corres" diários, tais pessoas se tornam invisíveis e alienadas, até que chega a nossa vez. Há um enorme preconceito gerado pela ignorância com relação a depressão e seus efeitos. Mas quem a viveu sabe o tamanho do buraco e da força necessária a vencê-la. Nem todos conseguem.
Me traz uma enorme recompensa saber que estou ajudando alguém mesmo que seja apenas estando presente, disponível integralmente e genuinamente. Mesmo não sendo um profissional da área, é evidente que dividir qualquer fardo o torna mais leve.
A briga é diária e os passos são pequenos a cada dia, mas não há alternativa. Existem pessoas com o coração partido, com a alma despedaçada, que buscam desesperadamente por uma luz em um farol distante. Seja esse farol, divida sua luz, a humanidade agradece. Todos estão lutando uma batalha feroz em seu cotidiano. Alguns apenas fingem melhor.
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