Andrew Neiman (Miles Teller) é um jovem baterista em seu primeiro ano de um prestigioso conservatório americano. Ele sonha com grandeza, em ser o melhor. Escuta "Birdman" e está disposto a tudo para se tornar um músico inesquecível.
Em tal escola se depara com Terence Fletcher, um implacável professor, respeitado e temido por seus alunos. Fletcher abusa sistematicamente de seus pupilos, soltando todo o tipo de ofensas e piadas de mau gosto possíveis. Destila preconceito e xingamentos em profusão, levando ao limite técnico e psicológico todos em sua classe.
Neiman compra o desafio e decidido a surpreender o tirano, treina até suas mãos sangrarem. Abdica de qualquer vida social, rompe com a namorada, enfrenta a família em sua obsessão para se tornar o melhor baterista possível.
Ao longo do filme o duelo entre o professor sem limites e o aluno obecado vai aumentando paulatinamente, levando tensão e sentimentos contraditórios ao espectador, que se angustia com os maltratos.
Sua família parece dar pouco valor e mal compreende a empreitada de Neiman. Seu pai, um sujeito pacato e que tem em seu filho um companheiro de cinema e de pipocas com passas, assiste assustado ao comportamento cada vez mais obstinado do filho em relação a música e ao que acontece na escola.
Um incidente antes de uma apresentação leva o jovem baterista a seu limite, gerando a revolta de seu pai, que cansado de ver os despotismos e violências atiradas a Neiman, faz uma denúncia a direção do conservatório, gerando a demissão de Fletcher.
Algum tempo se passa e ambos, professor e aluno, se encontram por acaso uma noite em um bar de jazz e discorrem sobre os acontecimentos que ocasionaram o comportamento e posterior desligamento do mentor.
Fletcher então aduz a seus motivos e razões levando o espectador a uma interessante discussão filosófica acerca do que é necessário para se chegar a grandeza.
Desse encontro surge um convite inesperado para uma apresentação e Neiman, animado, se prontifica a fazer mais um show com seu temido condutor.
A fim de não dar mais spoilers, digamos que o que é reservado ao público é um final absolutamente impactante. Um duelo de almas lutado com baquetas ao invés de espadas, e que termina arrebatando a todos e nos levando a refletir sobre todas as propostas e divagações oferecidas pelo diretor ao correr da história.
Li algumas resenhas desse filme e na maior parte delas Fletcher, brilhantemente interpretado por J.K. Simmons, é visto como um inescrupuloso vilão. Uma pessoa preconceituosa e repugnante cujo maior prazer é maltratar seus alunos, enquanto o pai do rapaz é pintado como alguém doce e sensível que nada mais faz do que proteger seu amado filho dos abusos perpetrados por uma figura desprovida de empatia e afeto.
Que me desculpem os que concordam com essas análises. Penso diametralmente o oposto. Fletcher nada mais é do que um enorme muro que precisa ser transposto a fim de que Neiman se torne o que sempre quis ser por livre e espontâneo desejo. O professor então lhe atira toda a sorte de obstáculos a fim de que o jovem crie calos e entenda o preço que precisa ser pago para ser o melhor.
Nesse sentido, se há um "vilão" no filme ele é o pai de Neiman, que frequentemente o desistimula e encontra motivos para que ele a abandone a ideia de sofrer com os escrúpulos e rigores de Fletcher, que genuinamente acredita que o único caminho para a glória é o sofrimento e entrega absoluta. Enquanto o filho está disposto a escalar a maior montanha da vida, o pai tenta lhe convencer que o conforto e a mediocridade são um caminho mais razoável e mais indicado, vez que ele mesmo o seguiu.
Fica a interpretação de cada um. A única coisa que não se discute é a qualidade ímpar de um filme que assisti a primeira vez, confesso, de forma totalmente despretensiosa. É uma película que recomendo e reassisto com frequência, pois sempre me conduz a analogias com a vida e a comparações com o momento pelo qual passamos no que concerne a juventude hodierna.
Whiplash é um filme imperdível em minha opinião e se você não viu, não perca tempo. "Em Busca da Perfeição" é um sopro de luz no cinema contemporâneo, tão massacrado pela política e pelo politicamente correto. Goste ou não ele vai te fazer sentir algo, te fazer pensar, e isso é muito mais do que têm conseguido os filmes atuais.
"No idioma inglês não há duas palavras que prejudiquem tanto como “bom trabalho”".(Terence Fletcher)
A abissal maioria das pessoas não entendeu o filme.
Posso dizer que meus melhores professores foram justamente os mais temidos pela turma. Ora, uma boa espada não é feita a golpes de pluma.