Quando a sua vida atravessa mudanças e desafios rigorosos é comum acreditar que essas agruras atingem apenas a você e mais ninguém. Mas a verdade é que milhões de pessoas estão experimentando as mesmas adversidades, e as que não estão, em alguma fase da vida passarão pela mesma situação que hoje te aflige.
A sensação de imobilidade ou desnorteio é absolutamente comum em algum momento de nossas existências. Muitos fingem indiferença porque acreditam que isso os faz parecer mais fortes, outros simulam um pretenso bem estar que simplesmente é artificial perante perdas ou dores da alma.
Há uma crença de solidão no meio das vicissitudes da vida, onde a pessoa se vê presa em seus infortúnios. Isso é cada vez mais frequente em uma sociedade que aparenta regredir em relação ao progresso civilizatório que outrora conquistou.
Valores vão sendo trocados, o individualismo mais egotista é enaltecido como virtude, o consumo toma o lugar do afeto e o resultado não poderia ser outro senão a massificação dos psicotrópicos, consumidos aos borbotões.
As pessoas em sua luta pela sobrevivência se deparam diariamente com toneladas de boletos e obrigações e se já não olhavam para o lado, deixam agora também de olhar para dentro de si mesmas, se voltando para telas hipnóticas e boçais a fim de anestesiarem seus descontentamentos.
As mudanças precisam ser imediatas mesmo que prematuras, os resultados eficazes mesmo que malignos, a dor pode e deve ser engolida sem mastigar porque dia 5 vence aquela prestação. É evidente que tudo isso irá criar uma sociedade cada vez mais infeliz e doente.
E vamos vivendo esperando a quarta-feira para pedir a pizza redentora, nos esquecendo do que nos fez chegar naquele ponto, naquela encruzilhada. Vemos menos os amigos, concedemos menos tempo aos parceiros, acreditamos piamente que basta trocar o pneu quando nossos problemas estão no motor.
Depois que sai da UTI e sobrepujei as violentas interações medicamentosas, passei a olhar mais para os outros e para um mundo quase silencioso a nosso redor. Quando você percebe que realmente poderia ter morrido - que não foi apenas um susto - passa a ver o mundo de outra maneira. Ocorre uma automática reavalização de prioridades e até mesmo um "bom dia" anônimo e gratuito tem outro peso.
Você parece se conectar mais com o universo, com as pessoas na rua, compreende que sua finitude é algo real, possível, e que pode ocorrer a qualquer minuto por diversos fatores e motivos, e aí a sua própria vida passa a ser mais genuína, vez que a ideia do trabalho robótico, do consumo asnático e do "ter" como alvo primário é abandonado.
Você vive mais para SER. Compreende que se não houver uma mudança genuína e PESSOAL , não adianta trocar de cidade, de casa, de namorado, de trabalho, porque o problema que te incomoda irá te acompanhar como uma maldição.
Mas se sua transformação for verdadeira a história pode ser diferente. O tempo que você dedicou a inúmeras desnecessidades e os planos futéis para ter coisas que você achou que precisava se transformam em objetivos mais nobres como ajudar a quem carece. Aí então você ouve novamente a sua própria voz, aquela mesma que fora sufocada por você próprio e abafada por pretensões, pessoas e projetos que você jamais deveria ter valorizado.
Reconhecer o real valor das coisas lhes atribuindo um valor justo e pertinente é onde reside a verdadeira sabedoria e é o caminho para uma vida mais pródiga, autêntica e feliz.
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